Lendo o artigo de Jojo Moyes no “Telegraph” sobre a dificuldade – ou a impossibilidade, segundo Martin Amis – de escrever boas cenas literárias de sexo, me dou conta de que o tema virou uma pequena obsessão dos ingleses. Sim, o Bad Sex Award, coberto com alguma atenção aqui no blog, tem sua graça. Mas aí veio o post de Sarah Duncan, e agora esse artigo. Será que a pauta é mesmo tão boa assim? Vamos admitir logo que a dificuldade existe e é interessante. Como escrever – ou optar por não escrever – o que acontece quando dois personagens, fazendo avançar a narrativa, resolvem transar sempre foi uma questão relevante e talvez seja especialmente escorregadia para o escritor de hoje. As fórmulas que um dia funcionaram tendem a nos soar canhestras, tudo resvala perigosamente no clichê. As decisões a tomar por linha são mais numerosas do que o habitual e cada uma contém seus riscos. Nomear, por exemplo, os órgãos sexuais, as ações? Usar termos técnicos ou chulos? Ou quem sabe poéticos, derivativos e metafóricos, em busca de um certo clima? Com a irresponsabilidade dos chutadores, mas sem muita dúvida de acertar o gol, eu diria que a literatura…
Falar sobre literatura não tem nada a ver com escrever, da mesma forma que ouvir escritores falando sobre literatura passa muito longe da experiência de ler. Eis o drama ou o pecado de origem de qualquer evento como a Flip: o que há de mais importante ou vital no objeto que se propõe celebrar sempre escapa entre os dedos. O que não é novidade nenhuma. Mas às vezes ocorre um caso como o da mesa “Fábulas contemporâneas”, hoje à tarde: mais na forma que no conteúdo de suas falas, Reinaldo Moraes (“Pornopopeia”), Ronaldo Correia de Brito (“Galileia”) e Beatriz Bracher (“Antonio”) conseguiram dar a uma plateia menos que lotada uma boa ideia do trabalho de cada um. Reinaldo foi a presença mais engraçada e provocadora, Ronaldo a mais solene e “literária”, Beatriz a mais tímida e tateante. A homogeneidade nunca foi o forte da “mesa dos autores brasileiros” da Flip (sim, trata-se de política de cotas mesmo), que rola sempre às quintas-feiras, mas esta foi especialmente heterogênea. No papel de mediadora, a crítica Cristiane Costa fez o possível para encontrar um fio que desse coesão ao trio. E encontrou uma fórmula engenhosa: a de que os três autores a seu…