Mais um sensacional capítulo da série “Como a tecnologia vai transformar nossos cérebros em esponja de lavar louça”: uma reportagem do “Wall Street Journal” (em inglês, acesso gratuito) cita pesquisas científicas que apontam o papel fundamental desempenhado pela velha escrita à mão no desenvolvimento do cérebro.
“A prática ajuda no aprendizado de letras e formas, pode aprimorar a composição e a expressão de ideias e até auxiliar no ajuste fino de habilidades motoras”, diz o texto, acrescentando que escrever à mão também pode ser um bom exercício para manter o cérebro ativo na velhice.
O texto não chega a entrar nessa área, mas não pude deixar de imaginar desdobramentos literários interessantes. Será que os poetas, que na maior parte dos casos tendem a usar lápis ou caneta, se saem melhor no quesito “composição e expressão de ideias” do que os prosadores, já rendidos majoritariamente ao teclado?
De uma forma ou de outra, a mensagem é clara: apocalipse à vista, certo? Não é bem assim. Ocorre que a própria tecnologia pode nos salvar, oba! Como já disse David Foster Wallace em um de seus brilhantes ensaios sobre a cultura americana, a tecnologia que cria o problema é a mesma que acaba sendo escalada para resolvê-lo. Lembra o WSJ:
“Na verdade, a tecnologia costuma levar a culpa pela decadência da escrita manual. No entanto, numa interessante reversão de expectativas, novos softwares para aparelhos de touch-screen, como o iPad, estão começando a revigorar a prática.”
7 Comentários
Sempre gosto bem mais de escrever em cadernos, mas depois tenho que passar tudo á limpo para o note.Iiiiii….Demora hein! Para mim, não importa. Note ou cadernos entre lápis, canetas azuis e vermelhas… O importante mesmo é jorrar as águas vivas que vêm como enchurrada…
Quero correr comprar um Kindle ou um iPad. Viva o livro digital!
Sérgio,
Gosto muito de teu blog. Acredito que o seu texto mereça um lugar também na revista semanal. Em vez disso, infelizmente, temos que ler sobre a politicagem brasileira espalhadas em quase toda a revista. Veja precisa voltar a ser o que era: mais cultura, mais cultura, mais cultura e menos politicagem. Gostava da revista quando ela era mais diversificada. Hoje, está engessada pela pauta da política. Se quero saber sobre as novidades literárias, recorro ao teu blog, que é quase completo: infelizmente, sou daqueles que gostam de posts longos, com muitas informações. Mas vale a pena ler o que você escreve.
Sergio,
Esse assunto rende. Na verdade, essa relação da digitação – num sentido amplo, de manusear coisas com os dedos – e o desenvolvimento do cérebro é muito interessante e misteriosa. É a base de tudo, né? Não adiantava o telencéfalo altamente desenvolvido, sem o polegar opositor, como diz o célebre texto do ” Ilha das Flores”, do nosso amigo Jorge Furtado…
Pois bem, outro dia, minha mãe me mostrou um trechinho de um livro sobre teorias do conhecimento que dizia que esse teclado “qwerty”, que a gente usa, não era no começo o modelo mais fácil de ser usado, não tinha a distribuição de letras mais inteligente, era deliberadamente o que provocava mais lentidão ao escrever. É porque as primeiras máquinas emperravam com facilidade e velocidade não era, portanto, bem vinda. Hoje, gerações após gerações, ele é o mais rápido, porque tornou-se o padrão…
Bueno, é o que sempre ocorreu: mudam as formas, as relações lindo e misterioso pedaço da nossa existência, o cérebro, vai dar o jeito dele…
Ah, curiosidade minha, você saberia citar autores de prosa que ainda hoje escrevem à mão ? Aqui eu só sei do Tezza!!!
Há quem defenda que grandes obras só podem ser escritas à mão, mas como eu não confio em ninguém que tenha fóruma mágia para uma grande obra, não acredito muito…
por falar em digitação, no sentido estrito do termo, o final do meu cometário está um desastre. Corrigindo:
1- mudam as formas, as relações, mas esse lindo e misterioso pedaço da nossa existência, o cérebro, vai dar o jeito dele…
2 – Eu não confio em ninguém que tenha fórmula mágica para uma grande obra, não acredito muito…
Crézio, obrigado.
Pedro David: me ocorre o Sérgio Sant’Anna, mas essa tese das grandes obras só poderem ser escritas à mão é uma das mais ridículas que já ouvi.
Abraços a todos.
olá
Escrevi um livro sem a letra A. E estou divulgado essa novidade.
Veja o Prólogo:
Um livro surpreendente.
Diz de um filósofo que emerge e sucumbe em seus conceitos teóricos e ressurge como um ícone incompreendido.
Seus conhecimentos, ensinos e conteúdos podem muito nos dizer sobre questões do existir, sobre o Ser e sobre o universo dos homens.
Foi escrito de modo que um dos signos do nosso uso comum (o A) fosse excluído e que, mesmo com esse jeito diferente de escrever, houvesse o entendimento do conteúdo nele exposto.
É com muito gosto que ofereço este texto… E espero que gostem, pois gostei de escrevê-lo e quero crer no seu percurso promissor no mundo dos novos escritos.
Bom divertimento e, em breve, nos veremos, de novo, em um outro delírio de escritor que quer o diferente, o novo, o (im)possível como desejo.
Sou Ricardo Mardegam, nascido em Americana-SP. Psicólogo e psicanalista clínico e Escritor, autor dos livros: ALFABETO (2002), METADE (2004) e DIVERSOS e SORTIDOS (2006). Escrevo e publico seus livros de forma independente e autônoma. Sempre em busca de algo novo e surpreendente.
Se quiser posso enviar um livro (A- O livro sem a letra A) para você avaliar (se houver o interesse em me ajudar a divulgar…)
Grato pela atenção
Ricardo MArdegam
psicologo@ricardomardegam.com.br