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Uma ilha, um livro

23/01/2008

– Você vai passar o resto dos seus dias numa ilha deserta e pode levar um livro – ela diz.

– Um só?

– Um só. Qual você escolhe?

Ele pensa um pouco.

– Nenhum.

– Como, nenhum?

– Nenhum. Não vou ler, morto não lê.

– Não – ela ri – quê isso, na ilha tem comida à vontade, você não morre. Só fica lá de bobeira, vivendo superbem e… lendo um livro.

– Pode ser que você fique lá, lendo esse livro. Eu não fico porque me mato antes.

– Se mata…

– Mato, mato. Um livro só? Mil vezes a morte.

Ela fica meio desconcertada porque é a primeira vez que um homem bagunça assim o seu teste, mas acaba decidindo que gostou, gostou muito, mais até do que se ele dissesse Estrela da vida inteira, Em busca do tempo perdido ou outra das respostas que ela costumava classificar como “certas”. Olhando para o homem do outro lado da mesa do restaurante, vê alguém que nunca viu antes. Pela primeira vez tem vontade de beijá-lo e pensa, sentindo uma moleza nos joelhos, que a noite promete.

Enquanto isso, ele fica matutando que a idéia de um único livro sobreviver ao fim do mundo deve ser mesmo insuportável. Está até um pouco espantado, quase eufórico: caramba, acho que não dei apenas uma resposta espirituosa, isso é uma tremenda verdade! Um livro só? Melhor morrer. Quer anotar a idéia num guardanapo, depois desiste, distraído com o decote que se descortina do outro lado da mesa. E também pensa que a noite promete.

Agora a promessa já se cumpriu. Na cama dele, sob o lençol amarfanhado, ela ronrona, cabelos espalhados em seu peito, enquanto ele fuma. É o momento daquela volta lenta ao mundo da linguagem articulada, depois da rendição momentânea aos grunhidos da selva. Foi bom, foi muito bom. E ele fala:

– Sabe aquela história da ilha deserta?

– Hmm.

– Eu disse que me matava se tivesse só um livro…

– Ah, eu adorei. Nunca ninguém me respondeu assim.

Ele fica uns segundos em silêncio, espreme o cigarro no cinzeiro.

– E se fosse um game?

– O quê?

– Se em vez de um livro eu pudesse levar um videogame. Um só. Sabe qual seria?

Ela ergue a cabeça do travesseiro peludo do peito dele. Sente frio de repente.

– Hmm.

– Sonic 2. Sou louco pelo Sonic 2. É antiguinho, mas eu podia ficar a vida inteira fazendo aquele porco-espinho pular…

Diz isso e, com um sorriso, se deixa levar pelo sono: menos de um minuto depois está ressonando.

Ela pula da cama. Arrepiada de frio, sai andando nua pelo apartamento, que mal teve tempo de ver quando chegaram, ocupados que estavam em se morder, arrancar as roupas e atravessar a sala na direção do único quarto.

A sala tem um sofazinho de dois lugares. Uma poltrona, jornais espalhados pelo chão. Uma estante pequena com prateleiras tomadas por garrafas de cachaça, licor, uísque, canecão de chope com o escudo do Flamengo, CDs. Ah, sim, um livro também. Um livro solitário. Ela se aproxima, temerosa, e lê na lombada, à luz fraca da rua que entra pela janela: Onze minutos, de Paulo Coelho.

Mas já é tarde demais.

71 Comentários

  • Uma 23/01/2008em14:43

    tadinha.

  • will 23/01/2008em14:50

    rararararararararararararararara

  • Antonio Fernando Borges 23/01/2008em14:54

    Quando fizeram essa pergunta ao grande G.K. Chesterton, ele respondeu: O Manual do Construtor de Botes! Eu quero lá ficar numa ilha?…
    Grande texto, Sérgio!

  • Daniel Brazil 23/01/2008em15:02

    Ótimo texto! Valeu a visita.

