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De suplementos e videoclipes
Posts / 30/04/2007

A gritaria geral no mercado americano contra os cortes que vários jornais têm promovido em suas seções dedicadas à literatura (pensou que isso só acontecia aqui?) motivou este interessante artigo (acesso livre, em inglês) do escritor Michael Connelly no “Los Angeles Times”. Connelly reconhece que suplementos literários sempre deram prejuízo, mas observa que sua lógica é a do cultivo de longo prazo, baseada na idéia de que consumidores de livros também consomem jornais. Pode ser. O que talvez indique que a imprensa tradicional já não enxerga diante de si um prazo tão longo assim. Enquanto isso, o livro “A guerra dos bastardos” (Língua Geral), da jovem escritora carioca Ana Paula Maia, está sendo lançado com um divertido trailer cinematográfico no YouTube. A moda de promover livros com videoclipes transados, apostando no chamado marketing viral, é recente no mercado internacional, e esta é uma de suas primeiras manifestações – e provavelmente a mais bem produzida – no Brasil. O que tem a ver uma notícia com a outra? Eu acho que muito.

‘Viva o povo brasileiro’ por quê?
Posts / 29/04/2007

Não me surpreendeu a eleição de “Viva o povo brasileiro” como o grande livro da ficção brasileira dos últimos 25 anos (veja a nota sobre a enquete do Todoprosa aqui embaixo). Abrindo só um dos 53 votos – o meu –, confesso que fui um dos eleitores da obra-prima do autor baiano, livro que consegue ser divertidíssimo e, ao mesmo tempo, de uma ambição vertiginosa. Acrescento que como organizador da brincadeira fiquei aliviado ao constatar que ele teria vencido mesmo sem a minha ajuda. Surpreendente foi descobrir que alguns amigos escritores se indignaram com o resultado. Um deles chega a considerar mal escrito o livro de João Ubaldo, um mero “rascunhão”. Essas coisas são assim mesmo. Só não se pode negar que, duas décadas depois de lançado, “Viva o povo brasileiro” ocupa um lugar privilegiado no juízo da crítica e na memória do público. A meu ver, merecido. Achei lúcido este ensaio do crítico Wilson Martins, chamado João Ubaldo Ribeiro, um caso de populismo literário. Martins dá boas pistas dos motivos que levam esse romance a se impor como expoente – inclusive, acrescento eu, sobre qualquer coisa escrita por Jorge Amado, “pai” evidente de Ubaldo: Não hesitei em qualificar “Viva…

‘Viva o povo brasileiro’ é o melhor dos últimos 25 anos
Posts / 28/04/2007

Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, é o principal livro brasileiro de ficção dos últimos 25 anos. Épico mítico e irreverente da nacionalidade, com seu painel histórico abrangendo quatro séculos, o romanção lançado pelo escritor baiano em 1984 ficou em primeiro lugar na votação promovida pelo Todoprosa junto a 53 escritores, críticos e editores brasileiros. Em segundo lugar, empatados, vieram Dois irmãos, de Milton Hatoum, e Quase memória, de Carlos Heitor Cony. Na quarta posição houve outro empate, este triplo, entre Aqueles cães malditos de Arquelau, de Isaías Pessotti, A senhorita Simpson, de Sérgio Sant’Anna, e Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu. De todos os primeiros colocados, apenas os dois últimos não são romances: o de Caio Fernando é uma coletânea de contos e o de Sérgio, uma novela escoltada por histórias curtas. Cada votante foi orientado a escolher o melhor/mais importante título de ficção (romance, novela ou coletânea de contos) publicado a partir de 1982 (inclusive), valendo a data da primeira edição. Um único livro por pessoa. Não houve lista prévia, a menção foi espontânea. Foram disparados 100 emails para profissionais de destaque ligados à literatura, dos dois lados do balcão e em diversas faixas etárias. Cerca…

