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Piglia: ‘A crítica literária desapareceu do mapa’
Pelo mundo / 25/04/2011

“A crítica literária é a mais afetada pela situação atual da literatura. Desapareceu do mapa. Em seus melhores momentos – com Iuri Tinianov, Franco Fortini ou Edmund Wilson – foi uma referência na discussão pública sobre a construção do sentido em uma comunidade. Não resta nada dessa tradição. Os melhores – e mais influentes – leitores atuais são historiadores, como Carlo Ginzburg, Robert Darnton, François Hartog ou Roger Chartier. A leitura dos textos passou a ser assunto do passado ou do estudo do passado.” Como sempre, as anotações do escritor e crítico argentino Ricardo Piglia em seu “diário” no caderno Babelia do último sábado (em espanhol, acesso gratuito) sugerem mais do que explicitam. A que “situação atual da literatura” ele se refere? (Pode-se apostar que tem algo a ver com sua observação recente, no mesmo espaço, de que “só se torna artístico – e se politiza – o que caduca e está ‘atrasado’”.) Como sempre, também, Piglia dá o que pensar. Sua cartografia é só uma hipótese, claro, mas iluminaria alguns aspectos do “campo da literatura” – como o pessoal costuma dizer na universidade. Uma vez que ninguém aceita “desaparecer do mapa” de uma hora para outra, pelo menos não…

Sobre o artigo de Italo Moriconi no ‘Prosa’
Vida literária / 22/11/2010

Ao longo de três décadas, dos anos 60 aos 90, o ensino universitário da literatura desconstruiu o fetiche da “boa literatura” em nome de uma ciência/política geral dos discursos e da noção do texto como objeto do desejo estético, autorizado por disciplinas que iam desde a psicanálise e a antropologia até os marcos existenciais e estéticos de um contexto favorável ao anticonvencional, às experimentações, às vanguardas tardias ou pós-modernas, aos minimalismos antinarrativos. Tudo isso mudou. As sucessivas levas de novos escritores surgidas nos últimos anos, com algumas exceções, não têm estado nem um pouco interessadas em desconstruir o signo literário ou questionar convenções de qualquer tipo, até porque esse questionamento já se tornara ele próprio convencional e repetitivo. Elas têm se mostrado interessadas em recuperar e praticar o valor positivo do fetiche literário enquanto algo pragmático. Sobretudo estão interessadas em buscar seu público não através da mediação da academia (como ocorrera em parte no caso da geração 70) e sim na relação direta com as clássicas instituições do mercado e da vida literária extra-acadêmica. O imperdível artigo “A reinvenção do fetiche literário”, de Italo Moriconi, publicado no Prosa & Verso do último sábado, faz a necessária – ainda que tardia…