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Violência simbólica, violência real

23/04/2007

O escritor e roteirista argentino Marcelo Figueras especula em seu blog no site Boomeran(g), aqui e aqui, que o alarme despertado entre as autoridades escolares por seus textos “perturbadores” – na verdade, esquetezinhos toscos – pode ter contribuído para que Cho Seung-Hui, o atirador da Virgínia, se sentisse realmente um criminoso e completasse o caminho entre a violência simbólica e a real.

Figueras, um cara sério, chega a chamar o assassino de “mártir da correção política”. E completa: “Se um Chuck Palahniuk de 23 anos apresentasse alguns capítulos de Fight Club (‘Clube da luta’) a seus professores, seria denunciado hoje perante as autoridades, espionado, vigiado – e talvez até detido, nestes tempos de Patriot Act que permitem encarcerar por obra e graça das razões de Estado”.

Não costumo subestimar a vocação americana para paranóias do gênero, especialmente depois de uma tragédia tão brutal. Mas acho que o hermano pirou en la papita.

19 Comentários

  • Paulinho Assunção 23/04/2007em20:58

    Permitame, usted, la discordancia: pero no creo que el hermano tenga “pirado” en la papita.

  • Noga Lubicz Sklar 23/04/2007em21:50

    Olha, Sergio, eu não sei bem o que é, mas certamente algo distingue a “obra” de Cho de outros textos perturbadores e artisticamente válidos. O que com certeza se sabe é que Cho era doente, perturbado. Não sei porque nos torturamos indo atrás dos sinais que ele deixou, como eu mesma fiz seguindo o teu link. Como se deve fazer com os trolls que dedicam a vida a perturbar os demais na internet, o melhor no caso é o ostracismo. Não creio que poderemos extrair dos textos algum sinal do que possivelmente provoca perturbação: a perturbação estava lá e é um fato. Se já pudessemos evitar atos extremos de psicopatas já estaríamos naquele filme de science fiction, como é mesmo o nome?
    Que tal focar a atenção no bom, belo e transformador só pra variar?
    (sorry, folks, não consegui lembrar o nome do filme, é de uns dois anos atrás)

  • Clara 23/04/2007em22:15

    De acuedo, por supuesto, Sergio. El hermano:pirou en la papita, viajou en la maionese.

  • Cho daqui Chô! 23/04/2007em23:25

    Mártir? não, certamente que não, ele mesmo matou-se, seria mártir se morresse aos poucos lutando pela melhora ‘política’ da vida dos ‘fracassados’, como o intitulam, ou seria mártir se tivessem tirado a vida dele para que ele parasse de fazer isso…mas ele não foi mártir, ele martirizou demonstrando que os outros estavam certos, e que mesmo que ele fosse rico, estivesse com cordões de outo e tudo mais que ele mesmo disse, ainda assim não conseguiria chegar ao mesmo nível daqueles que tirou a vida.

  • Cho Sai daqui Chô, Chô, Chô! ahahahahahahahahahahahaha! 23/04/2007em23:31

    Ops! errata: “estivesse com cordões de ouro, BMW e tudo mais que ele mesmo disse que essas pessoas possuiam, ele ainda assim não conseguiria chegar ao mesmo nível daqueles que tirou a vida…só lamentos.

  • henrique de oliveira 24/04/2007em07:42

    no mesmo dia que o coreano matou 32 na universidade o tio sam matava 232 pessoas no iraque. Não vi tanta comoção assim, sera que os iraquianos são seres de segunda categoria, o que são 32 perto do que o tio sam mata por dia no mundo.
    Precisamos de mais coreanos.

  • Lilian Carla 24/04/2007em07:46

    Todos pensam em evitar tragédias sem encontrar as verdadeiras causas. Uns culpam a venda de armas mas sabem que, mesmo que proíbam, é fácil conseguir todo tipo de armas. Se a lei fosse sempre aplicada e os assediadores que provocavam e debochavam constantemente de Cho fossem punido, provavelmente essa tragédia não teria acontecido. Esse assédio provoca doença mental. Mesmo que CHO já tivesse problemas mentais, esse assédio agrava, com certeza o quadro. Mas ninguém culpa os assediadores, como se fosse normal excluir as pessoas por não falarem bem o inglês e outras coisas do gênero. A legislação também se preocupam muito com os direitos do criminoso mas não existem leis que protejam a vítima. A inteligência humana ainda está muito atrasada.

  • Francisco Campos 24/04/2007em08:56

    Indefensável a postura de Cho. Mas indefensável também a cultura das escolas americanas que divide os alunos em populares, bajuladores (que flanam ao redor dos populares) e “losers” (grupo no qual Cho foi enquadrado). O ódio não nasce por acaso: há sempre de ter um chão fértil… Infelizmente.

  • joao gomes 24/04/2007em09:09

    mártir? Jesus Christ! meu colega, latino Figueras precisa de um dicionário.

    Seus atentados foram deliberados. Era perturbado psic? Sim. A Virginia Tech era inocentente? Nao. As matrizes energéticas do mundo e os conceitos válidos de globalizacao e consumismo sao as colunas de um mundo que comercializa corpos e almas.
    E os “fracos” nao aguentam muito isso tudo. E, pior, nao aguentarao por muito mais tempo!
    Os verdadeiros valores nao contam. Mais já o disse no meu blog. quem quiser saber/ver me escreva depois.

