“Sugerir que Jane Austen era lésbica ou Sófocles um travesti”, escreve o teórico da literatura Terry Eagleton, “é a forma encontrada por aqueles que não têm nada especialmente brilhante a dizer sobre a ironia ou o destino trágico para forçar sua entrada na cena literária. É um pouco como ganhar uma reputação de geógrafo eminente por achar o caminho do banheiro.” A literatura, em outras palavras, é grande demais, independente demais, importante demais para ser aprisionada nos domínios da vida. E de qualquer maneira, o que exatamente é tão importante na vida? O poeta John Ashbery uma vez me disse que nunca quis escrever sobre nenhum dos assuntos normais da vida porque “as mesmas coisas acontecem a todo mundo”. Há uma desconexão entre arte e vida que deveria nos pôr em alerta contra invasões morais ou psicológicas. Orwell se perguntou se nossos sentimentos em relação a Shakespeare seriam diferentes caso fosse descoberto que ele tinha o hábito de atacar menininhas sexualmente. Bem, seriam? A resposta, parece, é sim.
O ótimo artigo de Bryan Appleyard no “Sunday Times” (acesso livre, em inglês, aqui) reflete sobre a fascinação do nosso tempo com a vida dos escritores, traduzida no boom das biografias, obras que, mesmo quando sérias, ficam na vizinhança da fofoca. Appleyard demonstra acima de qualquer dúvida que a confusão entre arte e vida é velha de alguns séculos, pelo menos. E ainda assim me deixou mais convencido do que nunca de que estamos vivendo um momento de virada.
A verdadeira obra de um escritor é e será cada vez mais – do ponto de vista do público – sua biografia (mesmo que imaginária), suas taras com animais de pequeno porte, as pessoas que ele algemou na cabeceira da cama, suas bebedeiras épicas, o bico como traficante de escravas brancas ou ogivas russas contrabandeadas que aceitou num momento difícil da vida. Os livros que escreveu? Subprodutos. Quem está ligando para isso?
Qualquer jovem escritor de hoje que tenha senso mercadológico deve se preocupar primeiro em inventar para si uma vida com apelo midiático. E só depois, se sobrar algum tempo, escrever. Ou nem isso: basta comprar um romance pronto de algum desses ghost writers que não têm vida, coitados.
36 Comentários
huh!
muito legal o texto, valeu pelo link.
Sergio,
se sempre houve esse fascínio pela biografia, é fato que hoje ele é maior – e está ligado a uma ampla desvalorização do ficcional a favor de uma literatura referencial, que narra a vida de filósofos, de pobres afegãos ou iraquianos. É só dar uma olhada nas listas dos mais vendidos.
A resposta óbvia para isso é que a vida (com terrorismo, violência, os “simulacros” digitais, etc.) está fluida demais para procurarmos ficção na literatura, por isso procuramos a “realidade”, o factual. Você tem outra sugestão?
Realmente, nos importamos muito com a influência da vida do escritor na sua obra, embora só a mensagem ou idéia tenha o seu próprio valor, talvez para melhor entender a geratriz daquilo que consideramos excepcional. É uma referência a mais para nosso entendimento/avaliação, mas não a única, senão pode virar uma “fulanização” da obra.
Isso lembra um livro de Agualusa, escritor angolano. o titulo me fugiu, mas é sobre o merdado de “biografias” e/ou genealogias. O objetivo deste exercicio era economico.
Mas escritores de hoje talvez nao precisem de uma biografia postiça, mas de um bom marketeiro para dar brilho a sua historia de vida.
Sinceramente, se quisesse saber da vidade alguém eu procuraria um pouco de história de verdade… porque já estão transformando a vida de muita gente em ficção… e se for pra ler ficção, que sejam bons livros, de bons autores…
concordo com o joao gomes. Haja marketeiro…
É sempre difícil determinar o que faz parte de um certo desenvolvimento “natural” de qualquer forma de arte e o que é resultado de tramas do mercado. Talvez, não dê nem para separar uma coisa da outra, por se interpenetrarem. Mas não pode ser apenas coincidência o fato de o mercado de biografias ter tido um ‘boom’ numa era de tamanho foco nas vaidades egóicas, no culto da celebridade e na transformação do privado em espetáculo para consumo. De todo modo, muita coisa inteligente e de bom gosto vem sendo produzida em meio de tanta porcaria. Recomendo a biografia de Tom Jobim, escrita pela irmã dele, Helena, que se equilibra entre a admiração pelo irmão “iluminado” e a austera sinceridade para narrar o lado B do nosso compositor.
