Existem coisas que a gente só faz quando está sozinho. Caminhei até a estante reservada às primeiras edições dos meus romances e de suas traduções e acariciei as lombadas tão conhecidas. Depois, como se sob o efeito de uma compulsão irresistível, retirei, em primeiro lugar, o novo livro e, mais tarde, todos os outros, para dar uma espiada em certas passagens. No fim, passei a noite inteira em minha poltrona, além de todo o dia seguinte, até boa parte da noite, sem quase nenhuma interrupção, embora suspeitasse estar com febre. Reli toda a minha produção. A certa altura, sentenças inteiras que eu tinha escrito pareciam se desintegrar como as figuras num caleidoscópio, quando a gente gira o tubo, só que minhas palavras não se reagrupavam nem se fundiam em novas maravilhas de cor e desenho. Jaziam na página como cacos vulgares e odiosos de vidro. A conclusão a que cheguei resumiu-se ao seguinte: nenhum dos meus livros, nem o novo romance nem qualquer um dos outros que escrevi antes, era muito bom. Com certeza, nenhum deles tinha o mérito literário que a crítica lhe atribuíra. Nem mesmo meu segundo romance, o que ganhou todos os prêmios e sobre o qual se disse que confirmava minha reputação de importante romancista. Não, todos pertenciam à mesma linhagem enfadonha dos livros desnecessários. Romances que não são ruins a ponto de dar vergonha, mas que levam a gente a pensar por que os autores se deram ao trabalho de escrevê-los.
Quem será esse escritor capaz não apenas de submeter sua própria obra a um julgamento tão duro – isso alguns fazem quando estão trancados no banheiro –, mas de tornar pública a autopichação? O nome dele é John North. Trata-se, claro, de um personagem fictício, protagonista do romance “Naufrágio” (Companhia das Letras, tradução de Sergio Tellaroli, 240 páginas, R$ 42,50), do escritor americano de origem polonesa Louis Begley. Por um desses acasos fecundos que não têm preço, tomei contato com North (mal comecei a ler o livro, e não consigo largá-lo) dias depois de ser atropelado pelo brilhante artigo de Zadie Smith – comentado aqui embaixo – sobre a sensação de fracasso que, segundo ela, todo escritor digno desse nome se vê obrigado a confessar de vez em quando diante do espelho, e normalmente a mais ninguém. O truque encontrado por North para se expor tanto é perfeito: conta tudo a um estranho num bar. “Teria sido idiotice da minha parte contar essa história a alguém. Mas, com você, por alguma razão, me sinto seguro.”
38 Comentários
Este tópico de novo.
Sérgio acabou de publicar… Hummm.
entresafra… sei, sei.
Escrever tem mesmo esses momentos, acho. Em que você se pergunta: valeu a pena terem abatido todas aquelas árvores pra editarem 500 exemplares do livro que escrevi? Acredito que a maneira de nos livrarmos dessa questão incômoda, uma boa e válida maneira, é acreditar que temos algo único, que nenhum outro ser humano na face da Terra tem, para dizer. Um ponto de vista singular que pode e deve ser compartilhado. Mesmo com todas as eventuais falhas.
Acho que o escritor John North sofre de uma doença ainda não-diagnosticada, mas que existe há séculos: perfeitice. Todo artista quer ser como Deus e atingir a Perfeição suprema, absoluta. Acontece que não há nada debaixo do Sol que seja perfeito – embora haja “graus” de perfeição: uns artistas chegam mais perto do que outros do ideal, que continua sendo apenas isso: um ponto lá na frente, no horizonte.
North é ou está altamente insatisfeito com sua obra. Todo criador passa por isso de vez em quando. Há que se relativizar a coisa. O que me parece estranho (não li o livro, estou extrapolando a partir do fragmento) é que Begley torna uma situação que é passageira em definitiva. Bom, pensando bem não há nada de ruim nisso: foi a opção artística dele pra construir a história. Mas acho esquisito que um autor tão premiado quanto North só venha a ter essa “crise de qualidade” depois de publicar tantos livros. Me parece implausível. Se o cara é tão autocrítico assim, essa crise já teria eclodido antes.
