Sempre fui – e digo isso sem orgulho, apenas uma daquelas constatações plácidas que vêm com o autoconhecimento – impermeável à emoção de pedir, que dirá colecionar, autógrafos. Uma dedicatória sincera garatujada por um amigo de fama literária restrita a dois quarteirões e meio sempre teve, na escala afetiva das minhas estantes, muito mais valor do que uma assinatura fria e carrancuda que possa ser arrancada de, sei lá, J.M. Coetzee himself numa noite memorável em Parati. Se essa inapetência me poupa de uma extensa quilometragem em filas, sem dúvida desvalorizará minha biblioteca em sebos futuros. A troca parece justa. O desapego aos rabiscos famosos, porém, não impedirá ninguém de se divertir com essa coleção online (via blog da Amazon). Dedicada quase exclusivamente ao universo da literatura anglo-americana, com alguns escritores de outras nacionalidades e nomes nada literários engrossando o caldo, ela permite o exercício deliciosamente barato de comparar, por exemplo, a assinatura ilegível de Thomas Pynchon, com seus traços que tentam se esconder atrás de si mesmos, com o floreado todo pimpão de H.G. Wells. Mais do que dois autógrafos, duas atitudes diante da literatura?