Duas entrevistas com o escritor britânico V.S. Naipaul publicadas por tradicionais jornalões no mesmo dia, o último sábado, são tão radicalmente opostas que o primeiro efeito do contraste não pode deixar de ser uma perplexidade cômica: qual dos dois retratos é fiel ao prêmio Nobel de Literatura de 2001? Ou seriam ambos falsos? Quando se vai além dessa primeira impressão é que começam a surgir questões interessantes sobre o jornalismo cultural. No Sabático, suplemento literário do “Estado de S.Paulo”, o enviado especial Andrei Netto encontra-se em Londres com um Naipaul “formal, mas simpático e muito gentil”. No Babelia, suplemento literário do espanhol “El País”, o correspondente Walter Oppenheimer teve sorte diferente na casa de campo do escritor, em Wiltshire: “A entrevista vai mal. Desde o primeiro instante. Não há química. O olhar de Sir Vidia destila cada vez mais impaciência, mais desprezo”. As entrevistas que eles arrancaram do autor de “A máscara da África” – relato de viagens lançado ao mesmo tempo aqui e na Espanha – são condizentes com esses inícios em chaves opostas. Com Netto, interlocutor abertamente simpático que evita até a sombra de questões espinhosas, Naipaul é paciente, loquaz, quase vulnerável (não disponível online). Com Oppenheimer, que…