Eis aqui uma lição de texto criativo.
Primeira regra: Não usem ponto-e-vírgulas. São travestis hermafroditas que não representam absolutamente nada. Tudo o que fazem é mostrar que você esteve na universidade.
Percebo que alguns de vocês têm problemas para decidir se estou brincando ou não. Por isso, a partir de agora, vou lhes dizer quando estiver brincando.
Por exemplo, ingressem na Guarda Nacional ou nos Fuzileiros Navais e ensinem a democracia. Estou brincando.
Estamos para ser atacados pela al-Qaeda. Acenem bandeiras, se as tiverem. Isto sempre parece afugentá-los. Estou brincando.
Se querem realmente magoar seus pais e não têm coragem de se tornar gays, o mínimo que podem fazer é entrar para as artes. Não estou brincando.
O livro “Um homem sem pátria” (Record, tradução de Roberto Muggiati, 160 páginas, R$ 34,90), coletânea de artigos e crônicas lançada nos EUA ano passado, mostra que o humor extravagante e o verbo afiado de Kurt Vonnegut continuam sendo páreo para Philip Marlowe – mas este era um personagem fictício. E olha que o homem está com 84 anos.
Autor de pelo menos uma obra-prima incontornável da ficção americana no século XX, “Matadouro 5” (hoje mais fácil de encontrar por aqui numa edição de bolso da L&PM), Vonnegut sempre ajuda a arejar o ambiente.
8 Comentários
Você tem bom gosto.
sergio, alem do matadouro, cama de gato é imperdível. vonnegut é um craque em mostrar nós, homens e nossas bobagens. até as do amor. paulo francis dizia que em vez de ir a uma universidade se lesse os livros do kurt, o cidadão estava bem arranjado. eu assino embaixo.
well,well,well….Vonnegut é um pândego sem remorso.
Estou doido pra ler esse livro. E sem $$ pra comprá-lo.
Essas dicas são sempre a mesma coisa. Um diz “não use ponto e vírgula”. Outro diz: “não use reticências” (esse das reticências ainda com pletou com: são poucos os que eu deixo usar reticências. Só o Manuel Bandeira e mais dois ou três (!!!).)
Que mania! Vamos usar o que quisermos, bolas.
Ósverni, o que você precisa entender é que ninguém está cagando regra. Ele tem o direito de dizer o que quiser e você de discordar.
Sérgio Rodrigues, gosto muito do seu espaço. Parabéns.
Li e gostei.
Viver muito, permanecer lúcido e ser um bom escritor é como alinhamento de planetas: raro e, diversamente do fenômeno celeste, pode de fato influenciar nossas vidas.
Afiado como um bisturi, mas aquele de um cirurgião plástico que ataca imperfeições porque antevê a beleza.
Leitura mais que oportuna; uma voz dissonante em sua harmonia (não resisti ao ponto e vírgula – rs rs).