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O desastre de ganhar o Nobel

13/05/2008

A escritora inglesa Doris Lessing disse em entrevista a um programa de rádio veiculado ontem à noite em seu país (via The Independent, em inglês) que ganhar o Prêmio Nobel de Literatura de 2007 foi um “tremendo desastre” – se alguém tiver uma tradução melhor para bloody disaster, que obviamente não inclua o adjetivo “sangrento”, aceito sugestões.

Ah, mas essa velhinha (88 anos) não está só fazendo tipo, ensaiando uma cara cool para mostrar diante das câmeras? Não creio, Doris Lessing nunca foi assim. Está certo que talvez exagere um pouco, esquecida do milhão de dólares do prêmio – que ela diz já ter gasto inteirinho com filhos e netos. Mesmo assim, tudo indica que sua angústia é real e tem a ver com o medo de nunca mais escrever. A energia, queixou-se, está acabando: “A única coisa que faço é dar entrevistas e posar para fotos”.

Ué, mas dar entrevistas e posar para fotos não é o máximo a que qualquer ser humano pode aspirar neste mundo de celebridades? Foi preciso Doris Lessing externar sua bronca para nos lembrar, como devia ser óbvio desde o início, que não.

34 Comentários

  • Saint-Clair Stockler 13/05/2008em11:46

    É por esses e outras que Doris Lessing é um dos escritores que eu mais respeito nesse mundo.

  • Jonas 13/05/2008em13:24

    Ué, mas ela dá entrevistas e posa para fotos porque quer. O Coetzee é Nobel e continua falando pouquíssimo, quase nada, com a imprensa. E mantém o seu ritmo de lançar, em média, um livro a cada dois anos.

  • Tibor Moricz 13/05/2008em13:30

    Doris Lessing Rules!!

  • Eric Novello 13/05/2008em13:48

    Qualquer coisa ela podia ter deixado o milhãozinho comigo, para minimizar o desastre. Doris Lessing de pilha fraca deve escrever melhor que muito escritor-marmanjo com bateria cheia.

  • Adriano 13/05/2008em14:01

    Maldito desastre

  • suzy 13/05/2008em14:01

    você poderia usar um desastre desgraçado em vez de tremendo desastre … acho que tem aquele tom ofensivo que o bloody tem …

  • Deborah 13/05/2008em14:07

    Caro ou cara Saint-Clair Stockler é uma escritora e não um escritor…. mas blz

  • Elvis 13/05/2008em14:38

    Ela é ela, e sabe disso.
    Por isso a hostilidade na suas entrevistas

  • Sérgio Rodrigues 13/05/2008em14:48

    Obrigado, Suzy e Adriano. Tanto desgraçado quanto maldito são bem melhores. Mas agora já foi, vou manter minha tradução de salão mesmo. Um abraço.

  • Marcus 13/05/2008em15:15

    João Cabral, que nem ganhou o Nobel, disse que fica irritado com a enorme quantidade de pedidos de entrevista que recebe.

  • Jacob 13/05/2008em15:18

    Adorooooooooooo esse jeito ímpar e autêntico da Doris Lessing!! Pena que o Nobel tenha atrapalhado na sua produtividade…

  • Adriano 13/05/2008em15:38

    Vários ganhadores já reclamaram dessa consequência do nobel. Saramago, agora Lessing. O caso é que, enquanto não houver um novo ganhador do nobel, você será a referência viva mais forte na sua área, por isso a quantidade de requisições para entrevistas, fotos, enfim. Dizem que demora uns 2 a 3 anos para a poeira baixar e você poder voltar a sua vida normal.Talvez por isso o Coetzee consiga escrever quase normalmente hoje em dia.

  • Murilo Gabrielli 13/05/2008em16:02

    Maldido desastre au acho bom, melhor que tremendo.
    Meu preferido seria um puta desastre.

  • Milton Ribeiro 13/05/2008em16:06

    Ela posa para fotos e dá entrevistas dizendo bobagens, como aquela sobre Obama.

    Lessing é ex-escritora e faz tempo.

  • jerval peixoto sobrinho 13/05/2008em16:46

    acho ótimo vc ter lançado a dúvida da tradução, sangrento seria muito literal, PUTA DESASTRE- interessante mas muito “unpolite”, o português as vezes surprende com a escassez de palavras…

  • ricardo 13/05/2008em17:05

    “Puta desastre” talvez seja a melhor das opções. o “bloody” não é uma expressão mais cabeluda para os britânicos?
    quanto à questão de doris lessing e o nobel, acho que ela tá reclamando um pouco de barriga cheia. ela já tá bem velhinha e já produziu muito, com direito a um clássico (The Golden Notebook).

  • joao gomes 13/05/2008em17:44

    drástico desastre.

    “Mas a vovó não é uma gracinha!?
    por que ela nao vai preparar seu obituário.? …

    É isso que dá ficar dando dinheiro para filhos e netos que, eventualmente, nem sabem a diferença de “carta de alforria”, “carta de corso”, ou a famosa “carta branca” que nos palácios, por ser branca, é invisível como funcionários fantasmas.

  • Sérgio Rodrigues 13/05/2008em17:51

    Caro Jerval, não confunda a provável inépcia do tradutor com escassez de palavras do português. Não há nada que não possa ser dito em nossa língua. Esse “bloody” dos ingleses só é difícil de traduzir porque a versão literal não funciona. Mais ou menos como “wild dreams”, que viram “sonhos selvagens” quando o pessoal não sabe que “sonhos loucos” ou “sonhos desvairados” é a melhor tradução. Mas o vocabulário do português não tem nada a ver com esse tipo de dificuldade. Também teria que recorrer a uma adaptação semelhante quem, na mão inversa, tivesse que traduzir “que porra é essa”, por exemplo, para o inglês. No mais, concordo que “puta desastre”, a solução preferida do Murilo, força a mão um pouco além da conta no aspecto chulo. Um abraço.

