Duas entrevistas com o escritor britânico V.S. Naipaul publicadas por tradicionais jornalões no mesmo dia, o último sábado, são tão radicalmente opostas que o primeiro efeito do contraste não pode deixar de ser uma perplexidade cômica: qual dos dois retratos é fiel ao prêmio Nobel de Literatura de 2001? Ou seriam ambos falsos? Quando se vai além dessa primeira impressão é que começam a surgir questões interessantes sobre o jornalismo cultural. No Sabático, suplemento literário do “Estado de S.Paulo”, o enviado especial Andrei Netto encontra-se em Londres com um Naipaul “formal, mas simpático e muito gentil”. No Babelia, suplemento literário do espanhol “El País”, o correspondente Walter Oppenheimer teve sorte diferente na casa de campo do escritor, em Wiltshire: “A entrevista vai mal. Desde o primeiro instante. Não há química. O olhar de Sir Vidia destila cada vez mais impaciência, mais desprezo”. As entrevistas que eles arrancaram do autor de “A máscara da África” – relato de viagens lançado ao mesmo tempo aqui e na Espanha – são condizentes com esses inícios em chaves opostas. Com Netto, interlocutor abertamente simpático que evita até a sombra de questões espinhosas, Naipaul é paciente, loquaz, quase vulnerável (não disponível online). Com Oppenheimer, que…
Tenho o prazer de informar que os leitores deste blog se desincumbiram gloriosamente mal da tarefa de adivinhar o sexo dos escritores a partir de pequenos trechos de sua prosa, na brincadeira proposta aqui sexta-feira passada. Naturalmente, era essa mesmo a ideia: demonstrar a estupidez de uma declaração de VS Naipaul sobre o suposto abismo (de qualidade, ainda por cima) que separa homens e mulheres na hora de escrever. Num universo de 293 participantes, a resposta certa – “mulher, homem, homem, mulher” – foi apenas a quarta mais votada, com 14% das preferências. Mais interessante do que isso foi o fato de a resposta campeã, que levou 33% dos votos, ter sido “homem, mulher, mulher, homem”, que é simplesmente a mais errada de todas – o negativo perfeito da correta. O resultado completo ficou assim: . [poll id=”21″] . Vamos aos autores: O trecho 1 foi extraído do bom romance “Esperando Zilanda”, da autora estreante Tamara Sender. O 2 é a abertura do conto O rapaz mais triste do mundo, do livro “Os dragões não conhecem o paraíso”, de Caio Fernando Abreu. O 3 saiu do romance “Olhos secos”, de Bernardo Ajzenberg. O 4 faz parte do romance “As pernas…
Será que o sexo de um autor, além de inscrito em seus genes, também sai impresso na página entre vírgulas e verbos, de forma inconsciente e sem que ele possa fazer nada para evitar? A discussão, notoriamente inconclusiva, é velhinha, mas acaba de pegar fogo como nunca na Inglaterra. Tudo começou com uma declaração repulsiva dada esta semana por VS Naipaul (foto), prêmio Nobel de Literatura em 2001: a de que não vê nenhuma mulher na história da literatura que possa rivalizar com ele. “Não são minhas iguais”, disse. E, numa tentativa de demonstrar que sua tese não era apenas fruto de um cruzamento teratológico de misoginia com egolatria, acrescentou: “Leio um trecho e, em um parágrafo ou dois, sei se é de uma mulher ou não”. Hmm, sei. O “Guardian” aproveitou a deixa para bolar um certo “teste Naipaul”, pedindo aos leitores que identifiquem o sexo dos autores de alguns trechos literários. É o que estou imitando descaradamente aqui com quatro autores brasileiros, dois de cada sexo. O resultado sai na semana que vem. 1. Eu disse que ateus e crentes fazem parte do mesmo grupo. Todos acreditam em algo. Todos podem dormir e roncar tranquilos, amparados no estofado…