Clarice, você acordou de mau-humor, foi?
O complicado é distinguir o que é “sensação de fracasso” do que é fracasso mesmo. Tanto North quanto Smith exploram a possibilidade de serem fracasso quando todas as evidências apontam em contrário. Agora vem cá: e quanto ao escritor que precisa aceitar – não contra, mas a favor das evidências -, contrariando aquilo em que o Saint-Clair quer acreditar, que é um fracasso mesmo? Apesar da originalidade, etc, etc?E que nunca, faça o que fizer, será publicado… e se for, num arriscado ato de auto-exposição, jamais será lido? É duro, hein. Durmam com essa.
Escrever é um ato de coragem. Explorar os seus limites e entender que se pode ir mais adiante, são poucos que acreditam e fazem esta confissão.
Não entendo quais motivos além do prazer da imaginação e o privilégio de madrugar sem se preocupar com chefes alguém teria para escrever. Eu vejo, ao menos nos escritores que admiro, que quando eles escrevem sobre a falência da prosa, a insuficiência da prosa, no fundo o fazem como uma sutil metáfora do fenômeno da vida, de como somos sempre rascunhos, sempre em construção, sempre longe daquilo que desejamos. Quanto ao rame-rame da Zadie Smith, que foi ótimo para aplacar minha insônia outro dia, fica a impressão de que a verdadeira estratégia nos dias de hoje é realmente tremular a superfície da água para que a nossa poça pareça mais profunda. Qualquer livro de qualidade é um sucesso porque é algo que passou a existir onde antes não existia nada. As pessoas deveriam sem mais agradecidas e satisfeitas quando receberam o dom afortunado de escreverem. Um sujeito trnaforma sua imaginação em um bom livro e fica chorando porque ele é um ‘fracasso’? Fracasso não seria desejar escrever um livro e não escrevê-lo? Então, é melhor nem escrever o livro já que fazê-lo é juntar à frustração dele existir na sua mente ao ‘fracasso’ dele existir no mundo? Quando os escritores irão parar de dizer Não e passar a dizer Sim? Se eles não perceberam ainda, a vida é bem maior e vibrante do que qualquer livro que possam escrever, então seria saudável não ficar transformando uma sensação que quase todos têm – médicos, garis, alfaiates, etc -, de que o resultado de seus trabalhos poderia ser melhor, em algo nobre e até admirável. Nobre não é aquela lasca que faltou para o livro ser ‘perfeito’; nobre, admirável, é o livro em si. E se o livro for ruim, corrija-o com outro, oras! Jogue fora e escreva outro! O debate ao redor disso foi bastante seminal, li os comentários em outros posts, mas não consigo entendê-lo. Escrever uma frase aonde não exisita frase alguma antes já me faz sorrir. As pessoas têm problemas com a felicidade?
Ôô Saint-Clair!
O que eu quis dizer foi exatamente o que você disse.
Que o Sérgio poderia estar passando por aquele momento pós publicação.
De um lado o alívio de ter se livrado do “troço”. De outro aquelas milhões de perguntas que ficam atazanando a cabeça.
O Chico Buarque tem insônia por que tem medo de não ter mais idéias. Já li, a respeito de um neurocientista, o mesmo problema.
Borges dizia que graças à Deus tinha que entregar para a editora do contrário ficaria cheio de dúvidas.
Vinicius Jatobá,
Eu odeio todas as teorias de inspiração, as teorias de que pessoas que trabalham com artes são mais “sensíveis”, de que existe genialidade e toda esta baboseira.
O Jung, cuja obra não li e nem me interessa, mas ele põe por termo estas bobagens.