Sinceramente, não consigo entender essa dicotomia “Obra X Vida”. Pra mim está tudo indissociavelmente ligado. Duvido que muita gente lesse Oscar Wilde se não fossem as sacanagens de Wilde com os cavalariços e pequenos empregados e, finalmente, com o seu Bosie (que foi quem sacaneou o pobre Wilde, se pensarmos bem). Eu adoro saber da vida dos autores que amo, é mais um dado do jogo, às vezes até lança uma luz diferente sobre os textos que leio deles.
Hoje em dia a gente vê esse interesse do público leitor com relação a um autor brasileiro, o Santiago Nazarian. Todo mundo adora saber que ele é gay, que já trabalhou num bordel ou algo parecido, que usou (usa? alguém sabe?) drogas, que já cortou o próprio corpo (Body Art) & todo o resto. Faz parte. Acho divertidíssimo. Quem quer um santo como autor preferido. Ou, pior: um cara completamente sem graça, à nossa própria imagem e semelhança?
E o epitáfio de um ghost writer sempre será algo como “Aqui jaz o que foi sem nunca ter sido”.
Saint-Clair Stockler, achei sua citação ao Oscar Wilde totalmente imprópria. Sim, porque ele é praticamente um caso único. Quem leu alguma biografia dele sabe: o cara já era uma “celebridade literária” antes mesmo de ter escrito o seu primeiro livro. É verdade que qualquer porcaria que ele escrevesse iria fazer sucesso, mas não ficaria para as gerações seguintes. A obra dele ficou porque é absolutamente brilhante em tudo, o romance, as peças, as cartas e até o livro pra crianças. Eu li “O retrato de Dorian Gray” numa biblioteca pública do interior do Pará, sem ter a menor idéia de quem era o autor, e o impacto foi o mesmo. O próprio Bosie era um poeta muito talentoso, mas sua obra foi totalmente ofuscada por Wilde, a dele e de todos os outros escritores britânicos daquele período.
Mas existem inúmeros outros exemplos de escritores cuja vida não interfere em nada com a obra, e às vezes a contradiz frontalmente. Thomas Mann teve uma vida burguesa e tediosa, mas nos seus livros, ele nos apresenta a miséria humana de maneira tão sutil que ficamos enredados por ela. Quando você lê “Morte em Veneza”, você fica especulando que o autor é um pederasta pedófilo, por acaso?
Plante a árvore e faça o filho, mas antes de escrever o livro pratique incesto no jardim da praça…
Será que é isso mesmo?
Saint-Stockler
Mas a Body-art era uma outra coisa. Eram performances públicas. Teve um cara que se suicidou.
E Terry Eagleton!!! Tendencioso demais. Fácil de ser rechasado.
A mim importa pouco o que o artista plático ou escritor viveu. Se baseou o livro em sua vida se “Madame Bovary c’est moi” ou sei lá…
Estou estarrecida como as paixões levaram uma pessoa brilhante como o Vinicius Jatobá embora. E ninguém fez questão que ele ficasse.
André, você esqueceu de outros: Hemingway, Karen Blixen, Capote, Proust. Todos eles com vidas fascinantes, não sei porque o caso do Wilde é “praticamente único” na história da literatura.
Quando leio “Morte em Veneza” fico pensando em muitas coisas, sim, inclusive em algo parecido com o que você sugeriu. Mas penso em outras também.
Acho que você não entendeu o essencial do que eu quis dizer. Vou tentar resumir: não se pode prescindir da biografia de um autor na análise de suas obras (como não se pode se restringir apenas a ela). Você parece dizer que isso só é possível quando o autor é uma “celebridade”. Eu vou mais além: SEMPRE é possível, mesmo quando – como disse você – a vida do autor é tediosa e monótona.
Clarice, o Jatobá não foi embora, não. Qualquer dia desses ele aparece de novo. Se estiver com saudades dele, olha aqui ó: http://outrababel.blogspot.com/ (mas é provável que você já conheça).
“Quando você lê “Morte em Veneza”, você fica especulando que o autor é um pederasta pedófilo, por acaso?”
Diz a lenda que ele era sim. E com os próprios filhos.
