O romance é um gênero flexível, tolerante e magnânimo em que cabe tudo, menos o que é aborrecido. Tentar delimitá-lo ou direcionar seu curso carece de sentido histórico e evidencia apenas fanatismo intelectual ou um afã mercantil de notoriedade. O romance carece de regras. O romance é por excelência o último bastião da liberdade criativa do indivíduo. O romance é o território da fantasia, a imitação impossível da realidade, o big bang do pensamento livre e o instrumento com o qual o mundo se reinventa sempre uma outra vez. Pura catarse, puro caos, pura paixão. Me irritam os que pretendem erguer portas em campo aberto para restringir suas soluções habitacionais. Me enfastiam os doutrinários da primeira pessoa do singular, os atestadores do óbito do texto clássico e todos os que esperam ser modernos jorrando ketchup na cona de Madame Bovary. Se manifestos literários, a essa altura do furdunço vinte-e-único, são mais tediosos que bula de remédio com seus esqueminhas mentais bipolares – isso-sim, isso-não –, antimanifestos como este publicado hoje pelo escritor espanhol Fernando Royuela no “Babelia” (acesso livre, em espanhol) ainda são capazes de proporcionar um certo prazer. Não vão além da volúpia de desmascarar gênios do papo furado,…