Mas você há de convir que exatamente por estes motivos, 90% transpiração e 10% genialidade, é diferente você acordar ir para o trabalho cumprir suas tarefas e voltar para a casa para assistir a novela das oito.
Médicos? Nem me fale em médicos. A medicina está mal e a ética indo por terra. Se sobrarem 10% que realmente se preocupam com seus pacientes. Inúmeros erros médicos são relatados se três pessoas começam a falar do assunto.
Os artistas que conheço, conheço mais pintores, escritores e poucos músicos, trabalham meio full-time.
Já vi escritores “filmando” o que se passava ao seu redor para entrar em seus textos.
E qual não foi minha surpresa em ler de um amigo duas ou três “cenas” do meu cotidiano que foram “filmadas” por um deles rsrsrsrs
Repara que estão sempre meio inquietos.
Ou então eu tive muito azar.
É algo que vai um pouco além da questão da perfeicionice.
E para agravar a coisa não é uma questão de vontade estilo:
Bem agora vou sentar e escrever um capítulo seguindo assim e assado.
O diabo do troço toma forma própria e fica lá o desgraçado do autor tentando.
Ou outras vezes senta e escreve algo que nunca lhe passou pela cabeça e vem o sentimento de que não foi ele que escreveu.
Eu vi uma entrevista com o Pedro Luis (do Pedro Luis e a Parede) que foi meu amigo de Faculdade.
Ele disse de vez em quando sai letra no ônibus; outras ele tem este sentimento de que “baixou um caboclo e que não foi ele”; outras são trabalhadas.
Por aí.
Cada um tem um processo. Mas é muito difícil alguém assobiar e escrever ao mesmo tempo.
Talvez o Balzac.
Já o Flaubert… coitadinho do Flaubert.
Depois daquela trabalheira toda para formar uma frase perfeita em um dia deitado no divã alguém escreveu uma coletânea de erros gramaticais. rsrsrsrsrs
Quanto ao “fracasso”… é exatamente isto!
Escrever apesar do fracasso, escrever apesar de ser uma luta e vez ou outra uma alegria.
Nas artes pláticas é fácil falar do “acaso”.
Uma mancha caiu errada e o cara aproveita para mudar o que tinha em mente.
Bem fiz o maior mistura e manda.
Reclamações para o meu e-mail
Sérgio, foi brincadeira tá!
É que eu já vi o o pós-edição rsrsrsrsrs
Saint-Clair,
Eu nem acredito que haja grau de perfeição. Talvez por falta de parâmetros atingíveis – vou escrever no modelo 754 – é que os caras em cada livro que escrevem é como se fosse o primeiro. Cada livro que se publica é como o primeiro. E o fato de “-Puxa! Eu queria tanto fazer a diferença!”
Alguém já sonhou que está lendo uma parte de um livro que contém uma coisa super preciosa?
Eu vez em quando tenho.
Por favor, se alguém tiver me ajude e diga que tem também. Eu acordo e fico frustrada por que não sei o que é.
Esqueci: só uma das “filmagens” eu flagrei. Estava fazendo algo e quando olhei para ele vi que ele estava “anotando mentalmente”. Saiu o livro e lá estava.
Me deu uma raiva! As outras duas não percebi.
Cretino! rsrsrsrs
“Es muy fácil advertir que cada vez escribo menos bien, y ésa es precisamente mi manera de buscar un estilo. Algunos críticos han hablado de regresión lamentable, porque naturalmente el proceso tradicional es ir del escribir mal al escribir bien. Pero a mí me parece que entre nosotros el estilo es también un problema ético, una cuestión de decencia. ¡Es tan fácil escribir bien! ¿No deberíamos los argentinos (y esto no vale solamente para la literatura) retroceder primero, bajar primero, tocar lo más amargo, lo más repugnante, lo más obsceno, todo lo que una historia de espaldas al país nos escamoteó tanto tiempo a cambio de la ilusión de nuestra grandeza y nuestra cultura, y así, después de haber tocado fondo, ganarnos el derecho a remontar hacia nosotros mismos, a ser de verdad lo que tenemos que ser?”