Kiran Desai fecha lista de estrangeiros na Flip
Posts / 27/04/2007

A confirmação da vinda da indiana Kiran Desai, 36 anos, completa a lista de autores estrangeiros da Festa Literária Internacional de Parati. Kiran, que vive nos EUA, ganhou o prêmio Booker do ano passado por seu segundo romance, The inheritance of loss, a ser lançado aqui pela Alfaguara com o título (provável) de ?O legado da perda?. Filha da escritora Anita Desai, ela teve seu primeiro livro, ?Rebuliço no pomar de goiabeiras?, publicado pela Record. Kiran Desai fecha com a sul-africana Nadine Gordimer, prêmio Nobel de 1991, e com a egípcia Ahdaf Soueif um trio de mulheres em meio a um time de convidados do sexo masculino em que se destacam o também sul-africano e também nobelizado J.M. Coetzee, o israelense Amós Oz, os americanos Art Spiegelman e Lawrence Wright, o inglês Will Self, o mexicano Guillermo Arriaga, o argentino César Aira e o moçambicano Mia Couto. Completam a lista de estrangeiros os argentinos Alan Pauls e Rodrigo Fresán, o inglês Robert Fisk, o escocês William Boyd, os americanos Dennis Lehane e Jim Dodge e o serra-leonês Ishmael Beah. Quinze homens, três mulheres. Muito desigual? ?Não me preocupei com nenhuma espécie de cota?, ri o diretor de programação da Flip,…

À espera dos bárbaros
Posts / 26/04/2007

Com seu ritmo de cartum, uma temporada clássica dos Simpsons tem mais idéias espalhadas por um amplo espectro cultural do que qualquer romance escrito no mesmo ano. A velocidade, a densidade de informação, o leque de referências; a quantidade, a qualidade e a rica humanidade das piadas – tudo isso faz praticamente qualquer romance contemporâneo parecer lento, sorumbático, monótono e quase totalmente vazio de idéias. … Enquanto isso, a internet está rapidamente se tornando a biblioteca de Babel de Borges, o mar de histórias de Rushdie: tudo está ali, numa potencial relação promíscua com todas as outras coisas. Acontece tudo ao mesmo tempo, no mesmo lugar, sem qualquer hierarquia. É como se o espaço e o tempo tivessem entrado em colapso. É excitante – e assustador. Quem está capturando isso num romance? Porque é no romance que isso deve ser capturado. O romance pode tomar liberdades que a televisão não pode, moldar e estruturar a multiplicidade e o caos de modos que a internet não consegue. Romancistas podem recorrer a essas novas formas de arte para encontrar novas estruturas e técnicas de contar histórias, como Joyce recorreu ao cinema. Mas quem está fazendo isso? Estranhamente, os modernistas parecem captar o…

Virtual
Sobrescritos / 25/04/2007

O escritor imagina um personagem, também escritor, que à deriva diante de seu tablete de cristal líquido, em algum momento entre 1h15 e 4h30 de uma madrugada insone, descobre-se de repente num blog sem nome onde refulge um texto límpido e profundo como o mar em certos trechos mágicos do litoral, blocos de uma prosa poética que se encrespa, corcoveia, muda de forma enquanto o escritor, fazendo rolar a tela sob a ação de suas pálpebras estateladas, sente lhe subir uma excitação nada menos que sexual por ter desentocado tamanho tesouro, cuja obscuridade naquele endereço longo e cheio de barras só pode ser explicada pelo caos que a internet é, pandemônio capaz de abrigar lado a lado cordilheiras de bobagem e essa estranha jóia em que se fundem o sumo de vinte e cinco séculos e a última novidade petulante, veneno e antídoto, pedra e vento, como se não, de modo algum fosse apenas um sonho infantil o poder de destilar numa combinação de caracteres alfabéticos o ácido que dissolveria a desilusão do escritor, e por trás dela também a do escritor, desilusão com sua arte eunuca, seu talento nauseado, seus colegas oligofrênicos, angústia que explica a insônia desta noite…

