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Houaiss, Shakespeare e outros crimes
Pelo mundo , Vida literária / 02/03/2012

Envergonhado com a ação do procurador de Uberlândia contra o dicionário Houaiss, por suposto crime de racismo numa das acepções do verbete “cigano” (verbete que, por via das dúvidas, já foi tirado do ar na versão online do dicionário, tornando o caso ainda mais deprimente)? Console-se pensando no estado americano do Arizona, onde uma campanha de extremistas de direita do Tea Party contra os “estudos étnicos” na rede educacional acaba de botar na lista negra, entre outros autores, um tal de William Shakespeare. * O escritor Michel Laub esqueceu a reverência no banco do táxi, pegou a crônica A um jovem, de Carlos Drummond de Andrade – publicada no livro “A bolsa & a vida”, de 1962 – e editou os 31 conselhos literários que o poeta dá a um certo Alípio para transformá-los num decalogozinho mais ao gosto da era digital. O resultado contém alguns toques de atualidade perfurocortante: Se sentir propensão para o ‘gang’ literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio. * Jonathan Franzen está sendo – de novo – bombardeado por acusações de misoginia, desta vez devido às…

Está provado: a literatura muda o mundo
Pelo mundo / 20/05/2011

É um lugar-comum dos últimos cento e tantos anos, inclusive ou sobretudo entre escritores, reconhecer que a literatura não tem o poder de transformar a realidade e que sua relevância, se houver, deve ser buscada apenas dentro do círculo simbólico que ela instaura, e só enquanto o instaura. Uma relevância virtual, portanto. O impacto sobre a consciência do leitor individual, e olhe lá, seria o máximo a que uma obra literária tem o direito de aspirar, e mesmo esse impacto estaria restrito ao campo das iluminações efêmeras, raramente capazes de influenciar as ações do tal leitor no mundo. Papo furado. As provas de que a literatura, como qualquer construção simbólica, interfere na chamada realidade concreta estão por toda parte. O erro é imaginar que esse impacto teria que se dar de forma previsível, programada, como acreditavam por exemplo os (será que ainda existentes?) cultores da ficção politicamente engajada. Os efeitos são sempre imprevisíveis. É possível que Jorge Amado não tenha conquistado um único leitor para a causa stalinista com seus panfletários romances da série “Subterrâneos da liberdade”. Já o impacto de Gabriela e Dona Flor sobre as carreiras de Sônia Braga e Bruno Barreto foi monumental, para não mencionar a…