…a minha impressão sugere que Raduan é um caso atípico de Bartleby. Seu silêncio literário aparentemente não se origina das tensões internas da modernidade literária, não veio de um drama autoral frente ao um desafio extremo, Raduan apenas se encaminhou para fora. A estranheza vem do nosso olhar, acostumados que estamos a descrições de “literatura como destino”, “relação orgânica texto-autor” e a escritores que lançam livros a cada dois ou três anos sem ter nada a mostrar. O ‘caso Raduan’ é um problema para nós, não para o próprio. Em seu blog, Marco Polli comenta com perspicácia o “caso Raduan Nasssar” à luz de “Bartleby e companhia”, do espanhol Enrique Vila-Matas – um estudo literário sobre escritores que, a exemplo do escriturário de Herman Melville, em algum momento se recusam a contribuir para o excesso de letrinhas no mundo e avisam: “Prefiro não fazer”. A nota me fez pensar numa razão para que o “silêncio dos escritores”, que não foi inventado ontem e pode obedecer a um milhão de razões particulares, nos pareça, neste início de século, um tema cultural cada vez mais relevante e desafiador. Deve ser porque vivemos – e não apenas na literatura – dentro de uma…