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Tony Rocco – cuidado com esse nome

17/11/2006

A lição não está no curso de Raimundo Carrero (veja nota abaixo) ou em qualquer outro: escritores devem ter cautela ao batizar personagens, especialmente os vilanescos. Em seu romance policial Johnny come home, lançado este ano, o inglês Jake Arnott imaginou um ex-cantor de big band e atual gângster chamado Tony Rocco. Foi processado por danos morais por um ex-cantor de big band – e, parece, atual cidadão de bem – chamado… adivinhou, Tony Rocco. Derrota para autor e editora, sem muito papo. Não há chance para a defesa em casos assim.

A notícia inspira um artigo bem-humorado de John Sutherland no “Guardian” de hoje – acesso livre aqui, em inglês – sobre os riscos do batismo de personagens e as formas como diversos autores lidaram com o problema ao longo da história. Em nossas oficinas de literatura, o máximo que se costuma adiantar nesse terreno é a recomendação de evitar que nomes semelhantes se embaralhem numa mesma trama: nada de José Carlos disputando namoradas com seu amigo João Carlos – a menos, claro, que a idéia seja confundir o leitor irremediavelmente.

Com a indústria dos danos morais em franca expansão no mundo inteiro, pode ter chegado a hora de levar o tema a sério. Por mais que uma apoteose do clichê mafioso como “Tony Rocco” sugira que, pelo menos nesse caso, o escritor mereceu.

8 Comentários

  • O Cara 17/11/2006em13:45

    E o Rocco ator de filme pornô, achou o que?

  • Guilherme 17/11/2006em13:51

    Não basta colocar “Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, fatos, lugares terá sido mera coincidência”

  • Daniel Brazil 17/11/2006em18:38

    Lembro de ter visto uma mulher chamada Tieta sendo entrevistada na TV, na época do lançamento do romance de Jorge Amado.
    Ela estava toda encantada por ter o nome na capa de um livro. Ainda não havia lido…

  • Charlotte Ebenezer 17/11/2006em19:58

    Droga. Preciso arrumar um nome mais comum.

  • Alexandre Costa 17/11/2006em22:34

    Prezado Sérgio, o assunto não é este, mas você crê que realmente haja uma indústria de danos morais?

  • Pedro 18/11/2006em11:10

    No “Mãos de cavalo”, que Daniel Galera lançou este ano, Hermano, personagem principal, é amigo de um dos melhores escaladores do Brasil, que entre seus feitos, havia encadenado (faito a ascenção sem quedas), em número recorde de tentativas, uma via no Rio de Janeiro, chamada Massa Crítica. Como escalo há anos, contei a história para um amigo meu, também um dos melhores do Brasil, para mostrar como o Galera tinha conseguido se aproximar da realidade da escalada, citando técnicas, nomes, e até um certo espírito do escalador. Meu amigo ficou puto dizendo que ele, e não o personagem do livro, havia batido o tal recorde. Expliquei-lhe que era ficção, não reportagem.Ainda pensei na hipótese de perguntar ao Galera, por e-mail, se ele havia se inspirado em algum escalador amigo dele no Rio Grande do Sul, mas desisti depois de ler um post no blog no qual ele reclamava justamente da mania que as pessoas tem de tentar achar semelhanças entre personagens reais e ficitícios, geralmante entre o autor e seu protagonista. Elas, as semelhanças, existem, mas nunca estão sozinhas. O amigo do Hermano pode ter todas as caracterísicas de um escalador qualquer do Rio Grande do Sul, e ter o recorde do meu amigo.

  • Rafael Rodrigues 19/11/2006em02:31

    Escolher nome de personagem é muito chato. Às vezes o nome não cai bem, e tem autor teimoso que mantém o nome mesmo sabendo que não tá legal… É terrível! Pior que escolher nome de personagem, para mim, é escolher o título do escrito.

  • Adilson Melendez 20/11/2006em14:39

    Pior ainda seria se, além da infelicidade de dar à personagem o nome de alguém existente, o livro tivesse sido publicado no Brasil, com o título em português. Já reparou no nome “Johnny come home” ? O título é a propria piada pronta!