Como sabe quem costuma aparecer por aqui, elas são um fetiche assumido do Todoprosa: aí vai uma inusitada coleção de fotos eróticas de priscas eras (mais inocentes que a novela das nove, mas vale o alerta) que juntam mulheres e… máquinas de escrever! * É um belo trabalho jornalístico esta entrevista de Rinaldo Gama, Ubiratan Brasil e Maria Fernanda Rodrigues com o editor Sérgio Machado, da Record, que saiu no último Sabático. O chefão da megaempresa aparece de corpo inteiro, mais interessado no “negócio livro” do que no conteúdo dos livros, o claro junto com o escuro, o que explica muita coisa. Só acho injusto que se demonize o homem por contar o episódio – de resto já sabido – da falsa tradução de Nelson Rodrigues para Harold Robbins. Deixa-se de levar em conta que tal tipo de trapaça com o leitor era visto como benigno e foi característico de certo estágio condescendente da indústria cultural do século 20 – veja-se o horóscopo falso, por exemplo, inventado do início ao fim por leigos absolutos, que muitas publicações de respeito cultivaram. É evidente que não cabe mais esse tipo de coisa, o mundo mudou, a ética ficou menos elástica. Mas convém…
Duas entrevistas com o escritor britânico V.S. Naipaul publicadas por tradicionais jornalões no mesmo dia, o último sábado, são tão radicalmente opostas que o primeiro efeito do contraste não pode deixar de ser uma perplexidade cômica: qual dos dois retratos é fiel ao prêmio Nobel de Literatura de 2001? Ou seriam ambos falsos? Quando se vai além dessa primeira impressão é que começam a surgir questões interessantes sobre o jornalismo cultural. No Sabático, suplemento literário do “Estado de S.Paulo”, o enviado especial Andrei Netto encontra-se em Londres com um Naipaul “formal, mas simpático e muito gentil”. No Babelia, suplemento literário do espanhol “El País”, o correspondente Walter Oppenheimer teve sorte diferente na casa de campo do escritor, em Wiltshire: “A entrevista vai mal. Desde o primeiro instante. Não há química. O olhar de Sir Vidia destila cada vez mais impaciência, mais desprezo”. As entrevistas que eles arrancaram do autor de “A máscara da África” – relato de viagens lançado ao mesmo tempo aqui e na Espanha – são condizentes com esses inícios em chaves opostas. Com Netto, interlocutor abertamente simpático que evita até a sombra de questões espinhosas, Naipaul é paciente, loquaz, quase vulnerável (não disponível online). Com Oppenheimer, que…
A notícia de que o tradicional jornal econômico americano “The Wall Street Journal” vai lançar dentro de poucas semanas um suplemento literário, publicada ontem no “New York Times” (acesso livre aqui, mediante cadastro), pode ser lida como a exceção meio bizarra que confirma uma regra ou, quem sabe, como um indício de que o apocalipse do jornalismo tradicional de literatura foi apregoado com alguma precipitação. Se considerarmos que um movimento semelhante foi feito em março deste ano no âmbito doméstico pelo “Estado de S. Paulo” ao lançar o caderno Sabático, a segunda opção parece ganhar força. Mas convém não esquecer que, pelo menos desde o início de 2007, o alarme vem sendo disparado por escritores e editores no mercado dos EUA, sempre com excelentes razões: um jornal após o outro passou a extinguir seus cadernos de resenhas, a ponto de hoje, segundo o NYT, só restarem ele próprio e o “San Francisco Chronicle” como jornalões que ainda resistem a fundir a crítica literária à geleia geral da cobertura de assuntos culturais. Por aqui, uma perda recentíssima é a do tradicional Ideias do “Jornal do Brasil”, com a diferença de que não houve nesse caso uma decisão editorial: o caderno afundou…