Livros que falam de livros foram o tema da conversa entre o espanhol Enrique Vila-Matas e o chileno Alejandro Zambra, no meio da tarde de hoje, na mesa “Apenas literatura”. Isso tornou simpática, ainda que pouco surpreendente, a conversa entre dois autores que de resto têm diferenças significativas – inclusive de maturidade e prestígio, com Vila-Matas, nascido em 1948, representando o papel de autor solidamente estabelecido e Zambra, que é de 1975, o de jovem revelação.
Vila-Matas, que está lançando pela Cosac Naify, sua editora habitual, o romance “Ar de Dylan”, provocou risos discretos ao dizer que a cena inicial do livro, embora poucos acreditem, foi inspirada numa história real ocorrida com ele. “Eu estava quieto na minha casa e recebi um convite para uma conferência na Suíça. Era uma conferência sobre o fracasso. Isso me surpreendeu bastante. Contei para alguns amigos, e todos ficaram com pena de mim. A verdade é que nunca fui ao congresso, porque tinha outro compromisso”, afirmou. Mas o episódio serviu de pontapé inicial para mais um romance metalinguístico, lúdico e irônico do autor de “O mal de Montano”.
Zambra começou por fazer um esforço tocante para ler em português – “língua que desconheço amplamente”, reconheceu – o primeiro parágrafo de sua festejada novelinha “Bonsai”, antes de ler esse e outros trechos em espanhol da história de amor de Júlio e Emília, que começa com o narrador avisando que ela vai morrer e ele não. “Em ‘Bonsai’, o gesto metaliterário está sempre associado à ideia de honestidade. Começo contando o fim. Se você continua a ler um livro já sabendo o final, é por algum outro motivo. Era esse outro motivo que me interessava”, disse.
Provocados pelo mediador Paulo Roberto Pires, os dois escritores encontraram outros assuntos em comum – como o falecido Roberto Bolaño, que é compatriota de Zambra e era amigo de Vila-Matas – mas nada que se compare ao poder da literatura para gerar mais literatura, confundindo-se com a vida. A história de amor imaginada por Zambra é construída em torno de leituras reais e inventadas – principalmente de um conto do escritor argentino Macedonio Fernandes. Toda a obra de Vila-Matas é uma amplificação desse efeito, explorado em infinitas variações.
“Os mortos te ajudam a escrever. Eu sou um nerd, gosto de ler, amo os livros”, definiu-se o chileno. “Na Espanha há escritores que acreditam ser os primeiros a escrever”, disse o catalão, ao que Pires acrescentou: “Aqui também!” . Completou Vila-Matas: “ É importante lembrar que nós escrevemos depois de outras pessoas. Não ao posso achar que sou inocente quando escrevo”.
Um comentário
Alejandro Zambra, o chileno da vez « VEJA Meus Livros – VEJA.com