  • Uma 23/01/2008em15:50

    gostei, Borges! Boa dica para A ilha! Alias, Sérgio, esqueci de dizer: gostei muitíssimo do diálogo, será que nosso mestre perderá o trono?! bjs

  • cláudia 23/01/2008em15:53

    Que pesadelo!!!

    Muito bom, Sérgio!

  • Tibor Moricz 23/01/2008em15:54

    Canecão de chope com o escudo do Flamengo? Ah, ela teria tido tempo de ver uma droga dessas. Não correu antes porque era masoquista.

  • Priscilla Fogiato 23/01/2008em16:07

    Totalmente excelente 🙂

  • Saint-Clair Stockler 23/01/2008em16:37

    Eu levaria As mil e uma noites.

  • Mr. WRITER 23/01/2008em16:57

    Sonic 2… muito bom mesmo… excelente pedida.

    Quanto ao livro, também acho que é melhor não ter livro nenhum do que ter apenas um único livro…

  • Mr. WRITER 23/01/2008em16:59

    Mas suponhamos que eu seja obrigado a escolher um: Solaris de Stanislaw Lem…

  • Caruso 23/01/2008em17:04

    No meu final ela iria para a estante, encontraria uma dúzia de livros bons, depois sentaria no sofá, ligaria o videogame para conhecer o tal de Sonic 2 e passaria a madrugada jogando. A história poderia ter terminado melhor assim… uma espécie de reconciliação.

  • Carlos Magno 23/01/2008em17:19

    Interessante. Gostei. Lembrou-me “O Avesso da Vida”.
    Acho que o livro na estante, ao invés de Onze Minutos de Paulo Coelho, apesar da proposital ironia, podia ser “O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de Uma Garota de Programas”.

  • Daniel Brazil 23/01/2008em17:34

    Borges (o argentino) disse uma vez que levaria um dicionário. “Está tudo lá. Toda a literatura do mundo!”

  • Cezar Santos 23/01/2008em18:06

    Puxa, a dona foi dar pra um leitor do 11 minutos… com o agravante de o cara ser torcedor do flamengo? E ainda pior, curtidor de um gamezinho dos mais vagabas? tsc, tsc, tsc…
    Sinceramente, ela estaria melhor dando pra mim…

  • Spencer Stachi 23/01/2008em18:51

    Pow, esse cara sou eu!
    Quer dizer, quase…
    Canecão de Chopp com escudo do Flamengo é de matar… E o livro do “Pau no Coelho” também. Talvez uns Chuck Palahniuks, Jack Kerouacs…
    Mas Sonic 2 é divino, um dos melhores que joguei na minha vida, apesar que prefiro Sonic 1!
    😀

  • Chico 23/01/2008em18:55

    Eu levaria meu atari e a playboy da Flavia Alessandra… para ler a entrevista! Matava dois coelhos de uma cajadada.

    E por falar nisso, quero deixar meu protesto: voces estao de marcacao com o pobre Coelho! Neck and neck eh a biografia do Tim Maia escrita pelo Nelson Mota… por que, excecao do Maklouf Carvalho, do Castro e do Morais, os biografos brasileiros sao tao ruins? Diga-me? Digam-me? Me Digam? Fala aih cumpadi?

    O cidadao comeca a biografia falando dele e nao do biografado?!!?? Mais um inicio inesquecivel… da vontade de largar na quarta pagina… Sergio, anota ai no teu caderno. Abraco.

  • Fernando Molica 23/01/2008em19:45

    O pior é que, pelo jeito, ela gostou de transar com o troglodita…

  • vinicius jatobá 23/01/2008em20:53

    Levaria a Bíblia. É longo, divertido, agitado, tem poesia, prosa de excelente qualidade, partes picantes, descrições geográficas, frases memoráveis, e faz pensar. Levaria a Bíblia, com certeza.

  • vinicius jatobá 23/01/2008em21:03

    PS: Posso levar um playstation também?

