Anda quente a temporada de quebra-paus literários.
Primeiro foi a mãe de Michel Houellebecq, a senhora Lucie Ceccaldi, que decidiu se vingar do retrato ultrajante que o filho traça dela – sem sequer alterar seu nome – na hippie hedonista de “Partículas elementares”. Em sua recém-publicada autobiografia, “L’Innocente”, a encantadora velhinha de 83 anos promete, segundo o blog da revista “New Yorker”, ir às vias de fato: “Se ele puser meu nome outra vez em uma das suas coisas, vai levar uma bengalada na cara que lhe quebrará os dentes, isso eu garanto!”.
Mais educados, Salman Rushdie e a crítica Ruth Morse têm trocado insultos polidos ou nem tanto (em que categoria se encaixa “ataque feminista primitivo”?) na seção de cartas – aqui e aqui – do “Times Literary Supplement”. Tudo começou com a resenha negativa que ela publicou sobre o último livro de Rushdie, “The enchantress of Florence”.
Para não deixar o Brasil fora dessa, Marcelo Mirisola publica hoje um artigo desancando o psicanalista Contardo Calligaris, que na semana passada, em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, fez aquilo que o intelectual Carlos Maçaranduba chamaria de “duvidar da masculinidade” de Ernest Hemingway. “Almanaque de psicanálise para analfabetos iniciantes”, sentencia Mirisola.
Polêmicas vãs, argumentará o leitor cansado dessas manifestações de som e fúria, quase sempre encenadas diante de uma platéia bocejante. Difícil discordar. Só desconfio que seja uma idealização do passado imaginar que as polêmicas literárias foram mais elevadas um dia.
28 Comentários
Foram mais elevadas, um dia? Duvido…
Ah, as polêmicas foram mais elevadas, sim. Hoje, o sujeito que critica não se preocupa ao menos em escrever bem. Rebater o texto do Calligaris a partir de uma visão particular é um direito do Mirisola. Mas rebatê-lo usando mau português é feio, né? Há dois erros só na frase inicial (“O psicanalista, e agora romancista Contardo Calligaris, escreve todas às quintas-feiras no jornal Folha de S. Paulo.) Fora a pobreza de estilo (“Já o filho e o neto do escritor…”) Abraço, Gabriela
Acho que não eram mais elevadas, e sim mais divertidas – penso no sopapo que García Márquez levou de Vargas Llosa. Acho que bem que o Houellebecq poderia levar uma bengalada da mãe.
Se todos tivessem uma mãe como a de Rimbaud talvez não escrevessem tanta inutilidades…
Creio que a briga é provocada pela decadencia da imprensa escrita diante da mídia televisiva acionada pela comunicação audível e a Internet ao dispor de todos atraveza de blogs e sites. No Brasil e no mundo há desinteresse pela verdadeira imprensa. Jornais e revistas se alimentam de escandalos, prato preferido pela maioria de leitores.
Mesmo com brigas e provocação de escandalos, polemicas, etc. nada fará a imprensa se levantar.
É o progresso da frivolidade.
Saudades do velho Bukowski… hoje o que temos? Brigas teatrais… e o resultado disso? virá no número de vendas… mas como o velho safado dizia lá nos Estados que nunca foram Unidos, faz do problema dilema; “o único direito que temos hoje é o de compra e venda”. Infelizmente o termo se aplica de maneira global.
Trecho entre aspas acima: “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, de Charles Bukowski.
Creio que não foram não… Parece-me que todas essas polêmicas literárias exacerbdas são demonstrações de testorena e flexão de músculos de quem na escola era fracote demais ou desajeitado demais para sair no braço…
Sérgio,
a discussão entre o Mirisola e o Caligaris, não tem nada de literária. A Polêmica fica retrita à vida privada de um jogador de futebol, um escritor e do próprio psicanalista.
Platéia bocejante. Não acabei de ler nenhum dos dois, e olha que eu sou daqueles que até rótulo de Maizena.
A nossa atual sociedade está em transição, e na questão sexual surgiram varios generos, esta dificil hoje definir quem é homem, quem é mulher, quem é branco quem é negro ou coisa assim as coisasa são estaão bem complicadas, tudo é transição e é preciso respeito, os escritores precisam viver esses novos tempo.
adoro o comentário acima!