Julio Cortázar
Saint-Clair e Clarice, os srs. disputam o título da “enrolação” nesta página. Vinicius Jatobá, o único que não escreveu besteira.John North e Louis Begley, vos pergunto: Para que tanto mau humor?
Leonardo, onde retiro meu prêmio?
E por falar em escrever besteiras…
“John North e Louis Begley, vos pergunto: Para que (sic) tanto mau humor?”
Não entendi essa sua pergunta, Leonardo. É algum tipo de jogo de palavras?
E, afinal, por que a Clarice e eu “só enrolamos e escrevemos besteiras?”. Gostaria de saber exatamente em que tijolo (ou tijolos) do meu edifício intelectual você detectou rachaduras e até – horror, horror – algum musgo renitente.
Sabe, sou muito, mas muito mesmo, suscetível a esse tipo de comentário solto. Você quer me fazer perder o sono, é? Se você quer dar uma dedada na ferida, enfia o dedo todo, bem fundo! Não fica só fazendo cosquinha na ferida, não… HAHAHAHAHAAH – desculpa, é uma piada. Mas é sério, viu? Um paradoxo, do grego parádoxon, “conceito que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo, [essa agora você vai adorar, Leonardo:] disparate.
Segundo você, escrevemos disparates, foi?
Querida Clarice:
Eu já sonhei com livros inteiros (evidentemente inexistentes) de autores reais. Um dia desses, num sonho, entrei numa espécie de banca de jornais que era uma biblioteca e descobri livros policiais e romances de vários autores: Cortázar, Borges, até um livro meu! Fiquei lendo e me dizendo: você tem de se lembrar desse fragmento quando acordar! você tem de se lembrar desse fragmento quanto acordar! você tem de se lembrar desse fragmento quando acordar! Uma espécie de mantra. É claro que, ao acordar, não fui capaz de me lembrar nem de uma mísera linha…
Mas já consegui trazer dos sonhos palavras. Palavras que não existem em nenhum dicionário. Andei anotando-as, mas perdi o papel (eu tenho muitos papéis, livros; perco anotações, claro). Eram palavras curiosas: não existiam mas tinham aquela aura toda de possibilidade e realidade.
Certa vez, há alguns anos, sonhei com o meu verdadeiro nome. Não sei explicar o que significa a expressão “meu verdadeiro nome”, já que meu verdadeiro nome é Saint-Clair, mas era assim no sonho. Ao acordar, consegui trazer o nome junto comigo. Fui correndo pesquisar no Altavista (foi há tanto tempo que na época ainda não existia o Google: quem mandava no pedaço era um tal de Altavista…) aquele curioso nome. E – surpresa! – o nome que era o meu verdadeiro nome era também o de uma região da antiga Mesopotâmia!
Hoje em dia eu o uso pro meu avatar no Second Life. Afinal, serviu pra alguma coisa…
Agradeço a mamãe e papai por terem me incentivado, a todos os amigos que suportam minha enrolação. Sem vocês seria impossível chegar aqui onde cheguei e dividir este prêmio com o meu amigo virtual Saint-Clair. Agradeço ao Sérgio Rodrigues por me oferecer este espaço para finalmente ganhar um prêmio. Estou muito emocionada para… buáááááá. O-briga-da… Ai que estátua linda!.”
Saint-Clair,
Eu sonho sempre que estou diante de uma página que é a resposta de tudo. Quando acordo tento me lembrar e não lembro nada.
De onde você tirou este texto do Cortázar?
Sérgio, espero que você tenha entendido meu primeiro comentário.
Eu não compreendo o fracasso como “fracasso” e sim como a diferença entre a intenção do livro e o resultado final.
