Adivinhar o futuro do livro diante da suposta ameaça digital é como especular com o resultado que seu time favorito obterá no domingo. Você não tem como saber, não faz idéia e é melhor que não faça, porque se o seu time, por exemplo, vai perder de goleada, é inútil que você preveja isso, porque não poderá fazer nada por ele, nada para evitar a catástrofe. De modo que o melhor é não se incomodar demais com especulações. Depois de tudo, ocorrerá o que tiver de ocorrer. Mais ainda: na realidade o futuro digital do livro já está escrito, e não creio que em sua escritura eu tenha participado ou venha a participar.
Há pouco mais de dois meses, passaram aqui pelo Todoprosa os ecos de uma boa polêmica travada nas páginas do “New York Times” entre o ficcionista John Updike e o jornalista Kevin Kelly, o primeiro declarando-se horrorizado com as previsões do segundo de que o livro como o conhecemos, com autoria, estilo, começo e fim, está prestes a se diluir num grande livro universal sem autor e sem forma, acessado aos pedaços por mecanismos de busca – a própria internet, pois é.
A última edição do caderno cultural Babelia, do jornal espanhol “El Pais”, pula no bonde com algum atraso, publicando uma tradução do artigo de Updike. Como contribuição nova ao debate traz um curioso texto de Enrique Vila-Matas, do qual retirei o trecho acima. O fatalismo do autor de “Bartleby e companhia” me deixou meio exasperado, mas, pensando bem, quem pode lhe negar razão?
No mínimo, ajuda a entender a atração de Vila-Matas pelo escriturário de Melville.
12 Comentários
A internet estará para o livro assim como a televisão para o cinema. Fundamental é que se escreve bons livros.
Acho que não tem jeito mesmo, nesta nova era virtual talvez o fim do livro como conhecemos esteja próximo. E o negócio é não se preocupar demais com isto.Concordo: o fundamental é se escrever bons livros, a maneira como vamos lidar com eles no futuro é outro papo.
Discordo. É muito importante para toda cadeia de comércio de livros. Principalmente editoras, distribuidoras e livrarias.
abrs,
Sob o ponto de vista do leitor, posso dizer que após algumas dificuldades em ler alguma coisa que está ‘impressa’ numa tela tudo de se passa da mesma forma. Um bom texto não resiste ao papel, nem à tela. Ele é pérpetuo em qualquer meio. Devemos ter a mente aberta para saber disso e relaxar, tudo o mais entrará em equilíbrio, queiramos ou não. E acreditar que é impossível o homem deixar de transmitir seus sentimentos através das palavras. O meio é preciso a palavra imprecisa.
Não. Não acredito. Livro virtual, tô fora.
Até porque, e fiquei sabendo aqui no blog, que o Bush e o Chaves leêm (putz, que casca de banana este plural, deve estar errado). Bem, quanto ao Lula…deve pensar que nem existe e tambem não se preocupa com a biografia.
Puxa, ler na cama até dormir com um powerbook no colo? Não rola…
O unico problema do powerbook é que esquenta um pouco!
Sempre se disse que uma tecnologia (ou midia) ia acabar com a anterior. O rádio, a TV, o videocassete, etc. O que nao aconteceu.
O problema (se é que é) é que a web é muito mais popular do que foi o livro. No meu caso, nao diminui a quantidade de livros que leio, mas leio muito mais do que antes na web, inclusive livros.
além de economizar a natureza ainda permite que a informação seja divulgada sem custo nenhum. tem revolução maior do que essa? a informação vale mais do que o capital, pois você pode perder todo o seu capital mas nunca perde a informação que adquiriu. a internet está ai para derrubar todos os direitos autorais, permitindo que não só os ricos tenham acesso a cultura e educação. a era da informação chegou para ficar, chega de engordar as custas de uma idéia.
Poucos são os exemplos onde a tecnologia substituiu totalmente seu equivalente mais próximo!
E quando ocorreu, o fez lenta e gradativamente de forma a não perturbar adeptos desta ou daquela forma.
Nada foi substituído com traumas…
Que powerweb que nada. Livro é livro, com cheiro de papel e com lombada. E viva a literatura!
powerbook, digo. Deve dar no mesmo..
xinobi
Informação não é conhecimento, aqui já repetido várias vezes.
E capital compra tudo, inclusive informação.