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A literatura e o sexo
NoMínimo / 11/05/2008

Depoimento de um famoso machadiano: Para mim, Capitu. Nos encontramos na casa de campo emprestada por um amigo meu, diplomata atualmente fora do país, adido cultural em Varsóvia. A casa fica no alto da Gávea e não poderia ser mais discreta, a fachada cochilando atrás de uma cerrada fileira de buganvílias. Faz três ou quatro meses que Escobar morreu no mar – tempo suficiente para que a saudade do adultério e suas vertigens, aliada à casmurrice do marido, empurre Capitu a esse encontro perigoso com alguém que mal teve tempo de conhecer. Fechada a porta, as poucas horas de que dispomos ganham imediatamente a plenitude de dias e a intensidade de segundos. Como descrever aquilo? Capitu se entrega e se nega ao mesmo tempo, cada negação explodindo numa entrega maior, como se lutasse consigo mesma. Dor, prazer, vergonha, febre. É mandona tanto na luxúria quanto no recato: aqui! pára! aperta! chega! mais! Saio exaurido, com um sorriso idiota nos lábios, feito um bebê farto do leite materno. Melhor que a encomenda. E você, que personagem da literatura levaria para a cama?