Em 2006 eu li muito, talvez nunca tenha lido tanto. Não é uma experiência de todo positiva. Ler por obrigação, tentando acompanhar o ritmo cada vez mais desembestado dos lançamentos, deve trair algum princípio formador do gosto pela leitura, desses que ficaram perdidos na pré-história da vida adulta. Tem algo de heresia nessa exasperação, nessa velocidade, e outro tanto de mau gosto e barbárie. Não me queixo. É até possível – embora por enquanto seja apenas uma suspeita a ser ponderada com calma em 2007, eis mais uma resolução para a lista – que tal modo de ler tenha a virtude de reproduzir numa escala individual a aceleração do fluxo de informações que é uma marca do nosso tempo, com todos os penduricalhos da diluição geral dos sentidos, da atenção curta, da impaciência do leitor etc.
E por que isso seria uma virtude? Sei lá – porque mergulhar de forma suicida no Zeitgeist deve servir para alguma coisa. Nem que seja para descobrir onde fica o botão que desliga essa joça.
12 Comentários
Sérgio, posts abaixo, o dos superestimados, foi que me dei conta, não integrei o espírito do tempo, não consegui acompanhar a enxurrada de títulos disparados no mercado. Caros amigos comentaristas, é com grande satisfação que lhes informo: Não li nenhum lançamento de 2006. Li bastante esse ano, bem mais que a média do brasileiro de dois livros anuais. Mas não li nada, repito nada em 2006 que tenha sido lançado em 2006… por isso não consegui comentar no post dos superestimados. Porém, não tenho vergonha nenhuma disso, pelo contrário, até me orgulho, pois acabei investindo tempo em autores e títulos que não são integrantes do “espírito” do ano de 2006. Alguns estão bem anotados, até comprados, mas lidos, só depois, depois que a ordem de chegada ou de interesse permitir…
Acho que me distanciei muito de lançamentos por uma característica de personalidade, algo que me afasta muito do que é chamariz para todos… aquele tipo de coisa: eu li o lançamento do mês, vou ler o lançamento da semana, estou antenado com o mercado de livros, já li uns cinco livros nesse mês, li o top 5 dos livros desse trimestre… sei lá, não é minha praia… e há tanta coisa já lançada, tanta coisa que me pareceu mais interessante e menos moda. Há uma lista de coisas lançadas em 2006 que vão ter que esperar muito, muito tempo… meu Zeitgeist 2006 fica para 2007, 2008… sei lá…
Não gosto de ser o primeiro a comentar…
É… eu tb li muito em 2006. Nos últimos três meses li quatro livros. Nada de lançamentos… pra ser justo, eu li a febre do Código Da Vinci, mas nem me lembro se ele foi mesmo lançado esse ano. Eu li e achei bom… uma intriga sem tamanho e uma história que pode ser verdade. Legal…
Mas me manter atualizado eu não me mantenho não. Prefiro parar no sebo do centro e escolher algo à olho nú. Passo o dedo, dou aquela olhada suspeita e, se for do meu interesse, pago os R$10 que me pedem, caso contrário, procuro outro. E por aí vai.
A indústria literária tem muito o que aprender tb. Assim como fazem com as discografias prontas para download no Orkut, deviam fazer com os livros.
Aí, quem sabe um dia, as gravadoras e editoras não baixam o preço pra que todos possam ter acesso?!
Sou músico e não tenho medo disso. Se meu disco parar na internet, que façam todos os downloads necessários… música ganha mesmo é vendendo show!
Que se lasquem as gravadoras!
E tenho dito!
…”Olé! Dormiram bem? Estimo! Eu vos darei um mimo! Seus almas do diabo, então pensam que é só dar cabo da horta e do pomar, o bico alegre e o estômago contente, e o camelo do Cura aqui que se aguente?…”
Sérgio: tem um problema com o template de posts individuais do teu blog. A coluna de texto está colando junto com a coluna direita. Dê um toque no webmaster do site.
Belo cheque-mate do segundo no primeiro parágrafo.
Também não costumo ler lançamentos. Mas lerei Orhan Pamuk em breve, uma exceção.
Nem é de propósito, é só um jeito, sei lá. Vai ver também estou fora desse zeitgeist literário.
Quando descobrir onde fica o botão, por favor, me avise.
Então, o livre-arbítrio aquí, funciona a pleno vapor! Que bom!
2006 foi o ano em que li menos livros, mas li Dom Quixote. A leitura de um livro desses está em completa desarmonia com nosso modo de vida. O livro foi lido quase todo dentro dos ônibus da cidade, e levei um tempo muito maior para ler do quando só estudava, e não trabalhava. Isso teve conseqüências bastante interessantes. Imergir durante meses na leitura de um mesmo autor faz com que nada, nem seu modo de escrever, nem de falar, saia incólume. É bem diferente da leitura dos livros contemporâneos que, usando palavras de Bakhtin, “refletem e refratam” nosso modo de viver.
O que inquieta, porém é que somos bastante reticentes em usar as palavras melhor ou pior para classificar nossa forma de consumir cultura. Para mim, ela é pior do que era antes. Não é uma posição conservadora. Tenho um blog, escrevo textos curtos tentando adequar meus escritos ao suporte, e sou entusiasta da Internet. Mas o problema é que muitas vezes não consumimos cultura de uma maneira autodeterminada. Ficar dois anos sem televisão me ajudou a compreender isso. Hoje, só ligo o aparelho quando quero ver um programa específico. Isso é muito diferente do que ficar zapeando horas a fio, ou deixar a televisão ligada e aceitar o que estiver passando. Acho que estamos fazendo isso também com livros, filmes, entre outros. Ou zapeamos, ou saímos consumindo tudo que está sendo oferecido. Ou ainda, consumimos tudo que está sendo oferecido com a velocidade de um zapping. Isso me dá uma vontade danada de voltar aos anos cinqüenta, mesmo tendo nascido em 83.
Pedro David
Valeu o toque, Bruno, o pessoal já está vendo o que houve. Abs.