Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, é o principal livro brasileiro de ficção dos últimos 25 anos. Épico mítico e irreverente da nacionalidade, com seu painel histórico abrangendo quatro séculos, o romanção lançado pelo escritor baiano em 1984 ficou em primeiro lugar na votação promovida pelo Todoprosa junto a 53 escritores, críticos e editores brasileiros.
Em segundo lugar, empatados, vieram Dois irmãos, de Milton Hatoum, e Quase memória, de Carlos Heitor Cony.
Na quarta posição houve outro empate, este triplo, entre Aqueles cães malditos de Arquelau, de Isaías Pessotti, A senhorita Simpson, de Sérgio Sant’Anna, e Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu. De todos os primeiros colocados, apenas os dois últimos não são romances: o de Caio Fernando é uma coletânea de contos e o de Sérgio, uma novela escoltada por histórias curtas.
Cada votante foi orientado a escolher o melhor/mais importante título de ficção (romance, novela ou coletânea de contos) publicado a partir de 1982 (inclusive), valendo a data da primeira edição. Um único livro por pessoa. Não houve lista prévia, a menção foi espontânea. Foram disparados 100 emails para profissionais de destaque ligados à literatura, dos dois lados do balcão e em diversas faixas etárias. Cerca de metade deles responderam – nível de participação que ficou dentro das previsões.
A enquete do Todoprosa é abertamente inspirada nas que tocaram o “New York Times” ano passado e a revista colombiana “Semana”, recentemente. A primeira elegeu “Beloved”, de Toni Morrison. A segunda, abrangendo toda a literatura de língua espanhola, apontou “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel García Marquez. Em ambos os casos, o recorte usado foi de 25 anos. Arbitrário, sim, mas talvez uma boa medida de contemporaneidade. E acredito que, para manter a mesma faixa de tempo, já seria razão suficiente a coerência do painel que as três votações formam quando tomadas em conjunto.
Um levantamento desse tipo tem valor meramente jornalístico, é claro. Estará justificado se a brincadeira estimular boas conversas – de botequim ou não – sobre a literatura contemporânea. E se der indicações de leitura a quem pouco conhece de nosso passado recente. Um dos temas de debate que emergem da votação, além das inevitáveis controvérsias em torno de nomes, é sua evidente inclinação por obras que alguns críticos chamariam de “conservadoras”, por valorizarem histórias bem contadas, serem altamente legíveis e não dinamitarem as pontes de prazer que tradicionalmente unem a ficção a seus leitores – embora todas tenham, em graus variados, suas inquietações estéticas.
No entanto, talvez o melhor tema de debate seja a tendência dos votos à pulverização, que parece indicar uma baixa capacidade de nosso ambiente literário atual para a aglutinação em torno de valores, idéias, obras. Temos desempenho notável no quesito diversidade, o que é bom, mas pode haver motivo para preocupação quando essa pluralidade se confunde com desagregação. Talvez seja um sinal de que andam em falta parâmetros mínimos para balizar o bate-bola estético. À medida que se avança no tempo, cresce a dispersão dos votos: dos livros eleitos, três (“Viva o povo…”, “Morangos mofados” e “A senhorita Simpson”) são dos anos 80; dois (“Quase memória” e “Aqueles cães…”), dos 90; apenas “Dois irmãos” é de 2000. Nenhum livro dos últimos anos mereceu mais de um voto. Efeito natural do pequeno distanciamento histórico? Sei não.