  • Brancaleone 23/01/2008em22:11

    Eu levaria Robinson Crusoé, só prá depois poder acrescentar comentários e sugestões…
    Game eu não levaria. não ia ter onde comprar pilhas…
    Agora sinceridade, transar com um cara que vê livros do Paulo Coelho? ( sim ver, porque lêr não deve ser. O cara só pode ser anarfa, a menos que seja a versão em quadrinhos…)

    Perguntaram uma vez a Elizabeth Taylor qual foi o livro que mais influiu na vida dela.
    – Meu livro de cheques, respondeu a divina…

  • Simone 24/01/2008em00:29

    Nunca é tarde demais pra não dar de novo…

    Gostei muito. Canecão do Flamengo, hahaha. Pensei na Bíblia e em Robinson Crusoé, depois em Gulliver e Sinbad, e finalmente descobri que não ia querer ficar sentindo saudades da humanidade. É melhor levar algum Paulo Coelho mesmo, aí eu lembro da pior parte da humanidade.
    E um joguinho também não faria mal.

  • Malu 24/01/2008em00:53

    Troglodita por causa do “canecão de chope com o escudo do Flamengo”? rs. O cara é um bom (exemplo de) canalha. Deu a resposta certa pra conseguir o que queria e a exata para despachar a moça. Mas também, que perguntinha-teste antes de ir pra cama, hein! Merece. Pecai com todos…

  • Rafael Rodrigues 24/01/2008em02:16

    É isso aí, meu caro.

  • Renan T. 24/01/2008em09:57

    Putas merdas… De novo tem o Paulo Coelho na jogada?

  • Eric Novello 24/01/2008em11:56

    Eu levava o Paulo Coelho mesmo. Vai que a ilha é um saco, propaganda enganosa? Cortar os pulsos não vou, então leitura morte rápida é a melhor pedida.
    ps. não tem nenhum de “receitas em uma ilha perdida?”

  • Daniel Brazil 24/01/2008em12:31

    A Ilha do Dia Anterior, do Umberto Eco. Demoraria anos pra ler, porque é chatíssimo.

  • Dea 24/01/2008em13:00

    as aparências enganam… vai ver que o canecão do Flamengo é a única lembrança do pai falecido, do tempo em que ele era garoto e íam ao Maracanã juntos, antes de as dores ficarem muito fortes e o velho já não poder andar. o Onze Minutos foi a tia preferida que deu, porque acredita que a melhor maneira de divulgar verdades ocultas é vulgarizá-las. só existe um livro na estante porque ele é um leitor voraz, mas percebeu que não pode ter todos os livros do mundo, então doou todos os que tinha e já não compra novos, pega na biblioteca, pede emprestado, faz circular o prazer de viver a vida dos outros em mundos ilimitados. o game… tem coisa mais estilosa do que game vintage? é porque ela não leu o pensamento dele, mas a coisa de escrever no guardanapo “entrega” tudo, o cara é um escritor, um poeta. que tem um monte de amigos beberrões. só isso 🙂

  • persia 24/01/2008em14:03

    RS.

  • Saint-Clair Stockler 24/01/2008em14:03

    A menina é daquelas falsas-inteligentes, no fundo é burra que nem uma porta (desculpa, porta):

    Dar pra um cara que A) gosta de futebol e B) fuma… Ela devia ter ficado de sobreaviso desde o início. Fumantes & amantes de futebol são duas espécies que sempre me põem em guarda. Fazem parte (grande parte) da ralé da humanidade.

  • Murilo Gabrielli 24/01/2008em14:04

    Muito bom, Sérgio. Espero que, pelo menos, tenha sido apenas na estante do flamenguista que a ludida moçoila tenha se deparado com meros 11 minutos…

  • Murilo Gabrielli 24/01/2008em14:05

    ILUDIDA moçoila, claro.

  • clelio 24/01/2008em14:06

    Excelente texto. Um belo miniconto.

  • C. S. Soares 24/01/2008em14:16

    Sérgio e amigos do TP, um aviso rápido:

    Santos Dumont número 8, a canção (tem video clip no youtube) foi composta pelo autor (este mesmo que vos tecla) durante o processo de escritura do romance.

