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Bíblia chata e Shakespeare falso
Pelo mundo / 16/11/2011

Não dá para derivar personagens muito profundos ou suspense narrativo da convicção de que Jesus salva e tudo vai acabar bem. Até Charles Dickens se atrapalhou. Emérito contador de histórias, ele queria – embora não fosse lá tão cristão assim – que seus filhos soubessem “algo da história de Jesus Cristo”. Em fins da década de 1840, escreveu ‘A Vida de Nosso Senhor’ e a recitou para eles no Natal. “Jamais viveu alguém”, começava, “que tenha sido tão bom, tão amigo, tão gentil e tão piedoso com as pessoas que erram.” Eis uma sentença de abertura ruim por qualquer critério que se adote, mas as coisas pioraram quando Dickens insistiu: “Ele agora está no céu, para onde todos esperamos ir, a fim de nos reencontrarmos após a nossa morte”. Bom humor e alto astral diante da morte não rendem boa literatura, e o autor de ‘Oliver Twist’ e ‘David Copperfield’ deve ter percebido que fracassou. Deu o manuscrito aos filhos, sob a condição de que nunca permitissem que fosse copiado ou retirado de casa; e de fato o texto não achou o caminho de uma edição impressa por quase cem anos. Se um personagem nascido com todas as perfeições é…