A pulverização crescente das preferências, combinada ao critério de apenas um livro por eleitor, explica a baixa votação dos vencedores: “Viva o povo brasileiro” teve sete votos; “Dois irmãos” e “Quase memória”, cinco; “Aqueles cães…”, “A senhorita Simpson” e “Morangos mofados”, três. Todos os demais 25 livros citados receberam apenas uma menção (foram anulados dois votos, de escritores que apontaram obras de sua própria autoria). Eis a lista completa, em ordem alfabética:
“A coleira no pescoço” (Menalton Braff)
“A face horrível” (Ivan Ângelo)
“Ah, é?” e “234” (Dalton Trevisan)
“À mão esquerda” (Fausto Wolff)
“A república dos sonhos” (Nélida Piñon)
“As mulheres de Tijucopapo” (Marilene Felinto)
“Aspades, ETs etc.” (Fernando Monteiro)
“A vitória da infância” (Fernando Sabino)
“Comédias da vida privada” (Luis Fernando Verissimo)
“Curva de rio sujo” (Joca Reiners Terron)
“Dentes guardados” (Daniel Galera)
“Diana caçadora” (Marcia Denser)
“Fátima fez os pés para mostrar na choperia” e “O azul do filho morto” (Marcelo Mirisola)
“Memorial de Maria Moura” (Rachel de Queiroz)
“O alquimista” (Paulo Coelho)
“Onde andará Dulce Veiga?” (Caio Fernando Abreu)
“O nome do bispo” (Zulmira Ribeiro Tavares)
“Os dias do demônio” (Roberto Gomes)
“O vôo da madrugada” (Sérgio Sant’Anna)
“Relato de um certo Oriente” (Milton Hatoum)
“Um táxi para Viena d’Áustria” (Antonio Torres)
“Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” (Rubem Fonseca)
“Vésperas” (Adriana Lunardi)
Achei curiosa a listinha. Não é desprezível seu efeito geral como painel – pulverizado – de nosso tempo, embora alguns títulos sejam no mínimo surpreendentes. Deve-se levar em conta, claro, que na terra do voto único vigora a subjetividade mais radical. O que me espanta mais do que qualquer inclusão idiossincrática é constatar que Rubem Fonseca e Luis Fernando Verissimo levaram um único voto cada um, e que nomes como Marçal Aquino e Bernardo Carvalho nem mesmo foram lembrados.
Agora é com você, leitor.
63 Comentários
quanta mediocridade.
mas é aquela coisa, a lista diz mais sobre quem votou, o conjunto das pessoas que responderam os emails…
Talvez a explicação seja a de que de 2000 pra cá os lançamentos têm aumentado de número, e por isso a desagregação. Alguns dos livros citados eu sequer conheço. É o preço que se paga pela expansão do mercado literário, ou ao menos do número de escritores e livros publicados.
Desculpe-me, Sr. Jornalista, mas, se nenhum livro do Bernardo Carvalho foi citado, e nulidades às pampas foram mencionadas, é porque era alto o número o número de ignorantes entre os votantes.
Dois pontos: Penso que não deveriam desconsiderar os votos próprios, afinal o escritor, antes de votar em si mesmo, deve ter feito uma crítica tão boa quanto os demais eleitores. Numa próxima enquete poderiam pedir o voto em 3 obras, com igual peso; certamente a lista aumentaria, seria mais representativa e não ocorreriam tantas surpresas.
Achei surpreendente o fato de praticamente não ter havido consenso em relação aos vencedores. Tudo bem que os gostos sejam bastante variados, mas em votações deste tipo os votos costumam orbitar em torno de obras que ganharam notabilidade no meio literário com o passar dos anos, e o resultado desta enquete passou muito longe disso.
Outra coisa: é mais do que certo que nossa produção literária recente é bastante diversificada, o que é até louvável, mas daí a constarem desta lista títulos como “O Alquimista”, “Quase Memória” e “A vitória da infância” (livro pouquíssimo conhecido de Fernando Sabino) – entre outros títulos tão ou menos “representativos” do que esses, me parece no mínimo bem esquisito.
Realmente: Paulo Coelho é sacanagem.
Juro que gostaria de saber quem votou em si mesmo, só pra confirmar meus palpites.
Eu considero Viva o povo brasileiro o melhor livro brasileiro de ficção que li, dentre os posteriores a Lavoura arcaica (este é de 75).
Assim, quanto ao 1o lugar, só me apoquenta que tenha recebido “poucos” votos.
Fico com vontade de comer um holandês. Um Salve à Canastra!