    Agora, ela recebe uma versão “air” de Sérgio Rangel Filho, guitarrista da banda de rock carioca Tchopu. Compartilhamos a SD8 air em http://blog.pontolit.com.br .

    E sejam todos muito bem vindos também ao do Santosdumontnumero8.com.br.

    Um romance que eu levaria para ilha? As Sementes de Flowerville, claro. Agora a caneca, é óbvio, tem que ser do Fluzão. 🙂

  • BCK 24/01/2008em15:05

    Que preconceito contra videogames… só porque o cara se amarra no Sonic quer dizer que ele é inculto? Absurdo!

    (Sonic 2 é excelente, o melhor da série!)

  • Sérgio Rodrigues 24/01/2008em17:46

    A todos os que se manifestaram, obrigado pela prontidão e generosidade da resposta, que está me obrigando a rever algumas idéias sobre internet & literatura. Abraços.

  • Ju 24/01/2008em18:54

    Sugiro, querido Sérgio, que vc jogue um pouco de Sonic 2… mesmo eu sendo mulher não vou te condenar! E, céus, tô encantada com seu texto!
    Valeu!

  • Pedro Curiango 24/01/2008em19:57

    Creio que você escolheu bem o livro para o rapaz. Mas fico pensando se a linha final não é meio desnecessária. Talvez melhor seria deixar um pouquinho obscura a cultura da moça…

  • C. S. Soares 24/01/2008em20:45

    Então, as compartilhe conosco, Sérgio.

  • Adair 24/01/2008em22:34

    Descobri o seu blog lá no do Piza. Pelo primeiro post que leio – este – creio que vou voltar muitas vezes. Divertidíssimo!

  • Malu 24/01/2008em22:46

    Pedro Curiano, a cultura da moça pode até ser forçada, mas deixa de ser obscura quando o autor cita as respostas que ela costumava classificar como “certas”.

    Eu acho que o “mas já é tarde demais” é uma brincadeira com o tempo perdido da moça, bem mais que “11 minutos”. Desculpa, foi péssima, mas não resisti.

  • Malu 24/01/2008em22:47

    Corrigindo: Curiango Curiango Curiango

  • Pedro Curiango 25/01/2008em04:24

    Malu: acho que se juntarmos a boa história do Sérgio, meu comentário e o seu, acabaremos dando material para uma tese doutoral da PUC sobre os palimpsestos da atual narrativa brasileira: estrela (do Norte, guia) da VIDA INTEIRA, TEMPO PERDIDO, 11 MINUTOS; a “clara” referência a São Tomás de Aquino (que temia o homem que só lia um livro) na ameaça de suicídio do protagonista colocado nesta situação ; a trágica consciência de que “morto não lê” (logo ler é estar vivo); a vida inteira espelhada na poesia de ontem (Bandeira) e no mundo tecnológico de hoje (o “video game”); a moça nua na luz fraca da rua que entra pela janela (Edward Hopper!). E este seu ardiloso “erro” (propositado?) metamorfoseando meu noturno curiango num CURIANO, de teológicas implicações curiais. Meu palpite poderia ser visto como uma pretensiosa tentativa de elevar meu fraco vôo de noitibó ao daquele editor do Raymond Carver, que andou podando os contos do mestre. Talvez alguém se aventure ao trabalho…
    Eu li as respostas consideradas “certas” pela moça como uma pequena ironia: Proust é o mais “ilegido” dos grandes monstros literários. Há pouco, o “The New Yorker” publicou uma charge na qual o marido explicava para a mulher, apontando para um homem sentado no sofá da sala: “É o leitor que contratei para ler Proust em meu lugar.” Hoje em dia, quando alguém, nestas enquetes de jornal, diz que Proust é seu autor preferido costumo pensar naquelas candidatas a “miss” que diziam adorar “O Pequeno Príncipe. “
    Mas, agora, a sério: esta minha brincadeira só é possível porque estas relações podem ser lidas no texto (embora humoristicamente) e é isto que faz dele um “excelente conto”, como diz aí acima o Clélio.

