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Woolf, Sábato, Mitchell e eu: uma sexta cheia de links
Vida literária / 01/07/2011

Em 1927, num debate transmitido pelo rádio, perguntaram a Virginia Woolf se não estavam sendo escritos e publicados livros demais – sim, já naquele tempo. A resposta da autora de “Orlando” foi espirituosa: “Por que não publicar a primeira edição em algum material perecível que se desfaça num montinho de pó perfeitamente asseado no prazo de seis meses? Se uma segunda edição fosse necessária, esta sim poderia ser impressa em papel bom, com boa encadernação… Não se desperdiçaria espaço e não se acumularia lixo”. A mordaz profecia finalmente pode se cumprir, e com evidentes vantagens sobre o “montinho de pó”, na era digital. Mais sobre Woolf, a crítica literária, em inglês, aqui. * “Um homem pode fugir e não ser um covarde, pode abandonar um movimento e não ser um traidor, pode matar e não ser um criminoso.” O “Babelia” publicou um fragmento inédito de La fuente muda, romance que Ernesto Sábato abandonou. O escritor argentino, que morreu no último 30 de abril, teria completado cem anos há uma semana. * “Esse livro de ensaios é na verdade divertido – e isso é algo que eu fico muito surpreso de escrever sobre teoria literária.” No blog do “Guardian”, Sam Jordison…

‘Como funciona a ficção’: quem disse que a literatura morreu?
Resenha / 11/03/2011

Se tivermos sorte, e bota sorte nisso, o livro “Como funciona a ficção” (Cosac Naify, tradução de Denise Bottmann, 232 páginas, R$ 49,00), lançado em 2008 pelo crítico inglês James Wood, cairá entre nós como uma bomba de efeito moral. Claro que esta é só uma frase de efeito (moral?) e que um simples volume de crítica literária dificilmente provocará tal estrago. Isso não altera o fato de que, num mundo ideal, seria de esperar que depois dele uma série de personagens que atravancam nossa vida literária saíssem correndo em busca de abrigo, do pequeno resenhista movido por cordialidades buarquianas ao crítico acadêmico adestrado por décadas de teoria e estudos culturais para odiar tudo o que cheire a literatura. Simpatizemos ou não com suas idiossincrasias (eu simpatizo com algumas delas), Wood é tão apaixonado pela coisa que não se furta a cair no pasmo boquiaberto diante de certa tirada poética de Virginia Woolf no romance “As ondas”: “Sinto-me mortificado com essa frase; um pouco porque não consigo explicar de jeito nenhum por que ela me comove tanto”. Nessa cândida confissão de impotência reside, paradoxalmente, o maior poder de “Como funciona a ficção”. Egresso da crítica literária jornalística, que exerceu por…

O mais novo Brinquedo Literário-Digital
Pelo mundo / 11/08/2010

Um programa desenvolvido pela The Open University britânica é o espécime mais recente – e um dos mais elaborados, além de visualmente atraente – de um novo animal na floresta das conversas sobre literatura. Trata-se de uma espécie ainda sem nome, até onde sei, mas a falta não parece ser um problema, uma vez que quase todo dia nasce uma criatura nova. Enquanto não vem o batismo, poderíamos chamar o bicho de Brinquedo Literário-Digital. 20th century writers: making the connections (“Escritores do século 20: fazendo as conexôes”) é um complexo infográfico que apresenta uma lista de autores britânicos sentados em círculo, como ao redor de uma távola redonda, e rabisca na tela a partir de cada um, a um clique do mouse, um emaranhado multicolorido de linhas que apontam temas comuns, relações de amizade ou inimizade, formação, gêneros que praticaram etc. O exemplo acima, meramente ilustrativo (clicar nele vai apenas ampliá-lo, mas a brincadeira pode ser acessada aqui), liga Graham Greene ao resto da turma. Assim ficamos sabendo que ele brigou com Virginia Woolf, era amigo de Ian Fleming, compartilhou com G.K. Chesterton tanto o gênero policial quanto a formação de jornalista, dividiu com Anthony Burgess o tema do pós-colonialismo…

Bom-mocismo nas letras
Vida literária / 02/07/2010

O post de hoje é um texto longo – longuíssimo, para os padrões da internet. Foi publicado em maio na revista “Veja Especial Mulher”, que retomou o fio de uma edição de 1967 – apreendida por ordem do Juizado de Menores – da extinta “Realidade” para investigar quatro décadas de mudanças na situação da mulher na sociedade brasileira. No caso das letras, a parte que me coube, a pauta acabou virando uma reflexão sobre o tratamento do sexo na literatura, tanto a feminina quanto a masculina. Assunto de Todoprosa, portanto. Então lá vai. * “Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos.” O grito de guerra de uma personagem de Lygia Fagundes Telles no romance “As meninas”, de 1973, ecoou em milhares de “quartos só delas” – aquilo que a escritora inglesa Virginia Woolf, em um célebre ensaio de 1929, declarou ser fundamental para que as mulheres pudessem escrever, isolando-se dos outros papéis sociais que a sociedade lhes impunha. Por trás de suas portas fechadas, enquanto soprava na janela a ventania do feminismo, as escritoras brasileiras lançaram-se nas últimas quatro décadas à tarefa de contrapor sua própria voz a…