Vallejo não consegue, salvo em uma ou outra passagem, fazer com que seus argumentos mereçam ser ouvidos como mais do que uma piada de mau gosto. Pior: não convence de que sua argumentação é tão sólida e fundamentada quanto a de um pré-adolescente. E não é que seus alvos mereçam muito crédito. (…) Só que a prosa de Vallejo é pobre demais para fazer valer suas idéias. Ora, da mesma forma que um ditador pode chegar ao poder apenas com seu talento oratório, para subjugar quem o escuta, um romancista depende de seu talento para converter o leitor em seguidor.(…) Vallejo se limita a clamar e insultar, a vomitar bravatas sem se preocupar com qualquer forma narrativa. Há poucas variações de tom; o texto segue um ritmo monocórdio e modorrento.(…) Se a intenção era ser um Thomas Bernhard, Fernando Vallejo não conseguiu ir além de Marcelo Mirisola.
Trechos da resenha de Jonas Lopes sobre “O despenhadeiro”, do colombiano Fernando Vallejo, no “Rascunho” de agosto.
18 Comentários
Nenhuma dúvida quanto ao verdadeiro objetivo da resenha: desancar Mirisola. Aguardemos a réplica.
Me pergunto por que você achou isso digno de figurar eu vosso site, Sérgio.
Há mesmo Mistérios Insondáveis até pra mim…
Eu gostei da comparação.
Sérgio, achei engraçada a comparação. Mas aguardo agora a resposta do Mirisola, pouco educado como de costume, desancando você e o Jonas Lopes e exautando o Vallejo.
Waalll, como diria o finado….
Preciso ler esse Vallejo urgentemente. Se tanta gente o ataca — e aqui parece até haver uma verdadeira campanha contra o gajo —, alguma qualidade ele deve ter. Vou descobrir, prometo!
Infelizmente, meu arame anda curto, por isso vou ter de ler o Vallejo no original, num e-book que baixei dia desses. Mas vaou dar uma andada nos sebos amanhã, quem sabe descolo um em formato de gente.
Agora, otra cosita, minha capacidade de fruição anda cada dia mais prejudicada. Há uns quatro anos tentei ler um livro desse Bernhard e quase morri de tédio. Achei uma coisa chata, rebarbativa e confesso, não consegui romper as 50 paginas. Quando desistit senti uma alívio profundo…
Enttão se o Vallejo tinha em mente ser um Bernhard, sei não… o homem deve ser mesmo ruim de doer.
Não li os outros romances de Vallejo, mas “O despenhadeiro” me pareceu um relato tão irregular quanto interessante. Decerto que guarda semelhança com a prosa de Mirisola, na medida em que seus narradores discorrem sobre a vida de maneira raivosa e pessimista, com uma espécie de “lirismo violento e desesperado”, por assim dizer.
Como bem enfatizou o resenhista do “Rascunho”, a argumentação de Vallejo é primária, e suas imprecações contra tudo e todos por vezes soam aborrecidas, além de não chocarem ningúem. Ou será que chamar João Paulo II de “veado”, Deus de porco, a própria mãe de piranha, e a Colômbia de chiqueiro, entre tantas outras investidas desbocadas, causa repulsa ou transtorno em algum leitor experimentado? A mim ora causou risos, ora enfado.
O que o livro possui de melhor, a meu ver, é o desejo (que o narrador mantém quase oculto) de justificar a própria existência, de exaltar o que há de bom no gênero humano, e assim poder salvar, não apenas o irmão aidético, mas sobretudo a si próprio.
detesto “crianças terríveis” em qualquer forma de arte. são adultos eternamente adolescentes, ainda mais em suas intrasigências. li alguns trechos de “A virgem dos sicários” de Vallejo e gostei. Até o compraria. Mas minha intuição e o comentário de algumas pessoas que admiro me dizem que o cara é um bolha… Agora, Mirisola é chato, não tenho interesse nenhum em conhecê-lo, além de sofrer do grande mal que assola a literatura brasileira contemporânea (o umbiguismo), mas reconheço que ele é um dos melhores nomes da literatura pátria dos últimos 10, 15 anos. Seus méritos literários quase superam seus defeitos.
Olá, Sérgio,
Sou aluno de jornalismo da PUC-Rio e estou fazendo um trabalho sobre as representações do medo urbano na literatura brasileira contemporânea. Você tem alguma indicação de livros que tenham essa temática?
Obrigado desde já, pela ajuda,
Guilherme Amado.
Sou fãzão do Mirisola. Gosto muito dos textos dele. Mais não fosse, apenas porque ele tem uma “dicção” toda própria, impossível de ser imitada. E, embora não o conheça, tive o prazer de assistir a uma “palestra” sua no Instituto de Letras da Uerj ano passado e o cara é uma figura! Engraçadíssimo, sem a menor vaidade pessoal (ou então ele consegue escondê-la muito bem), muito franco, muito simpático. Acho que nunca ri tanto dentro das vetustas paredes do Instituto de Letras!
Guilherme, respondi por email.
“Primeiro eu não gostei do cara. Daí parti pra não gostar do livro”.
Sou diretor Ass. Moradores …C. Grande, RJ (CNPJ 30.454.953/0001-90) e fundei biblioteca pública. Já temos 600 obras e a meta é 10 mil. O Senhor pode nos ajudar, doando seus livros? tels: (21) 33946618 e (21) 92855704, Rua Cumaí, 37 Campo Grande, RJ. CEP 23052-195.
Muito obrigado
Gilberto José Muniz
Ninguém leu. Ninguém gostou. O espírito é esse aí mesmo!
Penso que não devemos levar Vallejo tão a sério. Digo o mesmo do Mirisola, mas não deixo de lê-lo toda semana – é um texto muito divertido.
Gilberto, eu tenho livros para doar, mas será preciso buscá-los aqui em casa. Moro entre a Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Se interessar, entre em contato por email.
bem, meu email é o contemporanea@carlarodrigues.com.br