  • ricardo 13/05/2008em18:05

    “Puta desastre” talvez seja a melhor das opções. o “bloody” não é uma expressão mais cabeluda para os britânicos?
    quanto à questão de doris lessing e o nobel, acho que ela tá reclamando um pouco de barriga cheia. ela já tá bem velhinha e já produziu muito, com direito a um clássico (The Golden Notebook).

  • Jonas 13/05/2008em18:19

    Ficaria bom em castelhano: “porca miséria”…

  • Marcelo Moutinho 13/05/2008em18:54

    Basta não aceitar, não?

  • Sérgio Karam 13/05/2008em19:15

    Bah, cheguei tarde na discussão, mas imediatamente pensei em “puta desastre”. Não é muito educado, mas, como diria o poeta, foda-se. No mais, Sérgio, xará, parabéns pela casa nova (não que antes não estivesse legal). Aguardo, ansioso, teus comentários sobre livros (lançamentos, reedições, etc). Um abraço.

  • Sérgio Rodrigues 13/05/2008em19:42

    Essa discussão está boa. O problema de ‘bloody’ (uma referência à menstruação) é que a palavra, embora esteja longe de ser elegante, não é vista como palavrão há muito tempo. Pode ser usada em ambientes familiares sem escândalo. No máximo, uma sobrancelha erguida. Não me parece que ‘puta’ tenha chegado lá – ainda. Daí eu preferir ‘maldito’ ou ‘desgraçado’, que se aproximam dessa zona intermediária de grosseria permitida em que ‘bloody’ parece ter caído. Abraços.

  • Tibor Moricz 13/05/2008em20:14

    Bloody shit seria, então, puta merda? E eu poderia usar num jantar, por exemplo? 🙂

  • Sérgio Rodrigues 13/05/2008em20:19

    Tibor, se estiver comendo spam com os vikings do Monty Python, sem dúvida alguma.

  • Tibor Moricz 13/05/2008em20:24

    Qualquer dia convido você a jantar em casa. Coisa menos pesada que spam, mas com direito a bloody shit toda vez que engasgar com o vinho vagabundo…rsrsrs.

  • Artur Péricles 13/05/2008em21:46

    Sérgio, aproveitando o gancho de nosso amigo, eu gostaria de ver uma crítica sua sobre esse e mais outros achismos atrapalhados das línguas (lembro-me agora de “inglês é uma língua pobre”).

    Abraço,

  • kelly 14/05/2008em00:18

    deixem a vó em paz. Imagino a pressão da moça (sic) caso ela não responda a todas as solicitações de entrevistas, fotos, festas etc, que eeei, sergio, você como ex editor do segundo caderno d´O Globo (éééca) sabe bem como é. Experimenta não ir. Experimenta não posar para foto. Fácil, fácil vira o joão gilberto. ou o rubem fonseca. O estranho. Ora, ora. Quem cria a doença? será o doente?
    kisses, loveu

  • renatinha 14/05/2008em09:40

    Acredito que a questão maior não é o bloody disaster, e sim o posar para fotos e dar entrevistas. Às vezes o que parece óbvio para uma linda senhora de 88 anos não é o mesmo óbvio dos efêmeros artistas de um Big Brother, por exemplo.
    Cada um no seu momento. E ela, posando para foto ou não, vai continuar sendo a linda escritora inglesa Doris Lessing

  • Rafael 14/05/2008em10:21

    A Britney Spears também costuma reclamar do fardo que é ser celebridade.

    Realmente, neste mundo pós-moderno, a fronteira que separa o erudito do popular foi definitivamente apagada.

    Quem sabe, seguindo o glorioso exemplo da Derci Gonçaves, Mrs. Lessing (ou seria Miss Lessing?) pouse nua? Afinal de contas, convenhamos, o figurino “Dona Benta”, que esta senhora insiste em ostentar, tornou-se old-fashioned faz tempo.

  • Saint-Clair Stockler 14/05/2008em10:43

    Oi Sérgio,

    Tenho uma sugestão pra você: um amigo português me perguntou qual a origem da expressão “lé com cré” e eu não soube responder. Não seria um interessante tópico da língua portuguesa pra um daqueles seus textos sobre?

  • Mr. WRITER 14/05/2008em14:29

    Agora só falta esses aspirantes a escritores também saberm que não são as fotos e as entrevistas que realmente importam na vida de um escritor…

    Se é fama rápida o que os aspirantes querem, então se candidatem ao BBB e profiram frases patéticas como aquela “Graças a Deus nunca fui de ler”

    Enquanto houver escritores mais preocupados em aparecer do que em escrever não me espantarei em ver gente querendo fotografar quem escreve mais do que querendo lê-los…

  • Arnoud 15/05/2008em12:40

    Jonas, o Coetzee tem 20 anos a menos que a Lessing.

    De 68 para 88 anos diferença é muito maior que de 28 para 48 anos.

  • PAULO PEREIRA (semi-analfabeto) 20/05/2008em23:49

    Eu não gosto das formas reduzidas : “…que ela diz já ter gasto…”. Vou continuar dizendo – apesar da moda – pegado, gastado…