“-Nossa, que estátua pesada… Segura aqui, João, que estou de salto agunha e vou me desequilibrar.”
Mas que prêmio fajuto. Fui pegar o cheque e disseram que ainda não está pronto.
Leozinho,
Não esqueça de ler a segunda parte do artigo da Zadie Smith.
Clarice,
é de uma entrevista que ele deu e foi publicada na “Revista de la Universidad de México” em maio de 1963.
Saint-Clair,
Muito bom este trecho.
Conseguiu dormir?
Acho que temos um fã que não está feliz com nossa troca de idéias, e, ainda mais discordando e respeitando a opinião do outro. É muito absurdo para algumas mentes.
Poxa! Mas sonhar com livro pronto!
O meu é diante de uma página que nem digo que tem que lembrar mas quando acordo dá uma sensação de querer lembrar pois parece que é a página que define tudo.
Affe Maria! Seria a Bíblia em versão integral, com todos os evangelhos?
Um livro do “mago” que nunca li?
É curioso, mas eu não tenho a menor necessidade de estar sempre certo ou ganhar alguma disputa. Acho isso tão bobo! Exponho meus pontos-de-vista e que venham as pedradas! Assim é mais divertido.
Dormi que nem um anjo, Clarice. Nem me mexi na cama.
rsrsrsrs
Eu prefiro que ao invés de pedradas venham argumentos e contrargumentos. Diálogo como se costuma dizer. Deixo as ofensas para os políticos.
Mas amanhã é o prazo para a entrega do Mrs Dalloway. Como sei que você não leu pode mandar um resumo do primeiro capítulo do 1984 do Orwells.
É fácil. Em 79 ganhei de uma professora e ela disse que era fácil. O problema é que é chato. rsrsrs
Nunca li o 1984. Mas o “Mrs. Dollaway” eu ganhei agora no último dia 28, dia do meu aniversário, do meu namorado. Que presente lindo! Mas é a edição brasileira, com tradução de Mario Quintana.
Saint-Clair é homem ou mulher? Se homem, é gay?
Onde está idagador, leia-se INdagador….rssss
Saint-Clair e Clarice continuam monopolizando o espaço e se auto-infligindo farpas e ferpas. Creio que é coisa de pseudo-intelectuais ou de quem leu muito e começou a findor os neurônios. Literatura cerebral e não visceral dá nisso.
A dúvida ainda persiste, srs. e sras: Machado de Assis ou Bukowiski? Paerce que Saint-Clair e Clarice são a mesma pessoa, com dupla personalidade, algo bem jungiano mesmo. Já o bom humor continua fazendo falta ao pedaço. O tempora, o mores…
Sou homem, Saint-Clair é meu nome verdadeiro (embora todo mundo ache que é nick) e sou gay, sim.
Ah, Leonardo, faz favor: o que podemos fazer se eu e a Clarice (ela não me passou nenhuma procuração pra falar em nome dela, mas acho que não vai se incomodar) somos inteligentes e temos coisas interessantes a dizer? Não sou “pseudo-intelectual”, não: eu sou intelectual mesmo, afinal de contas não passei em uma das primeiras colocações para o mestrado em literatura brasileira da Uerj (um dos melhores do país, permita-me lembrar-lhe) ano passado pra ganhar diploma ou depois botá-lo na parede, enfeitando um espaçozinho em branco…
Pronto: já prevejo a chuva de pedradas que vão ser dirigidas a minha rotunda pessoa: “arrogância”, “ter diploma não significa nada”, “a decadência da academia” e outros quetais. Seja usado em minha defesa que não costumo utilizar as minhas, digamos, “credenciais intelectuais” por aí (na verdade, esta é a primeira vez), mas é que doeu ser chamado de “pseudo” alguma coisa. Eu não gosto. Não sou pseudo nenhum, sou sempre 100% o material original. Nunca se esqueça disso, Leonardo.