Enquetes e antologias de escritores da atualidade às vezes são apenas hilariantes. Exemplo: em 1936, Andrade Muricy, respeitado escritor da época, publicou pela Ed. Globo, de Porto Alegre, um badalado volume, “A Nova Literatura Brasileira”, com o que de melhor havia de prosadores e poetas brasileiros daquele momento. Entre os prosadores – além de nomes como Jorge Amado, José Lins do Rego, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Plínio Salgado – havia sumidades como Brasílio Itiberê, Carlos da Veiga Lima, Jaime Balão Júnior, Luiz Delgado. Mas não estavam lá nem Raquel de Queirós, que já tinha publicado “O Quinze” (1930) e “João Miguel” (1932), nem Graciliano Ramos, que já tinha publicado “Caetés” (1933) “São Bernardo” (1934” e estava publicando “Angústia” naquele mesmo ano. Tanto vale o julgamento dos contemporâneos…
Parabéns a quem votou em João Ubaldo Ribeiro – ele merece. Mas colocar Cony entre os preferidos é mesmo difícil de engolir. E deixar “Memorial de Maria Moura” ao lado de “Diana Caçadora” já é demais!
Credo! de cabo a rabo só fiquei mais tenso. quem errou?
Pena que a população de votantes não foi maior, o resultado teria sido mais interessante – e os esquecidos, principalmente Bernardo Carvalho, certamente apareceriam. Mas fico feliz pela honrosa colocação do Pessotti, meu voto. Aliás, Sérgio, os votos são secretos ou você pode dizer quem escolheu o quê?
Lembro de ter parado nas primeiras páginas do “Viva o povo brasileiro”, aborrecido com um papo de alminhas vagando pelo mundo e desanimado com a perspectiva de enfrentar seis centenas de páginas no mesmo estilo. Sua eleição aqui talvez valha uma revisita.
Lucas, corre lá e lê o livro de novo. É maravilhoso! Gostei da lista por causa do primeiro lugar. Um livro que deveria ser devorado por todos os brasileiros e pelos estrangeiros também.
Não entendo de estilo e estrutura, para mim o que vale é o prazer, fico contente de ver que dos 5 primeiros li e reli o primeiro e li o do Isaias. O do Cony foi excluido por aversão ao autor. Mas, dos 25 quão poucos. E pensar que me considero “leitor”
Sérgio, você não me perguntou qual era o melhor livro dos últimos 25 anos. Você me perguntou qual era o mais importante. Muita diferença entre uma coisa e outra.
O melhor romance brasileiro dos últimos 25 anos é um. O mais importante é outra história.
Acho que é bom você salientar qual a pergunta que você fez, porque se eu soubesse que o título da sua coluna seria “O melhor romace brasileiro”, meu voto seria outro.
Daniela, engano seu. Perguntei a todo mundo qual era “o melhor/mais importante”, a critério de cada julgador. Confira na mensagem que você recebeu: está lá com barra e tudo. Está também explicitado no texto deste post, no quarto parágrafo. O primeiro parágrafo fala em “principal”, numa tentativa de condensar as duas idéias. Quanto ao título, ele vai sempre usar a forma mais curta.
Desculpe, só li o “MAIS IMPORTANTE”. Acho que fiquei com uma cegueira seletiva – só leio as frases maiores.
Mas insisto que melhor e mais importante são coisas completamente diferentes, por isso o nó na minha cabeça.
É importante para mim pedir desculpas públicas a você, seria melhor para os seus leitores não acompanhar essa discussão.
De qualquer forma ficou engraçada a lista. E acabo por aqui com meus comentários ruins e desimportantes.
Tudo bem, Daniela. Por que “melhor/mais importante”? Porque quis dar liberdade ao votante para escolher seu “expoente” por qualquer critério que quisesse. Tem gente que tem urticária com a idéia de “melhor”. É claro que a escolha já começa por aí.
Olá, Sérgio. Quem foram os votantes? Pensa em divulgar os nomes? Recebi a lista como indicação de leituras. Não li vários títulos citados. Concordo com o Silvio Prado sobre pedir votos em duas ou três obras na próxima edição. O resultado seria mais abrangente e ajudaria a entender a pluralidade do resultado. De resto, ótima iniciativa.
Sérgio, acabei nem te respondendo… mas escrevo em meu blog o porquê, check it out. Detesto listas, meu velho!
Abraço
RB
acrescentaria um voto para “quase memória”
Espero que os jurados do Prêmio Portugal Telecom (Sérgio: estranhei não vê-lo entre os 303) não façam “confusão” com os critérios de julgamento.
