Na primeira missa do dia, ouviu o coro entoando o mais estranho dos latinórios:
Membrum virile, mulier super virum, vas naturaaaalis…
Vas prepooosterum!
A voz de Alfombra ficou martelando em seus ouvidos as obscenidades extraídas de autos brutais pelo resto da manhã. Ocorreu-lhe a certa altura que o gordo ancião trocaria de bom grado uma galeota repleta de tonéis de vinho verde pelas confissões encadernadas em letra de fôrma.
Vas prepooosterum!
Lembrou-se que na noite anterior sonhara com Santo Agostinho, um Santo Agostinho invertido que começava a vida impoluto e a terminava se esbodegando em todas as orgias. No fim, Frei Alfombra o passava no espeto. Havia um outro condenado, Glauceste. Antes de marchar para a fogueira, o grande árcade soprara em seu ouvido:
– É esta a nobre causa, Simão! Presta atenção: é esta a verdadeira Inconfidência!
A edição F – isto é, a sexta – da bela revista de contos trimestral “Arte e Letra: Estórias” (96 páginas, R$ 18,50) traz um conto inédito meu, “Vas preposterum”, uma fantasia cívico-pornográfica ambientada em Vila Rica no tempo da Inconfidência Mineira.
Lá estou na excelente companhia de, entre outros, William Faulkner, Antonio Tabucchi, Arthur Conan Doyle, Ryûnosuke Akutagawa, Luiz Vilela e – para mim uma revelação, embora eu já conhecesse os elogios rasgados feitos a ela por Cristovão Tezza – a catalã Mercè Rodoreda (1908-1983), que comparece com o conto “O sangue”.
A revista, feita em Curitiba, até dá as caras em livrarias, mas costuma ser mais fácil adquiri-la no site da editora.
5 Comentários
Sérgio, a revista oferece alguma interface que possibilite que eu, usuário-leitor, faça a análise do vas naturalis e do vas praeposterum, comparando suas anatômicas características, suas semelhanças e diferenças?
Bricandeiras à parte, parabéns pela publicação. Se me deparar com alguma edição, farei questão de adquirir para saber que fim teve o vas praeposterum
Vale
Sérigo, sou assinate da Arte & Letras. É realmente uma ótima revista de contos, talvez única no Brasil no gênero. Voce conhece alguma outra que publique somente contos?
Valeu, Rafael.
José Rubens: bom, tem a Granta…
Abraços.
Essa revista é mesmo muito boa. E só a descobri porque um dia fucei a fundo a revistaria da livraria cultura. Podia nunca a ter descoberto!
Sérgio, quem traduziu o conto da Mercè Rodoreda? Ela é craque mesmo! O Ronald Polito (que é um excelente poeta e amigo meu) já publicou, numa tiragem muito limitada, algumas coisas dela. Um abraço.