Adorei o texto do Mirisola! Ele é muito bom! Acho extremamente coerente tudo o que ele falou (com ou sem errinhos de português).
Esse Contardo Calligaris é mais um espertalhão que se aproveitou do fato de ter se tornado um darlingzinho da inteligência burra nacional pra faturar unzinho escrevendo artigos opiniáticos sobre tudo & todos no jornal e, agora, dando um passo além, publicando um livro (todo membro da elite quer publciar um livro; dá um lustro, sabecomé? Se for pelo Clubinho Cia. das Letras, melhor). Acho que vou abrir o meu consultório psicanalítico.
Parabéns, Mirisola! Vale a pena citar: “Literatura NÃO é sintoma” Dr. Calligaris! Volte para o seu gabinete e tranque-se lá. A literatura agradece.
Gostei do cara do rótulo de maisena. Sou desse tipo, e também não perco tempo com “polêmicas Maçarandubescas” infelizmente muito presentes nos dias de hoje. O blogueiro se atém ao novo acontecimento literário. Mas o interesse das pessoas e da mídia no caso Ronaldinho não tem a mesma raiz??? (Sem trocadilho, por favor…)
Meu comentário sumiu…
Mas vou resumir: sobram editoras onde falta autocrítica.
ZZZZ…..
Sérgio, como vc está bonito nessas fotos (capa e perfil)!! Os anos estão lhe fazendo muito bem!
Bom, agora vou ver os links do post!
beijocas!
Cris
Cris, querida, não na frente das visitas…
Bom ver que você continua na área.
Beijo e não suma.
VC É UM BOM ESCRITO………
oi sergio,
voce tambem é músico com o markus f.?
bons comentarios
bjs
teve quem criticasse, mas o engraçado é que enquanto eu lia, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: como escreve bem esse Mirisola… polêmico ou não, ele é que deveria estar na Folha, e em página nobre. e por falar em inteligência brasileira… melhor deixar pra lá.
Chatíssimo esse texto do Mirisola. Não tive paciência de terminar a leitura, mas, a julgar pelo que li, não há nada de propriamente literário nessa discussão.
não acho que foi a coluna mais brilhante do contardo, bem pior no entando foi o texto do Mirisola
projeção introspectiva à parte…so nao consigo perceber exatamente onde esta a polêmica “literária”
Tamara e Gustavo: qualidade da discussão à parte, acho bastante razoável chamar de literária uma polêmica em que se defrontam um psicanalista-ficcionista e um ficcionista em tempo integral, a respeito do que pode haver de psicanaliticamente bandeiroso (literatura é sintoma?) no texto de um dos escritores mais famosos do século 20. Me parece mil vezes mais literário do que o arranca-rabo na família Houellebecq, por exemplo.
é divertido ou patético quando literatos calçam luvas de boxes?
Fico com o Mirisola (e o cara escreve bem, sim). Também não entendo essa mania que alguns biógrafos de escritores têm de insinuar homossexualidades. Nada contra a homossexualidade, não me entendam mal. Só que uma coisa é saber que Rimbaud era gay, baseando-se em namoros e manifestações públicas. Outra é cogitar que Thomas Mann ou Dostoievski gostavam de homens porque mantinham boa relação com ou admiravam outros homens. Pode até ser que eles fossem, mas isso é forçar a barra, como é forçar a barra decretar que Hemingway era gay por ser macho demais. E a polêmica é literária, sim. Como diria uma professora, aliás, é “fofoca literária”, e faz parte do jogo.
Polêmicas são boas quando envolvem gente interessante. A resposta do amigo do Khomeini, por exemplo, com aquela polidez raivosa, foi divertida, e como a digníssima crítica passou recibo de equívocos em seu texto, como o tal construtor do Taj Mahal, acho que ele ganhou a parada. Mas uma polêmica entre Mirisola e esse Calligaris, realmente, dá sono. E não, não tenho a menor saudade do ‘velho Bukowski’.
Acho que o Mirisola tá é com dor de cotovelo porque, segundo o Alexandre Inagaki, o Contardo é o novo Chico Buarque (no sentido de fazer sucesso unânime com a mulherada) 🙂
PS: o que posso fazer se agora só encontro vc na frente das visitas? 🙂