E, claro, espero que leiam o “Santos-Dumont Número 8” (sim, estamos concorrendo!) antes de votarem 🙂
Sérgio, permita-me um comunicado aos jurados que passarem por aqui (certamente muitos deles passam): os que ainda não tiverem lido o SD8, por favor, me avisem. Tentaremos resolver esse problema.
Obrigado e um forte abraço!
Boa lista essa: um apanhado interessante de autores, estilos e até mesmo qualidade. Como só pude votar em um livro (‘Relato de um certo oriente’), fico contente que alguém lembrou da Zulmira Ribeiro Tavares. E fico espantado com a ausência de Francisco JC Dantas: ‘Coivara da Memória’, ‘Cartilha do Silêncio’, ele é o autor esquecido de grandes romances. Tenho certeza que se cada um pudesse votar em três livros, o resultado seria menos pulverizado e alguns romances acabariam recebendo mais votos e se destacando. No entanto, essa lista divulgada é uma boa radiografia do que se escreveu no Brasil nos últimos 25 anos. Parabéns pela iniciativa!
Muito interessante. Mas sou obrigado a confessar que fiquei curioso em saber quem votou em quem. Que tal uma listinha em um próximo post?
Abraços do amigo e vizinho de blog
LAR
p.s. Também compartilho a sua surpresa com algumas ausências (especificamente o Bernardo Carvalho) e a inclusão de certas obras.
Saindo um pouco deste “quem votou em quem” – estou precisando urgentemente de uma informação. Alguém sabe se Sándor Márai, romancista húngaro (1900-1989), já foi traduzido em português?
Marai? Rapaz: vai no site da Cia das Letras e lá tem uma relação dos livros dele. ‘As Brasas’, ‘Legado’, ‘Divórcio’ e ‘Confissões’, mais o ‘Rebeldes’. Todos livros muito bons! Vale cada centavo.
Vinicius: obrigado pela informação. Moro em cidade pequena e não tenho acesso a livrarias e minha informação é bem precária. [Curioso: o título deste “As Brasas”, em húngaro é “As velas estão mortas” (isto é, queimadas até o fim). Deve ter sido traduzido do inglês]Obrigado de novo.
Sérgio, só lembrando que A Senhorita Simpson também não é um romance, mas uma coletânea de contos com uma novela junto.
Concordo com os elogios do Vinicius, é uma lista bem interessante. Mas talvez, como ele disse, tivesse ficado menos pulverizada se desse para votar em mais de um livro.
Vinicius: sem querer fazer desta página um “chat”: meu interesse por Márai, depois de ler “Embers” foi exatamente pelo fato da semelhança de enredo entre ele e “Dom Casmurro”. E também pela diferença no tratamento deste enredo para se chegar a resultados bastante parecidos. Naturalmente, não creio possível que Márai tivesse conhecido Machado quando ainda vivia na Hungria. Mas demonstrou, já no fim da vida, interesse por outro livro brasileiro (“Os Sertões”). E depois de ler as memórias que escreveu sobre o período final de sua vida na Hungria e o livro sobre Casanova em Bolzano, só posso concordar que é realmente um dos maiores escritores do século XX.
Boa pesquisa, vencedor merecido. Mas a brincadeira da semana é tentar adivinhar quem foram os autores que votaram em si próprios. Eu tenho meus candidatos.
É verdade, Jonas. Fui traído pela memória. A novela-título é tão dominante (120 páginas, maior que muito romance por aí) que não consigo pensar no livro como uma coletânea. Obrigado.
Sérgio,
Para alimentar o debate, acrescento outros nomes esquecidos: Luiz Ruffato (cavalos), Paulo Lins (cidade de deus), Chico Buarque, João Gilberto Noll (vários títulos que poderiam/deveriam estar aí), Lygia Fagundes Telles e Silviano Santiago.
Eu adorei o “chat”.É um prazer ver/ler gente inteligente e educada,mesmo quando discorda/discute sobre o tema.Muito bom.
Desculpem fugir do assunto, mas essa teimosia do Roberto Carlos em recolher a biografia escrita pelo Paulo Araújo (acho que é isso) merece alguma manifestação. Que censura medieval é essa? É uma reportagem extensa, bem feita, que será lida por quem pagar aquele dinheirão todo. Oras! Isso merecia uma atitude! Um boicote ao “Rei”. Sei lá. Por que é que ficamos parados vendo esse sujeito agir como um reizinho de fundo de quintal?