  • andré telles 25/01/2008em07:44

    Incluo-o me na unanimidade. Muito bom, Sérgio!
    Abraço, André

  • joao gomes 25/01/2008em10:46

    Só posso dizer que a cachaça faz coisa.
    A moça na verdade era uma pseudo-intelectual. “Frases certas”.. Besteira!!!A frase: “mas já era tarde demais” soa como arrependimento…

    Como quisesse justificar seu coito.
    Existe justificativa para isso?
    Penso que, no contexto do texto, nao.
    A vida nao é para ser explicada.

  • idiosyncratic idiot 25/01/2008em12:15

    Comentário de Daniel Brazil: “Borges (o argentino) disse uma vez que levaria um dicionário. “Está tudo lá. Toda a literatura do mundo!” ”

    Sábio homem! Eu faria o mesmo.

  • Anderson de Souza 25/01/2008em12:57

    Olha Sérgio! Achei que o cara que levaria o vídeo-game, pudesse levar um livro do Jonathan Coe, Paul Auster, Cristovão Tezza ou até mesmo um Raduan Nassar. Mas realmente ter um Paulo Coelho é sacanagem com as futuras perspectivas da moça. Mesmo o último parágrafo sendo um pouco preconceituoso em relação ao game, e daí? É só um conto mesmo.
    Gostei.

  • Sérgio Rodrigues 25/01/2008em13:11

    Anderson e outros que viram preconceito na referência ao Sonic 2: adoro Sonic, joguei muito com meu filho, e acho que essas coisas funcionam melhor na ficção quando têm alguma carga de afetividade pro autor. Aliás, também sou Flamengo, embora – juro – nunca tenha tido canecão com escudo. Quanto ao PC, deixo a critério dos leitores. Abraços.

  • Alexandre Marino 25/01/2008em13:36

    Caramba, que história trágica!

  • C. S. Soares 25/01/2008em14:31

    O texto é bom, Sérgio, mas o que mais me interessou foi o seu enigmático comentário (aqui mesmo na caixa de comentários) “que está me obrigando a rever algumas idéias sobre internet & literatura”… Que tal compartilhá-las conosco? Afinal, todos por aqui (vá lá, a grande maioria), assumem suas posições de forma clara e sem “meios tons” (inclusive suas opiniões sobre escritores A, B ou C, afinal são apenas opiniões isto que não fazem parte de nenhum estudo teórico sério), concorda?

  • C. S. Soares 25/01/2008em14:35

    Complementando meu post anterior, recordemos Tom Brasileiro:

    “Acho que o Brasil é muito o avesso das coisas; muito de cabeça para baixo; muito ao contrário, de trás para diante.” Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 25 de Janeiro de 1927 – Nova Iorque, 8 de Dezembro de 1994).

  • maustar 25/01/2008em14:42

    levaria o tetris, naqueles minigames de camelo…interminável…

  • Sérgio Rodrigues 25/01/2008em15:20

    Claudio, quando tiver chegado a alguma conclusão, terei prazer em “compartilhá-la”, naturalmente “de forma clara”, como sempre fiz. Por ora, só posso registrar o abalo numa certeza que tenho apregoado por aí, em entrevistas e mesas-redondas: a de que a internet presta um grande serviço à literatura, mas muito mais como espaço de discussão do que de publicação. Agora, cá pra nós, enigmática mesmo foi essa citação do Tom Jobim.

  • Sérgio Rodrigues 25/01/2008em16:10

    Claudio, acho que estou burro hoje: só agora entendi que sua insinuação de falta de clareza deve ter a ver com o fato de eu ter deixado “a critério dos leitores” minha opinião sobre Paulo Coelho, confere? Bobagem, rapaz. Acontece que discutir PC, um tema recorrente entre alguns leitores do Todoprosa, não acrescentaria nada ao meu conto, daí as reticências. De resto, como já disse aqui em outras jornadas, PC é para mim um baita não-assunto do ponto de vista literário, me interessa pouquíssimo. Tentei ler dois ou três de seus livros e não consegui ir adiante. Acredito que seja um fenômeno digno de estudo no campo da leitura e até da cultura como um todo, mas como literatura propriamente dita é primitivo. Um abraço.