Também acho que vida e obra são indissociáveis. O que não quer dizer que a vida deva sobrepujar a obra; ela apenas pode ajudar um pouco a explicá-la, seja no caso das loucuras do Wilde, seja na vida tranqüila de acadêmico do Mann (mesmo o tédio pode explicar muita coisa).
Só acho que algumas pessoas deveriam tomar cuidado e não julgar a obra pelo autor, como acontece muitas vezes.
Saint-Clair Stockler, fui reler o meu primeiro comentário e acho que ele ficou um pouco confuso. Explicando melhor: eu vejo o Oscar Wilde como um exemplo único de um escritor canônico em que a vida dele foi tão ou mais importante que a obra, e cuja biografia teve uma influência decisiva para o seu reconhecimento literário. Os escritores que você citou aí (que infelizmente eu não li ainda) podem ter tido vidas “loucas”, mas não são essas loucuras que fazem tanta gente lê-los.
Existem dois debates aqui na verdade. Um é a questão da indissociabilidade entre a vida e a obra de um autor. E o outro é o fascínio que eventuais similaridades entre vida e obra (mas só a parte louca, claro) causam nos leitores. No outro comentário, eu ía falar só do segundo debate, e acabei me atrapalhando e misturando os dois.
Oi André! Concordo com você: estamos debatendo duas coisas diferentes: a indissociabilidade entre vida e obra e deslumbramento pelas vidas excêntricas dos escritores. São realmente coisas distintas. O deslumbramento, não vejo graça. Na indissociabilidade, sim. Abraços!
Que papinho besta, hein
E o Borges? A única coisa interessante da vida dele foi que ele não ganhou o Nobel devido a suas posições políticas.
Acho que ele é um autor desinteressante, então.
Viver é uma arte (mal remunerada)
Verdade que ninguém ainda colou em mim o rótulo oficial de “escritora”, apesar de eu ter publicado um livro em 2000 (1500 cópias vendidas, 1500 cópias!). Mesmo assim não pude deixar de me imiscuir na classe ao ler a crônica de hoje do Sérgio Rodrigues em NoMínimo, sobre a tendência cada vez mais insistente de escritores que decidem tratar como seu “subject matter” a própria vida.
Decidem? Foi o que eu disse? Bem, no meu caso não decidi nada, mas sinto com certeza esse impulso irresistível de entupir as telas dos prováveis leitores com minha ladainha auto-referente. Difícil saber se alguma vida anônima, no caso a minha, interessa a alguém. No caso de eu ter o que dizer… Hum. Vamos esperar que sim. Outro dia uma amiga me escreveu que a vida dela daria um livro, mas como não era escritora, não tinha como escrevê-lo. Bem. Daí entende-se que para ser escritor, além de ter uma vida como todo mundo, é preciso saber extrair dela algo que valha a pena para quem lê. Se é meu caso não sei. Mas o blog é uma ferramenta ótima pra testar isso: vai se jogando lá os ingredientes do jeito que aparecem sem cuidado nenhum com a receita final… e se der bolo, ótimo. Espero que o meu, além de comestível, seja gostoso e alimente. Do tamanho que está ficando, sério: daria pelo menos pra acabar com a fome na África. Enquanto não rola, vou satisfazendo a minha fominha de exposição e torcendo pra agradar o apetite cerebral de alguém. Já são 8 blogs na lista, é coisa que não acaba mais.
Outro problema que esse tipo de escritor enfrenta é a obrigação de viver uma vida sempre interessante, instigante, à altura do que todo mundo julga “hype”. Aí é que a minha porquinha andou torcendo o rabo demais ultimamente. Apesar do meu segundo livro ser pura literatura, tipo prosa poética contemporânea inédita (confessional, é claro. recheado de sexo mas, para decepção da midia, sem um pingo de violência) o meu primeiro é um amontoado de baboseiras esotéricas das quais, por muito tempo, me envergonhei. Mas a vida era desse jeito, caramba. Tudo que conto lá aconteceu mesmo, e teve seus momentos de suspense e extrema emoção. Trabalhando no texto ontem, enquanto o transformo num interessante produto online do tipo “use como, quando e com quem quiser sem pagar nada a mais por isso” percebi o valor que aquilo tudo tem, embora pra mim, hoje em dia, soe como um passado distante, coisa de adolescente. Taí. Adolescentes de todas as idades, leiam o meu livro! Não engorda e o conteúdo ainda por cima faz crescer. Foi passando por lá que me tornei essa amante que sou hoje, essa mulher madura que goza, sim senhor, e consegue dominar com maestria e ritmo a poesia da paixão. Uau, Noga. Um pouco de modéstia cairia bem neste parágrafo, né não?
