Dois obituários brilhantes.
O da agente literária alemã Ray-Güde Mertin, publicado ontem aqui mesmo em NoMínimo. Assinado por Paulo Roberto Pires, é informativo e emocionado na medida certa da enorme lacuna que ela deixa.
E, em vídeo, o do cronista de humor americano Art Buchwald, no site do “New York Times”, seção A última palavra, que traz o próprio morto dizendo como quer ser lembrado. Começa assim: “Olá, sou Art Buchwald e acabo de morrer”.
12 Comentários
Também gostei muito do obituário assinado pelo Paulo Roberto Pires.
Tenho pra mim a seguinte noção: é triste ver pessoas incríveis assim morrerem, mas é ótimo saber que alguém nota e sente estes falecimentos, porque é sinal de que alguém ainda dá valor às idéias e projetos dessas pessoas.
Lomyne,
concordo com suas palavras… é bom ver que alguém em algum lugar se manifesta por este tipo de perda. É triste perde gente boa e saber que a maioria esmagadora das pessoas não dá a mínima para isso… basta lembrar dos grandes artistas que só são reconhecidos décadas ou séculos após sua morte…
Será que a humanidade é tão medíocre que nunca aprende a dar mais valor aos seus grandes representantes?
Pior que sermos lembrados depois da morte é não sermos lembrados em vida. Kafka era quase um zé ninguém até morrer. Depois se tornou um ícone e foi cultuado.
“pior que não sermos lembrados depois da morte…” sorry.
“Passados os ciqüenta anos começamos a morrer pouco a pouco em outras mortes. Os grandes magos, os xamãs da juventude, partem sucessivamente. (…)
(…)Então – cada qual terá suas sombras queridas, seus grandes mediadores – chega o dia em que o primeiro deles invade horrivelmente os jornais e o rádio. Talvez demoraremos em nos dar conta de que também nossa morte começou nesse dia; eu sim o soube na noite em que, em meio a um jantar, alguém aludiu indiferente a uma notícia da televvisão em Milly-la Fôret acabava de morrer Jean Cocteau, um pedaço de mim também caía morte sobre a toalha, entre as frases convencionais.(…)
E outros foram se seguindo, sempre do mesmo modo, o rádio ou os jornais, Loouis Armstrong, Pablo Picasso, Stravisku, Duke Ellington, e ontem à noite, enquanto em um hospital de Havana ontem à noite pela voz de um amigo que me trazia até a cama o mundo de fora, Charles Chaplin. Sairei desse hospital, sairei curado, isso é certo mais pela sexta vez um pouco menos vivo.”
Julio Cortázar
errei Stravinsky, claro, e, não me lembro quem escreveu que “alguns já nascem póstumos.”
E não são poucos.
Ser póstumo, para mim, é grandioso. Seguir escrevendo, pintando sem reconhecimento do outro, que afinal é quem afere e estimula o trabalho, não é para qualquer um.
Morrer é muita sacanagem, exceto por suicídio. Aí a vida não fica atrás.
S_C. li também o livro da Lúcia, tem lá um conto que passa por kafka, outro por proust etc. Mas vc foi no (mais) luminoso deles todos. Que final bem amarrado. E bonito.
ah e do conto-título também gostei muito.
Ah e o Art Buchwald foi publicado no Brasil pela Manchete, sempre uma coluna larga de roda-pé, durante alguns anos. Pelo menos é o que me conta alguns exemplares esparsos e antigos da revista, que insisto em guardar, contra tudo e contra todos aqui de casa! Aliás, revendo, nem sempre era roda-pé.
E era um grande mestre do humor!
É um belíssimo conto mesmo, Pérsia.