Os maiores da língua espanhola (II)
Posts / 24/04/2007

Os 100 títulos da lista são obras de 73 autores, dos quais se destacam Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Roberto Bolaño, Javier Marías, Juan José Saer, Antonio Muñoz Molina, César Aira e Diamela Eltit. Usando os sites da Submarino, Livraria Cultura e Estante Virtual (sebos), cheguei ao seguinte: dos 100 livros, 37 estão disponíveis hoje para compra. Deve-se colocar ainda que há autores com obras publicadas no Brasil que não correspondem às da lista. Por exemplo, César Aira já teve três livros lançados pela Nova Fronteira, porém foram outros três os “laureados”. Contabilizando, vê-se que dos 73 autores da lista, 46 já foram publicados no Brasil. Já foi comentada aqui a lista dos cem melhores romances de língua espanhola dos últimos 25 anos, elaborada pela revista “Semana”. Na ocasião, interessado em descobrir o tratamento que esses títulos e autores tinham recebido no mercado brasileiro, Marco Polli publicou aqui na área de comentários alguns números iniciais. Agora volta à carga em seu próprio blog, o Ângulo, e acaba de destrinchar o assunto. Vale a visita.

Violência simbólica, violência real
Posts / 23/04/2007

O escritor e roteirista argentino Marcelo Figueras especula em seu blog no site Boomeran(g), aqui e aqui, que o alarme despertado entre as autoridades escolares por seus textos “perturbadores” – na verdade, esquetezinhos toscos – pode ter contribuído para que Cho Seung-Hui, o atirador da Virgínia, se sentisse realmente um criminoso e completasse o caminho entre a violência simbólica e a real. Figueras, um cara sério, chega a chamar o assassino de “mártir da correção política”. E completa: “Se um Chuck Palahniuk de 23 anos apresentasse alguns capítulos de Fight Club (‘Clube da luta’) a seus professores, seria denunciado hoje perante as autoridades, espionado, vigiado – e talvez até detido, nestes tempos de Patriot Act que permitem encarcerar por obra e graça das razões de Estado”. Não costumo subestimar a vocação americana para paranóias do gênero, especialmente depois de uma tragédia tão brutal. Mas acho que o hermano pirou en la papita.

Começos inesquecíveis: Ivan Ângelo
Posts / 22/04/2007

Quem estivesse na praça da Estação na madrugada de hoje veria um nordestino moreno, de 53 anos, entrar com uns oitocentos flagelados no trem de madeira que os levaria de volta para o Nordeste. Veria os guardas, soldados e investigadores tangendo-os com energia mas sem violência para dentro dos vagões. E veria que em pouco mais de quarenta minutos estavam todos guardados dentro do trem, esperando apenas a ordem de partida. E, a menos que estivesse comprometido com os acontecimentos, não compreenderia como o fogo começou em quatro vagões ao mesmo tempo. Apenas veria que o fogo surgiu do lado de fora dos vagões, já forte, certamente provocado. Assim começa, pegando fogo literalmente e num tom de “jornalismo literário” que logo será explicitado, o romance “A festa”, lançado em 1976 pelo mineiro Ivan Ângelo (Summus Editorial, 4a edição, 1978). Na página seguinte, a explicação: “Trecho da reportagem que o diário ‘A Tarde’ suprimiu da cobertura dos acontecimentos da praça da Estação, na sua edição do dia 31 de março de 1970, atendendo solicitação da Polícia Federal, que alegou motivos de segurança nacional”. Forte candidato a melhor retrato literário do Brasil nos anos da ditadura militar e um caso raro de…

Roberto Bolaño: ‘A pista de gelo’
Primeira mão / 20/04/2007

“A pista de gelo” (Companhia das Letras, tradução de Eduardo Brandão, 200 páginas, R$ 37), que chega às livrarias semana que vem, é um livro do chileno Roberto Bolaño. Isso bastaria para torná-lo um destaque entre os lançamentos da temporada. Um dos nomes mais citados aqui no Todoprosa, personagem de diversas notas nos últimos meses, Bolaño (1953-2003) vem se firmando no juízo da crítica internacional como o maior nome da literatura latino-americana pós-boom. Acontece que, além de tudo isso, este é o primeiro romance que ele publicou, em 1993, bem no início da torrente vertiginosa de lançamentos – romances, contos e poesia – que marcaria seus últimos dez anos de vida como expatriado em Barcelona. Nessa posição, se fica distante da grandiosidade de “Os detetives selvagens”, “A pista de gelo” tem um interesse especial para o admirador de Bolaño por apresentar pela primeira vez vários elementos de sua obra “madura” – adjetivo meio inadequado mas inevitável para o que o sujeito escreveria poucos anos depois. Três narradores se alternam na condução da história, num prenúncio da megapolifonia que estava por vir. Um fundo de trama policial, mesmo passando longe de confinar o romance num gueto de gênero, fornece a eletricidade…

