A cobertura da Copa do Mundo ajudou a transformar num bagaço imprestável, mastigado mil vezes por dia, o clichê de que a Alemanha anda mais leve, mais alegre, menos carregada de culpa. Acontece que clichê não é sinônimo de mentira.
O romance “Medindo o mundo”, de Daniel Kehlmann, tem sido apontado como mais um sinal dessa nova leveza alemã. Lançado em setembro do ano passado, vendeu 600 mil exemplares no país – mais do que os fenômenos importados JK Rowling e Dan Brown. É o suficiente para fazer de Kehlmann o maior acontecimento editorial alemão desde “Perfume”, de Patrick Susskind, publicado nos anos 80.
O que tem merecido a maior admiração da crítica – também ela, como o público, rendida ao autor de 31 anos – é o fato de “Medindo o mundo” não ter nada da gravidade e do peso normalmente associados à literatura alemã. A explicação do próprio autor é que sua mistura de romance histórico e fantasia científica sobre o encontro do matemático Carl Friedrich Gauss com o explorador e naturalista Alexander von Humboldt foi inspirada numa certa literatura sul-americana.
Fã de Gabriel García Márquez, Kehlmann declarou o seguinte ao jornal inglês “The Guardian” (reportagem completa aqui): “Eu queria escrever um romance latino-americano. Só que não sou da América Latina, não sei escrever como Márquez… Mas eu podia ter um clima latino-americano, um espírito lúdico e absurdo em que qualquer coisa pudesse acontecer. Escrevi um romance latino-americano sobre alemães e o classicismo alemão”.
6 Comentários
É a globalização.
Não é a primeira vez que isso acontece: os modernistas de 30 no brasil (Graciliano, Zélins, Rachel) foram muito influentes na literatura portuguesa…
E, se não me engano, o modernismo de língua espanhola começou nas Américas para depois ir para a Europa.
Claro que esse caso é diferente… bem interessante
Lì O Perfume e achei uma droga. Coisa mais chata impossível. É daqueles livros que vc larga e não pega mais. Nunca mais.
Pautado na “Insustentável Leveza Latina”.
A qual liberta-nos tergiversando as impressões da realidade do planeta Terra.
…acho que Gil falaria…”concretude do planeta Terra.”
“espirito ludico e absurdo” – so mesmo vivendo numa realidade fantastica para aguentar o que se passa em terras latino-americanas