Peço desculpas a todo mundo que comprou meu ebook “Baby, I’m yours” e leu na página 293: “Ele se retesou por um instante, mas então ela sentiu seus músculos ficando mais relaxados, e ele cagou no chão”.
Susan Andersen, autora americana de romances românticos conhecida por adicionar pitadas de pimenta na massa açucarada, foi obrigada a esclarecer que não, seu herói não precisa de fralda geriátrica e de modo algum lhe passaria pela cabeça ser tão deselegante com a mocinha. Andersen avisa que não escreveu “cagou” (shitted) e sim “mudou de posição” (shifted).
Mudou de posição (shifted), ele MUDOU DE POSIÇÃO (SHIFTED)! Com sorte, isso talvez esteja só na versão em iBook que eu comprei, mas se estiver na sua também, por favor, me avise. Já entrei em contato com a editora para implorar que o problema seja corrigido imediatamente. Tarde demais para nós… pelo amor de Deus.
Alison Flood, do “Guardian”, chamou essa troca de um f por um t de “melhor erro de edição de todos os tempos”. Perde na tradução, uma pena, mas é no mínimo candidato ao título. A preparação da frase escrita por Andersen (retesou-se, relaxou) é perfeita.
O site Smart Bitches Trashy Books preferiu dar à autora o prêmio de “Melhor reação a um erro de edição de todos os tempos”.
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A literatura brasileira se divorciou litigiosamente da maior parte dos leitores. É daqueles tipos de divórcio em que um lado fica falando mal do outro eternamente. Nem sempre foi assim. Nossa educação, que é uma das grandes vergonhas nacionais, parece ser uma das razões desse descompasso. O jogo pesado da indústria editorial internacional é outra. Mas não acho que nós, escritores locais, possamos posar só de vítimas. E não me refiro apenas à anemia da nossa literatura comercial. É claro que a literatura dita séria, esteticamente ambiciosa, vai sempre falar para pouca gente, mas o natural é que de vez em quando, por motivos difíceis de prever, um livro pule o cercadinho e ganhe o mundo, como aconteceu com “O filho eterno”. Por que isso não ocorre com mais frequência? Estou longe de ser pessimista, vejo muitos sinais de amadurecimento na postura dos escritores, mas a tarefa à nossa frente não é fácil. No dia em que reconquistarmos pelo menos um pedacinho das listas de mais vendidos, todo o sistema vai se beneficiar, porque um mundo literário que exclui de antemão o leitor abre a porta para relações viciadas, deturpações e, no limite, para uma acusação de futilidade que é difícil de rebater.
Gostei da entrevista que Rafael Rodrigues fez comigo para a revista digital Outros Ares, que ele edita com Marcelo Barbão.
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As inscrições para o I Concurso Todoprosa de Resenhas – Brasil, Século 21 se encerraram hoje ao meio-dia. Os textos em disputa avaliam desde livros famosos até outros menos conhecidos. A maioria tem acabamento profissional, vai ser dura a briga. Obrigado pelas inscrições e boa sorte aos participantes. A primeira das três resenhas vencedoras será publicada aqui no blog na segunda que vem, dia 19.
5 Comentários
hahaha!
hahahhahaha muito bom! =D
No meu tempo de editor, felizmente curto, topei com um probleminha de revisão: onde um certo poeta, bastante conhecido aqui no sul, tinha escrito “ressecas violetas”, o revisor corrigiu pra “ressaca violenta”. Achei que melhorou, mas, pra prevenir um chilique ou um duelo, tivemos de voltar atrás.
Sérgio, excelente entrevista! Parabéns!
Um precedente interessante: na primeira edição das “Poesias Completas” de Machado de Assis (Paris: Livraria Garnier, 1902), o tipógrafo trocou o “e” por um “a” na hora de compor a palavra “cegara”.