Ana Maria explode o Paiol
Posts / 19/04/2007

A mídia tem dois soluços anuais. Hic! Abril. Hic! Outubro. Em abril, tem o Dia Internacional do Livro Infantil. Em outubro, o Dia da Criança. Nessas duas ocasiões, publica-se a mesma reportagem. Todo ano. Você pode só trocar o nome dos lançamentos. Eles telefonam e fazem as mesmas perguntas aos mesmos escritores. É um rito sazonal. Perguntam se a televisão atrapalha, se as crianças de hoje estão lendo menos. Aí a gente mostra, com números, que as crianças de hoje lêem muito mais. Lêem mais que os adultos até. E eles não acreditam. Seis meses depois, aquilo se repete outra vez. E os jornalistas não acreditam, não lêem, não vêem o que um livro do Pedro Bandeira ou do João Carlos Marinho pode ter de fascinante. Não lêem, não sabem. Mas quando ouvem falar de Harry Potter se arreganham e dão a ele uma capa colorida. A mídia é um caso perdido. … Procuro escrever todo dia. Isso não significa que eu aproveite aquilo que escrevo todo dia. Escrever não quer dizer publicar, não quer dizer aproveitar. (…) O importante é escrever. Uma hora amadurece. Posso estar enganada, mas acho que tem muito mais bobagem publicada do que genialidade não…

Disney, ou melhor, Dickens World
Posts / 18/04/2007

Auto-ajudificar um autor como Cormac McCarthy (veja a nota abaixo) não é nada perto da disneyzação do clássico vitoriano Charles Dickens (1812-1870). E isso não tem nada de metáfora. Dê uma olhada no site do Dickens World, um megaparque temático – investimento da ordem de R$ 250 milhões – dedicado ao autor de “Um conto de duas cidades”, que abrirá suas portas na Inglaterra no dia 25 do mês que vem. Os organizadores prometem, pelo preço do ingresso, mergulhar o visitante nas “ruas, sons e cheiros” da sociedade inglesa – com suas desigualdades de padrão brasileiro – em que viveu o pai de David Copperfield e Oliver Twist. Algo me diz que vão pegar leve no quesito “cheiro”. Ou seja: pobres encantadores de pés descalços e maquiagem fuliginosa tomarão o lugar de Mickey e Donald, mas o espírito é o mesmo. Um grande barato? O supra-sumo do brega? Talvez seja melhor parafrasear o próprio Dickens: “É o melhor dos tempos, é o pior dos tempos”.

O Pulitzer ou o público?
Posts / 17/04/2007

Responda depressa: você preferiria ganhar o prêmio Pulitzer de romance, que dá prestígio e um cheque de dez mil dólares, ou uma vaguinha no “clube de leitura” que mais fabrica best-sellers em todo o mundo? Este dilema o americano Cormac McCarthy não precisou enfrentar. Ficou com os dois. Merece ambos, mas não é preciso muito cinismo para encarar essa historinha como um retrato das mudanças que vêm sendo operadas por nosso tempo nas máquinas de fabricar celebridades literárias. O autor de “Meridiano sangrento” (Nova Fronteira, esgotado) e “Onde os velhos não têm vez” (Alfaguara, 2006) faturou ontem o prêmio Pulitzer de romance por The road, uma sombria história conduzida por um pai e um filho que vão para a estrada num cenário pós-apocalíptico – a edição brasileira do livro está prometida pela Alfaguara para julho deste ano. O Pulitzer é um prêmio “sério” e tradicional, criado em 1917. Deve ter na carreira de McCarthy, um autor recluso e de apelo popular limitado pela extrema violência de suas histórias, um impacto desprezível. Prestígio não lhe faltava. Revolução mesmo é a que vem sendo provocada pela surpreendente inclusão de The road no Oprah’s Book Club, o “clube de leitura” da apresentadora de…

