O “caso JT Leroy” foi tão embaraçoso para o establishment literário em geral que acabou sendo muito menos discutido do que merece. Levantou-se uma orelha do tapete, varreu-se o assunto, uma pena. Vale aproveitar o fato de a confusão ter finalmente chegado aos tribunais na forma de uma acusação de fraude – leia a reportagem do “New York Times”, mediante cadastro gratuito – para recordar a história. Para quem não se lembra, o escritor-personalidade JT Leroy, apresentado como um jovem travesti drogado, prostituído e soropositivo, salvo por um triz da ruína por sua genialidade literária, entrou em cena em 2000 nos Estados Unidos para virar uma celebridade instantânea. A questão constrangedora é: quanto da imediata e festiva adoção de JT pela imprensa literária se devia à sua biografia e quanto à literatura em si? Porque a biografia provou-se mais falsa do que uma prestação de contas do presidente do Senado. E se o texto era mesmo tão espetacular quanto andaram dizendo, que importância tinha um nom de plume? Por que, do dia para a noite, todo mundo que o cobrira de elogios saiu assobiando para cima? JT Leroy, soube-se há dois anos, era na verdade uma dona de casa quarentona…