Faltava fazer uma enquete destas com livros de poesia… E eu votaria, sem titubear, em “O mundo como idéia”, de Bruno Tolentino.
Nessa lista, vejo sobretudo um ponto positivo: não se levou muito em conta critérios como ‘maturidade’ ou ‘sério compromisso literário’. Ou é impressão minha?
o blogueiro, que é ético e leal às fontes, naturalmente não vai nomear os autores que votaram em si próprios. mas um leitor anônimo e indiscreto com acesso à planilha secreta dos votos bem que podia aproveitar essa janelinha…
Concordo plenamente com o Vinicius quanto a sentir a ausência do Francisco J. C. Dantas.
Coivara da memória e Os desvalidos são clássicos latentes.
Pelo jeito, só eu senti falta do Flávio Moreira da Costa.
Sérgio, tenho que te confessar que votei no Cony mas não esperava, mui sinceramente, que ficasse sequer entre os dez. Fiquei feliz de ver “Quase memória”, que julgo melhor do que o eleito do grande Ubaldo, como vice-campeão. Abraço!
Paulo Coelho nesta lista? Desde quando ele faz literatura?
Se eu e meus cinco irmãos votassemos num livro que eu escrevi, estaria ele entre os melhores?!
Teotônio: a enquete não foi aberta à participação popular. Os votantes são todos do meio literário e foram convidados por mim.
PÔ Sérgio, quer dizer que teve cara que teve a cara de pau de votar em si mesmo?
BRINCANAGEM, HEM?!
Outra coisa nao li nenhum destes “contemplados”. Acho que esse negocio de lista é uma bobabem.
quem vota, como vota? O que leram?
Sao questoes difusas, (mas nao menos importante) para uma avaliacao como esta.
essa daniela abade eh mesmo uma chata
Bom, se o povo quer, por que não uma lista com a eleição de cinco obras, mas logo dos últimos cem anos – e uns 200 eleitores, para ver se 100 respondem. Quem acha “esse negócio de lista uma bobagem” que vá ser chato em paz e não leia (eu sei que eles lêem…). Da minha parte, conseidero bem divertido e ainda serve como indicaçâo de leitura. Alías, não li metade dos que constam na curiosa lista.
Ué, a pulverização é lamentável? Não entendi… para mim isso quer dizer que as pessoas votaram com uma certa sinceridade, não? E “aglutinar-se em torno de” é importante por quê? O blockbuster já morreu… e amém.
Simone, e quem falou em blockbuster? (Que, aliás, está muito vivo, mas não acho que interesse a ninguém aqui.) Aglutinações mínimas evitam que os narizes fiquem enfiados demais no umbigo, regulam um pouco o vale-tudo estético. Pluralidade é legal, mas pulverização em excesso indica uma tendência à conversa de surdos. É isso que me preocupa.
Considero o livro Quase Memória de Carlos Heitor Cony, o melhor. Em segundo, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos de Rubem Fonseca.
Boa lista. Concordo com o primeiro, votaria nos Câes de Arquelau em segundo.
Mas cadê o Nassar? O último livro dele ainda é melhor que muita coisa que está na lista. Pena que ninguém lembrou. Votar num só dá nisso, é boa a idéia de votar em três (com pesos diferentes, talvez).
Boa iniciativa, Sérgio!
Lista, listas, listas…
Coisas curiosas as listas.
“Vitória da infância” e não “Encontro marcado”?
E porque a grita com a ausencia de Bernardo Carvalho? Ele não tem nenhum romance que mereça estar nessa lista. Ai a votação foi justa.
Vem cá, os livros do Raduan não estão dentro da faixa votável?
“O vôo da madrugada” não é de contos?
E a lista confirma um cisma meu: Hatoum é supervalorizado.
ah, vi agora….coletânea de contos vale…ok.
Daniel,
Caro leitor estou em paz. E por estar em paz postei minha mensagem como pensava. Agora quem nao está em paz é quem fica dizendo para o outro ”que vá ser chato em paz e não leia”.