Bom. Assim esbarramos no terceiro, mas não menos crucial, problema do escritor autobiográfico, este pra mim, sinceramente, quase intransponível, embora no blog eu ensaie um bocado: a gente precisa se transformar num produto de marketing, se convencendo – e o que é pior, tentando convencer todos os demais – de que o que a gente faz tem o maior valor. Pode pegar que você vai curtir. Não perca tempo, aproveite que por enquanto é de graça.
Saint-Clair,
Conheço sim. Ele faz um trabalho brilhante no Blog. Olha! Eu já conheci alguns escritores e preferiria que não tivesse. Um em especial, bastante famoso, me fez mudar completamente a visão de sua obra. Acho que depende muito da obra do autor. Eu prefiro não saber nada ou só as coisas que se referem à obra. Mas que memórias está vendendo muito é inegável. Eu não leio nem a minha. Espero a sessão de psicanálise.
Saint-Clair,
Outro blog que eu gosto é http://opiario.livejournal.com/392131.html
Não sei se você conhece:)
Não sei se concordo com a conclusão/profecia do Sérgio Rodrigues no fim do post. É sempre perigoso para um observador estabelecer generalidades a partir do seu próprio comportamento, mas pessoalmente não me interesso muito pela vida dos meus autores favoritos. Joyce parece uma exceção, mas eu pareço mais interessado em comprar as suas biografias do que em lê-las.
Por outro lado, as vidas dos grandes fenômenos de vendas da literatura contemporânea não são particularmente conhecidas pelo público. Será que um grande número de pessoas que leu “O código da Vinci” sabe que a mulher do Dan Brown fez boa parte da pesquisa para o livro, ou que a maioria dos leitores de Harry Potter sabem que o primeiro livro da série foi recusado por vários editores e que J. K. Rowling estava passando por momentos financeiramente difíceis quando o escreveu? Acho que não, e uma possível conclusão irônica é que a obsessão biográfica é mais facilmente encontrada entre apreciadores de “literatura de qualidade” – com a sua mania de destrinchar cada frase, buscar cada gota de significado que possa ter escapado aos demais leitores – do que entre o grande público, que quer mesmo é se divertir com uma boa história, verdadeira ou não.
Hahahaha, Clarice, você conseguiu um feito raríssimo: me deixar vermelho.
Engraçado a sua experiência. Comigo aconteceu justamente o contrário: eu tinha uma birra imensa da Nélida Piñon (ainda mais agravada quando vi fotos de um famoso jantar em casa dos Marinho, logo assim à eleição do Roberto pra Academia, em que Nélida aparece toda sorridente à mesa, trocando confidências com o vetusto Patriarca, pavões ao fundo no jardim de inverno). Aí, um dia, teve uma palestra no Real Gabinte Português de Leitura: estavam ela, Nélida, mais a Rachel de Queiroz e a Lygia Fagundes Telles. Ao final, como é meu hábito, fui lá trocar uns dois dedinhos de prosa com as minhas paixões literárias. Pois não é que caí de quatro pela Nélida? Fiz uma observação a respeito de sua obra, dizendo que a achava extremamente bem-humorada. Ela parou, me olhou e disse: “Engraçado você dizer isso. Quase nenhum crítico percebe essa faceta”. Depois perguntei se podia lhe dar um beijo e ela: “Mas é claro!”. Foi imensamente gentil, carinhosa e receptiva comigo, um completo estranho. Isso foi em 96 ou 97, a partir de então virei um de seus fãs. Jurava que ela era um poço de soberba e falta de simpatia. Quebrei a cara.
