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Apontamentos levianos para um ensaio gravíssimo: o plausível
Sobrescritos / 22/10/2009

Na Flip, a pergunta de alguém da platéia se dirige a todos os que dividem o palco – Arnaldo Bloch, Tatiana Salem Levy e eu. E ficamos nos entreolhando, sem saber o que responder. Não me lembro textualmente da pergunta, mas a idéia era saber o que nós, escritores, fazemos para que nosso texto não soe falso, para que o leitor acredite naquilo, para que tudo fique, digamos, plausível. (Não sei se o autor da pergunta tinha lido algum dos autores à sua frente e o considerava especialmente plausível. Gosto de imaginar que estivesse externando uma angústia antiga, nascida talvez da insatisfação com seus próprios escritos – mas isso não vem ao caso.) Depois de alguns segundos de constrangimento, não suportando mais o silêncio, peguei o microfone e comecei a falar a primeira coisa que me veio à cabeça: algo sobre a importância de rasgar, reescrever, enxugar, experimentar outro caminho. Mas a verdade é que, como meus companheiros de mesa, passei longe de captar o alcance da pergunta. Via nela apenas o lado ingênuo, óbvio, infantil, diante do qual o primeiro impulso é sacudir os ombros: “Ora, escrever é isso aí mesmo, o que mais posso dizer?” Só agora, meses…