Quanto a indicação de leitura sugiro que vá adquirir TODOS os livros listados e leia todos. (nao só os desta última lista). Assim, quem sabe, eu aqui, alcance “mais paz ainda”.
Cezar, “Encontro marcado” já fez 50 anos…
Marcelo…
Tá certo….leitura rápida demais dá nisso, desculpe…
Confesso que não li muitos da lista, mas gostei de ver nela Márcia Denser e Zulmira. Dos mais votados, no entanto, acho Cony e Caio Fernando supervalorizados. Não tinha um Rubem Fonseca melhorzinho para votarem não? “Secreções, excreções e desatinos”, por que não?
enviado por: Lúcia Adélia
Estou indignada e peço licença para usar este espaço para divulgar esse absurdo que a rede globo cometeu com a Comunidade Quilombola da Bahia.
16 DE MAIO DE 2007 – 16h38
Comunidade acusa racismo em “Jornal Nacional” e Rede Globo
A Comunidade São Francisco do Paraguaçu, de Cahoeira, na Bahia, acusa a TV Globo de veicular uma reportagem racista, no Jornal Nacional de segunda-feira (14), contra os moradores negros daquela região do recôncavo baiano.
Segundo a comunidade, a reportagem tem o claro objetivo de desqualificar a Comunidade São Francisco do Paraguaçu e seus moradores, justamente no momento em que o Estado brasileiro está para reconhecê-los como descendentes de quilombolas.
A nota também critica a distorção dos fatos para criminalizar os moradores da comunidade. “Estamos decepcionados com a falta de dignidade do jornalista que expôs seu nome numa reportagem fraudulenta, pois as imagens do desmatamento de madeira apresentado na reportagem não foram filmadas em nossa comunidade”.
Confira a íntegra da nota:
Comunidade Remanescente de Quilombo São Francisco Do Paraguaçu
As falsidades veiculadas pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, no dia 14 de maio deste ano, “Crime no quilombo – suspeitas de fraude e extração de madeira de Mata Atlântica”, repetem na história o que significou o 14 de maio de 1888 para a população negra no Brasil, dia seguinte à abolição oficial da escravatura.
O dia 14 daquela época significou o acirramento das relações escravistas, da violência racial contra negras e negros, e a tentativa de exterminá-los através de inúmeras medidas de exclusão e apartheid, dando continuidade ao processo de exclusão social e criminalização da população negra.
Passados cem anos continuamos a assistir às práticas racistas, novamente a covardia daqueles que atacam as comunidades negras utilizando as estruturas poderosas de dominação que se manifestam através da veiculação de uma reportagem fraudulenta e tendenciosa, sem oferecer à comunidade nenhuma oportunidade para se defender.
Nossa comunidade assistiu a reportagem exibida no Jornal Nacional da Rede Globo com profunda indignação diante da atitude racista expressa na má fé e na falta de ética de um meio de comunicação poderoso que está submetido a interesses perversos e tenta esmagar uma comunidade negra historicamente excluída.
Já esperávamos por esta reportagem, pois fomos testemunhas do teatro que foi armado por ocasião das filmagens, onde boa parte da comunidade envolvida na luta pela regularização do território quilombola nem sequer foi ouvida, visto que a equipe de reportagem se recusou a registrar qualquer versão contrária aos interesses dos fazendeiros, cortando falas e utilizando de métodos persuasivos, já que demonstrou expressamente o objetivo de manipular e deturpar a realidade, inclusive.
Tentamos conversar com os prepostos da TV Bahia, filial da rede Globo, mas fomos ignorados. Logo vimos a vinculação da reportagem com os poderosos locais que tentam explorar nossa comunidade. Diante deste sentimento de indignação com a reportagem fraudulenta exibida hoje vimos a público divulgar as verdades que Globo não divulga:
Historicamente, nossa comunidade ocupa este território. Os relatos dos mais idosos remetem nossa presença a muitas gerações. Ali sempre praticamos um modo de vida fruto de uma longa tradição deixada por nossos ancestrais. Extraímos da Floresta a Piaçava, o Dendê, a Castanha, e tantos outros produtos.
