A mídia tem dois soluços anuais. Hic! Abril. Hic! Outubro. Em abril, tem o Dia Internacional do Livro Infantil. Em outubro, o Dia da Criança. Nessas duas ocasiões, publica-se a mesma reportagem. Todo ano. Você pode só trocar o nome dos lançamentos. Eles telefonam e fazem as mesmas perguntas aos mesmos escritores. É um rito sazonal. Perguntam se a televisão atrapalha, se as crianças de hoje estão lendo menos. Aí a gente mostra, com números, que as crianças de hoje lêem muito mais. Lêem mais que os adultos até. E eles não acreditam. Seis meses depois, aquilo se repete outra vez. E os jornalistas não acreditam, não lêem, não vêem o que um livro do Pedro Bandeira ou do João Carlos Marinho pode ter de fascinante. Não lêem, não sabem. Mas quando ouvem falar de Harry Potter se arreganham e dão a ele uma capa colorida. A mídia é um caso perdido. … Procuro escrever todo dia. Isso não significa que eu aproveite aquilo que escrevo todo dia. Escrever não quer dizer publicar, não quer dizer aproveitar. (…) O importante é escrever. Uma hora amadurece. Posso estar enganada, mas acho que tem muito mais bobagem publicada do que genialidade não…