O mais famoso ensaio do pensador alemão Walter Benjamin, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, pode ter algo a nos dizer sobre este momento em que o povo do livro se divide em tribos, todas em pé de guerra, diante do avanço do livro digital. Há os que acham que o livro de papel logo estará extinto – entre estes, uns festejam, outros choram – e há os que apostam a reputação em sua eternidade, dividindo-se, por sua vez, entre moderados que acreditam numa partilha do mercado e radicais que zombam dos e-books como fogo de palha ou frescura para poucos. Penso em Benjamin enquanto folheio – e desfolho, e desdobro, entre outros verbos que não me ocorrem agora – o recém-lançado “Pelé – Minha vida em imagens” (Cosac Naify, tradução de Bernardo Ajzenberg, R$ 140,00). E se à “aura” da obra de arte original, única, sobre a qual Benjamin teorizava no ensaio de 1936, corresponder em nossa era de reprodutibilidade digital uma aura, não mais de coisa original, mas de coisa-coisa, material, tangível? Nada a ver com a turma que suspira por aí pelo “cheiro do papel”. O apelo sensorial aqui vai muito além do…