  • Cezar Santos 25/01/2008em17:41

    Sérgio,
    comigo aconteceu igualzinho; tentei ler uns 2 ou 3 livros do PC e não consegui passar da pg. 10… Olhe que eu fui com total boa vontade, mas não consegui…rsssss…. Mas eu me prometi que ainda vou ler um livro do homem, juro que vou.

  • Noga Lubicz Sklar 25/01/2008em18:36

    Joyce no cotidiano VII (do Noga Bloga)
    Eu que não sou besta de entrar na discussão do Todoprosa, ótimo blog do jornalista e escritor Sérgio Rodrigues, pra dar uma de esnobe e dizer que livro levaria para a tal da ilha deserta. Muita gente reclamou, personagem inclusive. Só um? Unzinho só? Me mato antes. Prefiro nenhum.
    Mas cá entre nós, na encolha e sem muita escolha, confesso: eu levaria o Ulisses. No original, é claro — com rima, lirismo e riso, charada e ritmo — que não estou pra texto intragável. Ou mastigado demais. E ficaria muito bem, anos e anos relendo a mesmíssima e nunca a mesma coisa e gargalhando sozinha:
    — Gente! Descobri! (gritando para o nada. para o nada e para ninguém, feliz da vida) Ó! Olha só o que Joyce quis dizer aqui! Já leio esse livro há uns vinte anos e só agora é que entendi, pode?
    Bum. Morri.

  • Luciano Milano 25/01/2008em21:47

    Bom texto, leve, espirituoso, boa linguagem… um livro só não daria mesmo. levaria pelo menos uns cinco: cem anos de solidão, pequenas epifanias, viva o povo brasileiro…
    mas paulo coelho não dá. k k k k k k k k k

  • C. S. Soares 25/01/2008em23:01

    Sérgio, aguardaremos suas conclusões. Internet como plataforma de publicação requer que alguns conceitos já estabelecidos sejam repensados. Estamos, como sempre digo, em fase de transição. Copiar na internet o que já está estabelecido é besteira. Temos que fazer diferente. Como? Também não sei. Sabe, Sergio, internet faz parte do meu dia a dia desde 1988. Naquela época era Bitnet, Usenet, etc. Muito caminhamos desde lá. Mas, basicamente, a Net ainda é plataforma de comunicação BIDIRECIONAL (por isso, naturalmente, vc identifica que discussões fluem. Ou seja, that’s the way it works). Rapaz, o livro (a literatura, enfim), como o conhecemos hoje é unidirecional. E temos ainda uma dificuldade de imaginá-lo diferente. Mas, vamos chegar lá. Logo, teremos o momento do estalo, do insight e aí tudo fará sentido.

    Em relação ao Tom. Nada de enigmático. Hoje, Tom faria 81. Coloquei no pontolit um vídeo dele em que ele dá esse depoimento. Mas, concordo com o Tom. Aqui no Brasil as coisas parecem sempre muito do avesso. Explico mais a frente…

  • C. S. Soares 26/01/2008em00:04

    Sérgio, meu garoto, o que eu disse (e vc considerou insinuação) não poderia ter sido mais direto. A dicotomia de classificar Paulo em termos de literatura como “primitivo” e aceitá-lo como um fenômeno (no campo da leitura e da cultura) me faz pensar na outra (velha dicotomia) de “significar” a literatura: algo que segrega ou aquilo que nos une? E quando une, une por que critério? Alencar escreveu a Machado””Em literatura não há suspeições: todos nós, que nascemos em seu regaço, não somos da mesma família?” Mas, afinal de contas, que família(s) é(são) essa(s) a que pertencemos? Pelo menos vc deixa claro sua opinião (nada além disso). É uma opinião não criteriosa já que no julgamento de outros autores cuja “obra” foi bem menos exposta e validada pelo público vc parece, muitas vezes, ser mais tolerante ao “não assunto”. Questão de gosto? Pode ser. É justo. E o gosto dos mais de 100 milhões leitores do Paulo? Ora, desde Descartes, bom senso é a coisa mais bem dividida do mundo. Quem aqui vai achar que tem menos que o outro? Pois é eles tb não acham. Resumindo: deviamos é pensar em meios de aumentar o número de leitores. O seu conceito de literatura me parece um “prazer para os muito pouco iniciados”. Pontos fora da curva (lembremo-nos da Curva de Gauss, ou curva de sino, da estatística, que se baseia em média e desvio padrão). Queremos mais leitores dentro da curva, não fora. E não é apenas para aumentar o número de “compradores de livros”, mas de leitores.