Outra coisa: essa agora doeu, e doeu fundo, Leonardo: Você dizer que por aqui não há humor! Cara, eu sou uma das pessoas mais bem-humoradas que conheço e costumo exercer os meus poderes de bem-humoradice em praticamente 80% de todos os meus comentários no TodoProsa. Que culpa tenho eu se você só parece conseguir entender o humor à lá Mr. Bean? O meu é mais sofisticado, moço, e na maioria das vezes é justamente quando estou sendo mais hilário que todo mundo acha que estou falando sério… (atenção: isto é uma dica; quem tem olhos de ler que leia e entenda).
Agora vou falar pra todo mundo: se vocês acham que estamos “brilhando demais” aqui nas páginas do TodoProsa, venham terçar armas conosco, ué! Afinal de contas uma das coisas mais divertidas que existem (alô Leonardo!) são os embates intelectuais… desde que os “adversários” não sejam fracos demais. É muito fácil falar e não tentar contribuir, cada um segundo os dons e as capacidades que o Senhor lhe concedeu (ou não), pro debate civilizado. Estou sendo bem sincero quando digo que a coisa mais fácil que há é deixar de comentar no TodoProsa, e só vir aqui pra ler os textos do Sérgio, anonima e invisivelmente. Não vou morrer de tristeza nenhuma se for obrigado a isso. Mas eu acho que o TodoProsa vai ficar bem menos divertido, se me permitem dizer…
E já que eu joguei a merda toda no ventilador agora, aí vai mais uma: também sou escritor. Tenho um livro de contos pronto, chamado “Dias estranhos”, que quase foi publicado por uma editora ano passado (sem eu precisar pagar por isso) – e só não o foi porque os donos da referida editora (uma editora pequena mas de muita qualidade, cujos livros bem-cuidados me agradam muitíssimo) estão brigando judicialmente entre si, e eu então preferi aguardar um pouco. Um dos momentos mais agradáveis da minha vida literária foi quando, durante um almoço de negócios, a editora me disse que existem escritores com 5, 6 livros publicados que não escrevem tão bem quanto eu. Estou falando isso sem nenhuma arrogância ou vaidade – aliás, todos vocês são testemunhas de que eu NUNCA, JAMAIS, mencionei antes que escrevia, justamente pra não ser acusado de tendencioso. Sempre tomei o maior cuidado pra não mencionar esse fato por aqui, porque não queria fazê-lo “sobressair”. Só estou falando agora pra que ninguém me acuse de ser só um “pseudo-intelectualzinho de merda” que quer aparecer, falando sem conhecimento de causa. Além de ser um intelectual, sou um ficcionista. Portanto, conheço Literatura dos dois lados: como estudioso e como praticante.
Nossa relação com os livros – pelo menos, pra quem gosta de ler – não é toda de acasos? Às vezes, parece que os livros acham a gente, quando fuçamos nos sebos, e não o contrário.
Caros Amigos,
Clarisse, et all,
Estou apreciando aqui, ler mais do que escrever. Em linhas gerais nao tenho visto, lido muito no Todoprosa algo que veja a necessidade de colocar minha opiniao. Estou em periodo de férias e de certo modo coloquei meu cérebro em marcha lenta “sistema em funcionamento parcial, contencao de despesa”.
A critica consome um bocado de energia.
Atualmente estou em casa e tentando escrever alguns contos.
Tentando porque laborar com palavrsa vejo sempre como uma tentativa de dizer algo que (sabemos-sentimos) em nosso cerebro, mas as palavras frequentemente nos traem.
Agradeco pela mencao (creio que se referia amim em mensagem neste topico) Embora quando morador de Sampa eu nunca me virava quando ouvia alguem chamar: Joao! na rua. É que havia muitos com este nome. Quando me alistei la no Cambuci fui trocado de fial duas vezes pelos recrutas. Estava numa fila geral. Madrugada de uma segunda feira. E os papos eram: carreira militar, como dar um golpe nos coroneis (fraudando documentos ou inventando doencas e historias para se furtar ao Servico Militar) e quanto era miseravel a vida de um recruta. um ano roubado da vida, etc. Mas isso é uma digressao.
