Agora é definitivo: depois de dar a partida na moda dos mashups com o sucesso de “Orgulho e preconceito e zumbis”, que abriu a porta para a invasão dos clássicos da literatura por criaturas pop variadas, de monstros marinhos a robôs steampunk, Jane Austen acaba de se consagrar como a rainha incontestável da reciclagem literária brincalhona-oportunista. A coroação se dará com o lançamento pela editora americana Cleis Press, mês que vem, de Pride and prejudice: hidden lusts (“Orgulho e preconceito: prazeres ocultos”), obra erótica de uma certa Mitzi Szereto. A julgar pelos clichês “românticos” acumulados na capa, estamos no terreno daquele erotismo prêt-à-porter dos livrinhos de banca de jornal, e portanto distantes do sexo transgressivo de Sade, Bataille e Rèage, embora Szereto insinue no site do livro (que inclui um clipe chinfrim) a inclusão supostamente subversiva de alguns temperos gays. No site somos informados também de que esse é o romance que Jane Austen teria escrito “se tivesse coragem”. O estilo do material de divulgação sugere prazeres mais humorísticos que eróticos: Em “Orgulho e preconceito: prazeres ocultos”, todo o elenco de personagens do clássico de Austen é flagrado com as calças desabotoadas e as saias levantadas, numa versão recontada que…
Não é fácil a vida de um humorista – ou de um escritor com inclinação satírica, o que no caso dá no mesmo – no país da piada pronta. Em janeiro deste ano, impressionado com o número de lançamentos internacionais surgidos na esteira do arrasa-quarteirão “Orgulho e preconceito e zumbis” (aqui lançado em março pela Intrínseca), que enxerta mortos-vivos no clássico de Jane Austen, fiz um post no Todoprosa jogando algumas ideias para autores e editores brasileiros que quisessem vampirizar esse escracho do mashup, coisas como “Dom Casmurro na máquina do tempo” e “Grande sertão: aliens”. E perguntei: “Quando será que o Brasil, sempre atrasadinho, vai pular no bonde dessa vibrante forma de vanguarda literária?” A resposta teve que esperar apenas oito meses – menos que uma gestação completa. A editora Leya está lançando este mês, pelo selo Lua de Papel, quatro títulos claramente inspirados nessa tendência: “Dom Casmurro e os discos voadores”, “O alienista caçador de mutantes”, “Senhora, a bruxa” e “Escrava Isaura e o vampiro” (sei não, mas minhas sugestões pareciam melhores). A Leya leva seu lote ao mercado depois da Tarja Editorial, que atua no nicho fantástico e tem nas prateleiras “Memórias desmortas de Brás Cubas”, mas…