  • C. S. Soares 26/01/2008em00:07

    *muito poucoS iniciados

  • Sérgio Rodrigues 26/01/2008em02:55

    Cláudio: você foi tão “direto” em seu comentário anterior que sequer tinha citado o nome de seu amigo Paulo. Eu chamo isso de insinuação. Quanto à discussão em si, que desde o início eu tentei evitar, não gostaria de me estender nela agora. Ambos perderemos tempo, pois trata-se de pontos de partida muito diferentes. Você julga mérito literário pelo número de leitores. Eu digo que o número de leitores não tem – nunca teve e provavelmente nunca terá – nada a ver com isso. São curvas que às vezes até se encontram, de modo fortuito, mas na maior parte das vezes não.

    Você não precisa concordar com minha opinião, mas deveria ter a elegância de não acusá-la de pouco criteriosa. Me parece bem sólido aqui no blog o critério de valorizar a qualidade literária em suas diversas manifestações. O autor pode ser comercial (o grande Elmore Leonard me ocorre de cara) ou não, “fácil” ou “difícil”, desde que saiba escrever um texto que não aborreça quem já teve a sorte de ler meia dúzia de autores na vida. Não é o caso de Paulo Coelho, infelizmente.

  • Mozzambani 27/01/2008em17:46

    Numa ilha, com comida à vontade e mais nada para fazer, a única opção de livro, seria um um bom livro de receitas… E a melhor saída, a morte por obesidade!

  • Tibor Moricz 28/01/2008em11:02

    Não levaria livro nenhum. Mas uma tonelada de papel e muitas e muitas canetas.

  • Eliane Azevedo 29/01/2008em16:15

    Adorei o continho, ri muito, li em voz alta pra outras pessoas e não sei como isso foi desandar numa discussão sobre Paulo Coelho, conceitos literário e internet. Que podiam muito bem navegar naquela caneca do Flamengo até a próxima ilha deserta.

  • Rezende 29/01/2008em23:09

    Todo prosa, hã?!

    Sabe aquele “lero” que te prende? Pois é. Foi o que percebi nesse texto aqui. Objetividade e humor. Muito bom.

    Agora quero ver é você encarar a minha prosa besta. Hehe.

    Falo sério sobre prosa besta. No LOROTA BOA, coisas, plantas e bichos ganham vida e interagem com o autor. É onde invento e até aumento, mas não escondo nada.

    Vê lá, Sérgio.

  • André Gonçalves 30/01/2008em18:37

    coitada.

  • Rui 31/01/2008em17:26

    Coitada! Por isso que não é bom tirarmos conclusões apressadas! Muito bom texto.

  • Ed 05/02/2008em15:42

    Olha, foi vacilo ela descobrir que o cara era mongo devido ao Sonic… A pessoa pode jogar E gostar de ler também, e de ler coisas boas. mas tudo bem, o resto do contículo foi muito divertido.

  • Ed 05/02/2008em15:43

    E, olha, PC é ruim de doer mesmo, fala sério, galera, defender esse espertalhão é de dar pena. O cara é gênio em faturar, isso eu admito.

  • Sergei Chiodi 10/02/2008em04:48

    Primeira vez no site. Bem, o que dizer: não gostei. Achei fraco.

  • Gabriel 24/02/2008em20:18

    Texto simplesmente perfeito. Parabéns.