O livro, esse desconhecido
Posts / 16/04/2007

Preocupado com o futuro do livro? Já parou para pensar no seu passado? Este vídeo é espetacular – principalmente se você conseguir ignorar a claque enlatada.

Começos inesquecíveis: H.G. Wells
Posts / 14/04/2007

Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo era atenta e minuciosamente observado por inteligências superiores à do homem e, no entanto, igualmente mortais; que, enquanto os homens se ocupavam de seus vários interesses, eram examinados e estudados, talvez com o mesmo zelo com que alguém munido de um microscópio examina as efêmeras criaturas que fervilham e se multiplicam numa gota d’água. O começo do clássico de ficção científica “A guerra dos mundos” (Alfaguara, tradução de Thelma Médici Nóbrega, 2007), romance lançado em 1898 pelo escritor inglês H.G. Wells (1866-1946), impressiona pela precisão “científica” da prosa. A frieza do tom torna ainda mais sinistra a ameaça de invasão marciana que prenuncia.

John Banville: “O mar”
Primeira mão / 13/04/2007

O escritor e crítico literário irlandês John Banville, 61 anos, é quase um desconhecido do público brasileiro. O que não chega a ser surpresa: ele também não goza lá de grande fama entre os leitores anglófonos. Considerado um autor “difícil” por sua prosa poeticamente trabalhada e pelo ritmo lento de suas narrativas, Banville nunca teve vendas além de uns poucos milhares de exemplares – tiragem de ficcionista brasileiro – até ganhar o Booker Prize de 2005, e com ele uma avalanche de manchetes, por este “O mar” (Nova Fronteira, tradução de Maria Helena Rouanet, 224 páginas, R$ 29,90). O romance é narrado de forma não linear por um crítico de arte de meia-idade que, tentando se recuperar da morte da mulher, retorna à cidadezinha praiana onde passava férias na infância e mergulha num mar de memórias dolorosas. A maior parte da crítica internacional saudou o livro como a obra-prima de Banville, e os elogios, embora eu ainda esteja no início da leitura, me parecem fundados. Do autor eu só tinha lido o interessante “O livro das provas”, lançado aqui pela Record em 2002. “O mar” promete mais. A beleza hipnótica de sua prosa, conservada pela tradução, brilha no trecho abaixo,…

Rumo a Tralfamador
Posts / 13/04/2007

“Onde estou?”, disse Billy Pilgrim. “Preso numa outra bolha de âmbar, Sr. Pilgrim. Estamos onde temos que estar exatamente agora – a trezentos milhões de milhas da Terra, em direção a uma curva de tempo que nos levará a Tralfamador em questão de horas, em vez de séculos.” “Como – como eu cheguei aqui?” “Só um outro terráqueo poderia lhe explicar isso. Os terráqueos são os grandes explicadores, explicam por que este evento é estruturado da forma que é, dizem como outros eventos podem ser obtidos ou evitados. Eu, que sou um tralfamadoriano, vejo o tempo como um todo, da mesma forma que você veria um trecho das Montanhas Rochosas. Todo o tempo é todo o tempo. Não muda. Não se presta a alertas ou explicações. Simplesmente é. Observe-o momento a momento e descobrirá que nós todos somos, como eu disse antes, insetos no âmbar.” “Para mim, você soa como se não acreditasse no livre-arbítrio”, disse Billy Pilgrim. Comecei a reler Slaughterhouse-Five ontem à noite (“Matadouro 5” no Brasil; a L&PM tem uma edição de bolso baratinha, com boa tradução de Cássia Zanon). Dei boas risadas, feliz – e um pouco surpreso – de constatar que o livro não envelheceu…