  • Armand Mestrine 24/04/2007em09:53

    O chamado assédio moral entre estudantes é moeda corrente em toda e qualquer escola em qualquer lugar do mundo. Mas nos EUA, particularmente, apesar da indústria do politicamente correto, tem-se a impressão de que a coisa é descabidamente maior. Quem nunca assistiu a filmes sobre a vida de estudantes americanos em que o argumento se apóia na divisão entre os ‘populares’ e os ‘bolhas’, categoria de filme que dá mais que pereba em moleque? Nas telas, ao menos, os segundos são sempre os bonzinhos injustiçados e acabam por restabelecer a ordem geral das coisas através de um feito ‘heróico’ que lhes devolve ou consagra a dignidade e a respeitabilidade.
    Na prática, entretanto, a competitividade à náusea promovida dentro das escolas americanas pelo próprio sistema, o culto do brilho pessoal, cuja manifestação podemos perceber nos grupos de debates e oratória, por exemplo, em que a função de um é destroçar o outro, nos mostra uma pontinha de iceberg de uma não digo montanha mas, sim, de uma cordilheira de gelo que é o sistema de crenças do americano médio, seja ele da raça que for.
    Os norte-americanos são um povo belicoso. Brigam com o mundo na base do ‘prendo e arrebento’ e brigam entre si. O mar de leis e normas que rege as relações humanas, familiares, prifissionais etc., é apenas o reflexo da enorme necessidade de frear os excessos que sempre ocorreram. Na América, praticamente qualquer coisa pode dar em processo. Certamente não é porque todos são bonzinhos e respeitadores.
    Lá um garoto pode sair do primeiro grau direto para uma academia militar, entre as milhares que há, e tornar-se um soldado profissional. É provável que não encerre a carreira sem ter lutado, recebido algum ferimento ou mesmo morrido em alguma guerra das tantas que o governo americano sempre acha de providenciar.
    Nos EUA, a agressividade está no ar. Os negros, inclusive, começaram a conquistar respeiro a partir do momento em que passaram a lutar em guerras, a matar e morrer ombro a ombro com os brancos.
    Acrescente ai um garoto oriental com tendências psicóticas que vai todo o dia à escola pra ser ridicularizado, autoridades, pais e professores distantes que cruzam os braços e fecham os olhos e está escrita a receita de um bolo que pode dar crepe.

  • Mr. Ghost(WRITER) 24/04/2007em10:20

    Indefensável a postura de Cho. Mas indefensável também a cultura das escolas americanas que divide os alunos em populares, bajuladores (que flanam ao redor dos populares) e “losers” (grupo no qual Cho foi enquadrado). O ódio não nasce por acaso: há sempre de ter um chão fértil? Infelizmente.

    Comentário de Francisco Campos — 24/04/2007 @ 8:56 am

    Francisco, prezado,
    Você disse tudo…

  • Cezar Santos 24/04/2007em10:54

    Fui ler o texto do Figueiras. Acho que a análise tem razão em boa parte do arrazoado, mas discordo que o Cho tenha sido o martir da correção política.
    Os 32 assassinados por ele, sim, foram os mártires dessa correção política.
    O sul-coreano foi um fracote, que não soube se impor e a seus textos a seus colegas e professores. Achou uma via de escape para a frustração na mortandade de colegas.

    Tomando por base a análise do argentino, o que dizer dos textos de um Bret Easton Ellis, por exemplo?
    Do cinema (péssimo, por sinal, principalmente os últimos filmes) do Tarantino?
    Ellis, Tarantino e o citado Palaniuk (e outros que escrevem sobre violência) vão sair matando gente logo, logo. Então é preciso prender logo esses caras para evitar o pior…

  • Cláudio Soares 24/04/2007em11:01

    Qs um “Minority Report”.

  • Cláudio Soares 24/04/2007em11:06

    Depois dessa, muitos jovens desistirão da carreira de escritor.

  • Cláudio Soares 24/04/2007em11:08

    Por causa da paranóia dos “outros” (e por questões de segurança). Afinal, antes apenas ler fazia “mal a saúde”. Agora, escrever também.

  • Cláudio Soares 24/04/2007em11:19

    Um ponto nevrálgico do texto de Figueras: “Lo que temo es que la creciente invasión de la privacidad, alentada por los países más poderosos en su paranoia, aliente ahora la vigilancia sobre los textos que se escriben, aún cuando se definan a sí mismos como ficción.”

  • joao gomes 24/04/2007em11:25

    Claudio é isso ai, os USA estao indo para o rumo de um “Minority Report”. ah! A vida imita a arte! Zé Geraldo cantava: “Toda forma de violencia é manifestacao de fraqueza”.

  • Noga Lubicz Sklar 24/04/2007em13:22

    Claudio, era este o filme que não me lembrei lá em cima de jeito nenhum: Minority Report

  • Tibor Moricz 24/04/2007em15:17

    Já não mandam vigiar aqueles que compram o livro “O Apanhador no Campo de Centeio”, do Salinger?