Extraímos tantos tipos de cipós diferentes que usamos para fazer cofos, cestos e tantos outros artesanatos aprendidos com nossos avós. Nós amamos a floresta e a defendemos. Nossa luta para defender a floresta causa a ira de poderosos interesses que desejam o desmatamento para a grande criação de gado que cresce no recôncavo.
Estamos decepcionados com a falta de dignidade do jornalista que expôs seu nome numa reportagem fraudulenta, pois as imagens do desmatamento de madeira apresentado na reportagem não foram filmadas em nossa comunidade, sendo que a pessoa flagrada no corte de madeiras não pertence à comunidade de São Francisco do Paraguaçu, confirmando a manipulação dolosa, visto que as falas foram cortadas e editadas com o objetivo de transmitir uma mensagem mentirosa e caluniosa.
Perguntamos aos responsáveis pela matéria: por que não relataram as vultosas multas não pagas ao Ibama pelos fazendeiros? Por que não mostraram os mangues cercados que inviabilizam a sobrevivência da comunidade?
Desta maneira, os poderosos que nos oprimem preferem partir para a calúnia, fraude e abuso do poder econômico. Tentam assim dissimular, já que sabem da força da verdade e do nosso direito. O Sr. Ivo, que aparece na reportagem e se diz dono da nossa área, é um médico com forte influência política na região; à frente de seus interesses está o seu Genro, conhecido como Lú Cachoeira, filho de um ex-prefeito e eterno candidato a prefeito. Lu Cachoeira tem um cargo de confiança no Governo do Estado como assessor especial na CAR (Coordenação de Ação Regional) e utiliza sua influência política para perseguir a comunidade.
Esta família poderosa tem feito várias investidas contra a comunidade utilizando, inclusive, capangas, pistoleiros, ameaçando a comunidade, violentando crianças, perseguindo idosos, inclusive, utilizando métodos torpes refletidos nas ações violentas de policiais militares não fardados a serviço da família Santana que pode ser comprovado através de relatório da Polícia Federal que já teve diversas vezes na comunidade para nos defender.
Imbuídos do sentimento de justiça, não podemos compactuar com atitudes que visam reverter as conquistas democráticas de reconhecimento de direitos da população negra, um verdadeiro afronte aos artigos 215, 216 e o artigo 68 das Disposições Transitórias da Constituição Federal.
O povo negro e as comunidades quilombolas, cientes de que o caminho de reparação das injustiças raciais é irreversível e que o direito constitucional à propriedade de seus territórios tradicionalmente ocupados é uma conquista da democracia brasileira, não sucumbirá aos interesses poderosos que durante toda história do Brasil promoveram atitudes autoritárias e de desrespeito ao Estado Democrático de Direito.
Lamentamos a covardia daqueles que usam o poder da mídia e do dinheiro para oprimir e perseguir comunidades tradicionais. Já estamos acostumados com esta prática perversa. Nosso povo resistiu até aqui enfrentando o peso da escravidão. FIÉIS A NOSSOS ANCESTRAIS, CONTINUAREMOS FIRMES, DE PÉ, LUTANDO PELA LIBERDADE!
Pela vergonhosa manipulação dos fatos e depoimentos, QUEREMOS DIREITO DE RESPOSTA E QUE O INCRA E A FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES SE PRONUNCIEM.
Pedimos às entidades, instituições e movimentos solidários com a luta do povo quilombola que manifestem repúdio à Rede Globo de Televisão e ao Jornal Nacional mandando e-mails e/ou cartas para os seguintes endereços: Rua Von Martius, nº 22 – Jardim Botânico – CEP: 22.460-040 – RJ. E-mail: jn@redeglobo.com.br.
Observatório do Direito à Comunicação
é triste ver como a literatura brasileira decaiu, e muito!, nesses últimos 25 anos. Obviamente, temos nossos valores, bons escritores que surgem de ciclos em ciclos. Agora, “Dentes Guardados”, “Comédias da Vida Privada” e Fátimas fez os pés da choperia”, “O alquimista”, entre outros dessa lista é brincadeira. Que saudade dos que já morreram…
Viva “Viva o Povo Brasileiro”!
Não terminei de ler, mas gostei.
Achei muito interesante
E “Lavoura arcaica”?
Ceci, o livro de Raduan é de 1975.