Apreciei muito essa discussao sobre o sonho de pagina e livro. E ha la uma mensagem que nunca conseguimos recuperar quando em vigilia.
Ja sonhei algo semelhante, acho que isso é metafora daquilo que disse: no paragrafo segundo.
Estou também, embora de férias, tentado resolver pendencias de ordem financeira, e em busca de um mecenas. Um trabalho meu foi contemplado por um concurso da minha cidade, mas preciso de captar recursos para ampliar o lote de livros. Caso alguma gentil e caridosa alma souber quem e como fazer, solicito, com a licenca do nobre Sergio Rodrigues, a informacao. E serei eternamente grato.
Saint-Clair,
Estou aqui te dando força. Eu sou intelectual também. Acho uma sina mas vá lá.
Este rapaz diz que monopolizamos o espaço e me vem com dois curtos comments sem fundamentos se queixando, se lamuriando. E se passa por outro para dizer “te acusar” de gay.
Saint-Clair, nosso brilhantismo está evidente. Incomoda!
Que honra! Que elogio.
E ainda há os que querem tomar carona na nossa sapiência.
Estou sem ânimo para escrever para o Leonardito, nervosito.
Vá catar coquinho, vá ver se estamos lá na esquina, e, last but not least, procura a tua turma.
Qual a sua área, frustrado?
Literatura é que não é. Existe animosidade na área mas não se expressa deste jeito.
Saint-Clair,
ignoremos.
Tudo o que não se referir à LITERATURA será devidamente ignorado por mim.
É o mínimo que posso fazer em respeito ao anfitrião do Blog.
Quem discordar que ponha suas questões na mesa.
O Saint-Clair já me fez mudar de opinião uma vez.
Em outras não vai.
Este pessoal sai do Mobral e pensa que sabe ler.
joao gomes,
Não desaparece. Eu já pedi no post em que você desejou feliz 2007.
Quem bom que esta história de sonhar é comum a quem é da área. Eu pensei que fosse mais uma das minhas características neuróticas. rsrsrsrs
E a M. Duras também disse que um “quando durmo” lá no post dedicado à ela.
Venha mais vezes. Se não fosse por algumas poucas pessoas eu já tinha ido embora.
Aliás, talvez eu vá. Só leio.
Clarice: terminei de ler “Travessia de verão”, do Truman Capote. Eu quase – quase – chorei. É tão incrivelmente assustador, tremendamente brilhante (se bem que a Alfaguara, via Objetiva, deixou muito a desejar no setor “revisão”: descrições começando por travessão, como se fossem diálogos, palavras faltando letras, um horror). Como é que o Capote pôde ter abandonado esse seu primeiro romance (na verdade, é uma novela) pra trás sem o menor remorso? Literalmente abandonar: ele, quando ficou rico, saiu do apartamentozinho que tinha sem levar nada, só com a roupa do corpo. Deixou tudo pra trás, e “Travessia de verão” ficou abandonado numa caixa por 40 anos, só vindo à tona em 2004. Se nossos jovens autores publicassem uma primeira obra assim tão magnífica… mas cala-te boca!
Saint-Clair,
Mácula no currículo: nunca li. Mas agora depois de te ver desse jeito fiquei curiosa.
É tão bom quando isso acontece, de ler algo que…, ______ .
Mas que edição mal cuidada. Erro ortográfico hoje em dia é desleixo brabo.
Vai para a lista.
Tá: bota ele na lista dos livros que eu tenho de te emprestar…
P.s.: mea culpa: também é o primeiro livro do Capote que leio. Mas já estou completamente apaixonado!
Emquanto isto vou ler “O Capote”.