Clique para visitar a página do escritor.
Combinado: depois das baleias, a gente salva o Updike!
Pelo mundo , Vida literária / 12/03/2012

O ensaio do crítico americano Lee Siegel no décimo número da revista “serrote”, chamado John Updike ou A desimportância de ser sério, tem duas partes instigantes que, no entanto, não se encaixam muito bem. Ambas – e sua (des)conexão – vão comentadas abaixo. Na primeira parte Siegel defende John Updike (foto, 1932-2009) do que considera uma campanha sórdida – nem tão nova, mas acelerada à medida que sua vida se aproximava do fim – para desmoralizar um dos grandes escritores americanos da segunda metade do século 20. Os maiores inimigos de Updike seriam, pela ordem, o crítico James Wood e o escritor David Foster Wallace, mas o complô acabaria envolvendo Harold Bloom e a própria revista “New Yorker” em que Updike se consagrou – e que mesmo involuntariamente, nothing personal, teria aplicado no criador de Coelho Angstrom um golpe duro ao contratar Wood. O ensaísta é galhardo e até valente em sua defesa crítica de um escritor de inegáveis méritos, prolífico e generoso, que de alguma forma tornou-se uncool e anda necessitado de defesa em seu país. Deixa a sensação de que poderia ter feito um trabalho melhor em demonstrar por que Updike é importante, como eu acredito que seja…

Pamuk na ‘Serrote’: o romance como ato de fé
Vida literária / 17/06/2011

A convicção de que o romance tem um centro faz sentir que um detalhe supostamente irrelevante pode ser substancial e que o significado de tudo que está na superfície pode ser bem diferente. Romances são narrativas abertas a sentimentos de culpa, paranoia e ansiedade. A sensação de profundidade que nos dá a leitura de um romance, a ilusão de que o livro nos faz mergulhar num universo tridimensional, vem da presenca do centro, seja ela real ou imaginária. O que basicamente separa um romance de um poema épico, ou de uma tradicional narrativa de aventura, é a ideia do centro. Romances apresentam personagens bem mais complexos que os de poemas épicos; focalizam pessoas comuns e exploram todos os aspectos da vida diária. Mas devem essas qualidades e esses poderes à presenca de um centro em algum lugar ao fundo da cena e ao fato de lermos com essa esperança. Como os romances revelam detalhes triviais da vida e nossas pequenas fantasias, hábitos diários e objetos familiares, o leitor lê com curiosidade – a rigor, com assombro –, sabendo que tudo aponta para um sentido mais profundo, para um propósito em algum lugar ao fundo da cena. Cada característica da paisagem…

24 horas de literatura e outros passatempos
Pelo mundo / 18/04/2011

Você já ouviu falar de The clock, o filme (ou vídeo-instalação?) de Christian Marclay que faz uma colagem em ordem cronológica, com 24 horas de duração, de cenas de filmes em que aparecem relógios? Uma boa apresentação é esta crítica da escritora Zadie Smith para “The New York Review of Books”, que, além de ridiculamente bem escrita, é de uma empolgação inédita no jornalismo cultural dos últimos 30 ou 40 anos: ela diz que The clock é “sublime, talvez o melhor filme que você já viu”. O pessoal do blog de livros do “Guardian” também deve ter se apaixonado, porque está pedindo ajuda aos leitores para repetir o esquema no mundo das letras, com retalhos literários no lugar dos cinematográficos. Será que alguém com tempo à beça de sobra se habilita? * “As feiras de livro estão mais para feira do que para livro, e para os que têm medo do mundo digital, dos livros eletrônicos, eu sugiro: assustem-se primeiro com os grandes eventos, como os que acontecem aqui [em Londres] e em Frankfurt. Preocupem-se se ainda haverá boa literatura com tanta competição e sem o necessário tempo para se escrever, ler e editar.” Falando só por mim, claro, esse…

Quer odiar literatura? Estude Letras
Vida literária / 06/04/2011

Outra questão que eu acho muito grave é que os cursos de Letras rejeitam a Literatura e rejeitam aquele que faz literatura. Mais facilmente um autor sai de qualquer outro curso do que de um curso de Letras. O estudo de literatura é absolutamente culpado pela esterilização da literatura, pela incompetência do autor literário e inclusive pelo leitor e pelo mercado. A verdade é que é muito difícil um jovem interessado em literatura passar num vestibular para Letras e sair dali gostando de literatura. Isso é o que eu acho mais lastimável entre nós. Essa realmente é a nossa grande falência. As palavras de Beatriz Rezende, crítica literária formada e ainda abrigada na universidade (é coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro), não trazem novidade para quem tem alguma vivência nesse campo, mas são marcantes pela contundência e pela clareza com que expressam um fenômeno esquisito que parece exclusivo das letras: não consta que cursos de teatro, cinema, arquitetura, artes visuais ou dança fomentem de forma sistemática o desprezo por seu objeto de estudo. (É isso mesmo, aspirantes a letrados de todo o Brasil: na hora de escolher um curso universitário, talvez não…