Agora, há uma escritora carioca que eu admiro muito que foi extremamente antipática comigo por e-mail. Esta escritora mantém uma espécie de “revista de artes e literatura” na Web e eu, todo contentinho, mandei um e-mail perguntando se podia encaminhar um conto meu. A resposta dela: “Acho que não. A S*** é apenas para publicação das obras de amigos meus”. Minha cara foi ao chão! Continuo adorando-a enquanto escritora, compro tudo dela que consigo achar (recentemente ela lançou um livro de contos muito bom), semestre passado fiz uma monografia de conclusão de curso no mestrado utilizando como tema um dos seus livros de contos, mas consegui dissociar em minha cabeça a “persona real” (se é que se pode dizer isso) da “persona literária”. Outro dia topei com ela no lançamento de vários livros (o dela, inclusive) e fiquei observando-a de longe. Ela me pareceu tão solitária! Ficou sentada num canto, não tentou se enturmar. Algumas pessoas foram conversar com ela, mas logo depois ela deu um jeito de sair fora. Acho que algumas pessoas tem uma visão muito exagerada da própria importância. Tenho até uma comunidade pra ela no Orkut, que tem meia dúzia de gatos pingados. Ninguém a conhece, ou se conhece não a leu. E olha que é ótima. Que merda, hein? A impermanência budista é um grande ensinamento. Todos nós morreremos, desde o mendigo aqui da minha rua (só temos um, sim) até o Bill Gates. Ainda bem.
Foi nessa mesma palestra que fiz a seguinte pergunta para Lygia Fagundes Telles: “Por que, em seus textos, sempre há a presença da cor verde?”. E ela disse: “Você é a segunda pessoa que me pergunta isso. Eu gosto do verde porque é a única cor que amadurece”. Achei linda a resposta! Linda. Aquele foi um dia muito especial, que guardarei na lembrança pra sempre.
Fala-se abertamente na Alemanha que Thomas Mann teria vivido “desejos sexuais homo-eróticos freqüentemente reprimidos”.
A guerra fez com que os alemães se tornassem um dos povos mais tolerantes da Europa, a ponto de ninguém se importar com a vida pessoal do prefeito de Berlin, por exemplo:
http://www.klaus-wowereit.de/zur_person/und_das_ist_auch_gut_so
O bem-estar das crianças é algo levado muito a sério na Alemanha. Sendo assim, custo a acreditar que Thomas Mann continuasse a ser incensado pelo seu povo de origem se houvesse relato de pedofilia comprovadamente cometida por ele.
Um grande beijinho!
Carmencita La Guapa
Saint-Clair, sua querida Lygia separa sujeito do predicado com vírgula.
Borges, Machado, Guimarães Rosa, Salinger, Trevisan, Nassar… Vidas chatas, não?
Ótimo artigo, Sérgio. A ironia do final deixa claro em que time você joga. Se a aventura chegar de surpresa, que não atrapalhe a literatura.
Estrqagão, se o livro foi impresso com essas vírgulas, o problema é da editora (e dos revisores), não do autor.
Caro Sérgio,
isso é uma praga do Politicamente Correto também. O que tem de mala “revisionista-minorista” querendo provar que fulano era gay, beltrano era negro, ele era ela e vice-versa…uma farra das minorias.
Outra coisa de que você poderia falar, associado com essa obsessão pelas vidas dos escritores, é da obrigação ou mania de chocar colocando cenas escatológicas, bastante palavrão, personagens insensivelmente violentos etc.
Vida e obra são indissociáveis? Bem, depende do que se considera “vida”. Se ela incluir as leituras e as horas de trabalho, a aceitação das normas literárias da época etc., tudo bem. Se só valer o que o cara faz “na vida” (se bebe, se é religioso, que tipo de sexo faz, a que partido serve, se foi à India, se é õrfão, etc.) aí a relação vida / obra talvez seja uma bobagem. Boas biografias de escritores são como vidas de santos (a teoria é de Foucault): são escritas a posteriori. Depois da obra, em um caso, depois dos milagres (preparada para a canonização) no outro. Aliás, vida de atleta também é assim: fiugir da escola para jogar futebol ajuda a explicar Ronaldinho, nós achamos (depois de seu sucesso). Mas não ajuda a explicar a falta de sucesso de muita gente que não passa na peneira… Dito de outro jeito: a mesma “vida” de muitos escritores é vivida por muita gente que nem escreve. Explica o quê?
A boa literatura não precisa ser baseada no real, ou ter seus alicerces na vida do autor. A arte existe por si mesma.
Passo para deixar meu abraço. Tudo sempre muito bom por aqui, principalmente a denúncia em vida&arte…
Beijo.
Apesar que, depois que o Woody Aleen pegou a Soon-YI, nunca mais consigo ver seus filmes normalmente…