Uma baleia – aliás extinta – batizada Livyatan melvillei (o bicho maior aí ao lado) em homenagem a Herman Melville, autor de “Moby Dick”, parece algo bastante lógico, não? Mas o que tem Leon Tolstoi a ver com a cratera de Mercúrio que leva o seu nome?
O mesmo que figuras tão díspares quanto Homero, Cervantes, Shakespeare, Balzac, Rimbaud, Proust, Neruda e Calvino (o Italo, ele mesmo), entre muitos outros escritores, todos homenageados em algum buraco daquele pequeno planeta que dizem ser mais quente que Manaus.
Véspera de fim de semana, não poderia haver leitura literária mais amena do que este post (em inglês) do “PWxyz”, blog do Publishers Weekly, sobre escritores que dão nome a coisas bizarras.
Coisas bizarras como a síndrome de Stendhal, fenômeno psiquiátrico caracterizado por uma série de sintomas físicos e emocionais (palpitações, agitação, desorientação espacial e temporal, sudorese) provocados pela exposição à beleza de grandes obras de arte. A síndrome, que me parece longe de ser das piores que existem, ganhou esse nome porque coube ao autor de “O vermelho e o negro” a mais famosa descrição de um desses episódios, em visita a Florença em 1817.
Quebrei a cabeça por algum tempo tentando encontrar um escritor brasileiro que engrossasse essa lista. Só consegui pensar em nomes de ruas, praças e bibliotecas, que não têm nada de bizarro, e conto com a sabedoria coletiva dos leitores do Todoprosa para que nossa literatura possa marcar ao menos um golzinho de honra.
Bordel de Normalistas Nelson Rodrigues, alguém? Quem sabe uma síndrome de Lispector, felizmente raríssima, caracterizada por desorientação e impulsos degustativos diante de baratas?
10 Comentários
Machado de Assis “documentou” o distúrbio psiquiátrico “folie a deux” no conto “O Anjo Rafael” http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/888895-machado-de-assis-descobre-doenca-psiquiatrica-em-conto.shtml
Muito bom, Noah! Só faltou batizar.
Machado é um campo fértil… que tal “Síndrome de Jacobina” para aquele que só se ‘enxerga’ no espelho “midiático”? – atualizando a personagem do alferes no conto “O Espelho”.
Câmara Municipal de Sapé, na PAraíba: Casa de Augusto dos Anjos
Sérgio,
No quesito nada bizarro, mas poético, é bom pensar que existe um Parque Grande Serão Veredas. O bonito da história é que ele, ao mesmo tempo, corresponde e não corresponde ao que é o Grande Sertão do livro. Mais do que justo. Pra mim a grande ficção tem que fazer esse movimento.
No quesito semi-bizarro, há a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba. Semi-bizarro, porque na verdade é uma casa de show, localizada em frente a uma pedreira. Se fosse de fato uma pedreira, teríamos que averiguar o motivo de ter sido batizada com o nome do poeta. Daria pano pra manga.
Agora, no quesito muito bizarro, lá vai a pérola: em Goiás Velho um sujeito quis fazer uma homenagem à Cora Coralina e batizou sua madeireira de “Tora Toralina”. É um gênio, não ?
Síndrome de Lima Barreto, para alguém que sente ojeriza por futebol. Como se sabe, o grande escritor odiava esse esporte.
Ah sim, Sergio!
Fica a sugestão de rebatizar o distúrbio.
Ainda acho que machadão, se não batizou nada muito bizarro, ainda assim criou um tipo, o da indecifrável Capitu e seus “Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” os olhos de ressaca da Capitu são o equivalente literário do sorriso da Mona Lisa. Capitu sempre será sinônimo do mistério feminino.
Eu sugeriria chamar de “efeito Paulo Coelho” a qualidade de certos escritores de, quando traduzidos, ficarem melhores que no original…
Pedro David: excelente!
Abraços a todos.
Nas letras brasileiras, José de Alencar também é nome de cratera em Mercúrio.