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Livros digitais são uma nova bolha?
Pelo mundo / 30/07/2012

Estou convencido de que os livros digitais são uma nova bolha tecnológica, e de que ela vai estourar nos próximos 18 meses. Eis a razão: a publicação digital é inextricavelmente ligada às estruturas do marketing nas redes sociais e ao mito de que a mídia social funciona para vender produtos. Não funciona, e só agora começamos a ter estatísticas verdadeiras sobre isso. Quando o marketing das redes sociais entrar em colapso, destruirá a plataforma na qual se baseava o sonho de uma indústria formada por escritores autopublicados. Em sua tentativa de demolir no “Guardian” de hoje (em inglês) a lógica da autopublicação digital – e não a do livro digital em si, embora o trecho acima não deixe isso tão claro – Ewan Morrison apresenta números desconcertantes e compra briga com muita gente, inclusive o brasileiro Paulo Coelho, um defensor da publicação gratuita na internet como estratégia para escritores se fazerem conhecidos do público. * Depois de viajar a Cuba, o escritor argentino [Julio Cortázar] iniciou uma lenta transformação. Pouco a pouco, ele deixou de buscar uma revolução cultural vanguardista que mudasse a vida e começou a defender as revoluções políticas que transformavam as sociedades. Cuba preencheu um vazio político…

O pequeno grande Gatsby
Pop de sexta / 27/07/2012

httpv://www.youtube.com/watch?v=e6Iu29TNfkM&feature=youtube_gdata_player Trata-se de material educativo, o que costuma ser interpretado como uma espécie de eufemismo de “chato”. Por que será, então, que assisti com interesse a esse vídeo (em inglês) que pretende resumir e analisar sumariamente “O grande Gatsby”, obra-prima de F. Scott Fitzgerald e livro preferido de Luis Fernando Verissimo? A resposta simples é: porque é feito com inteligência, o que não pode ser dito de 99% dos resuminhos literários que assolam a internet brasileira. A resposta menos simples envolveria uma reflexão sobre a rapidez com que por aqui condenamos como “barateamento” qualquer iniciativa do gênero, ao mesmo tempo que ninguém assume ser contra o “incentivo à leitura”. Divirtam-se. Duvido que, assinada por quem é, a nova adaptação cinematográfica do romance seja tão interessante.

‘O espírito da prosa’: para apaixonados por literatura
Resenha , Vida literária / 25/07/2012

“O espírito da prosa – uma autobiografia literária”, de Cristovão Tezza (Record, 224 páginas, R$ 34,90), é um livro corajoso e único no cenário brasileiro: um longo ensaio em que um ficcionista de sucesso reflete sobre sua formação, sonda motivações ocultas, esmiúça referências, defende teoricamente suas escolhas no quadro histórico da prosa de ficção e, ao mesmo tempo, expõe as próprias dúvidas e pontos fracos com franqueza desconcertante. Ex-professor universitário e estudioso do linguista russo Mikhail Bakhtin, Tezza não facilita as coisas para o leigo menos ligado no tema: nem tanto pela linguagem – “Este não é um trabalho acadêmico”, avisa na primeira frase do livro – quanto por um tom singularmente fervoroso, “O espírito da prosa” dirige-se a um leitor no mínimo apaixonado por literatura. No trecho abaixo, depois de destroçar os três primeiros livros que escreveu – e que nunca publicou –, Tezza faz uma defesa enfática de algo que grande parte da inteligência literária brasileira tem gostado de tratar como defunto, muitas vezes com a superficialidade apressada de quem já não precisa reafirmar o óbvio: a ficção realista e seu lugar único, que obviamente não é o de uma linguagem em que o autor insufle uma verdade…

Que cena! Cai a máscara do narrador em ‘Lolita’
Destaque , Que cena! / 23/07/2012

Todo o romance é espetacular, uma das obras-primas do século 20, mas a cena abaixo – situada ao fim do primeiro terço de “Lolita” (1955), escrito diretamente em inglês pelo russo Vladimir Nabokov – ocupa posição de destaque. Em primeiro lugar por uma questão de arquitetura, como ponto de virada em que, pela ação quase inverossímil do “longo e cabeludo braço do Acaso”, a paixão proibida de Humbert Humbert, o narrador, sai da sombra da dissimulação familiar para a luz solar de um desfrute que chega perto de ser escandalosamente assumido. Não é só isso: também no relevo emocional do romance estamos, aqui, num pico elevado. Dele desce serpenteando uma montanha-russa de duas pistas. Numa trafega H.H. com sua voz narrativa que, como aponta com propriedade o escritor irlandês Brian Boyd na atual edição da revista “Serrote”, lembra muito – na inconfiabilidade, no traçado sinuoso, no uso do leitor como vocativo – a do melhor Machado de Assis. Cínico, brilhante, esnobe, esse representante decadente do Velho Mundo tem seu diário secreto violado e vê desmoronar sem aviso a farsa que montou ao se casar com Charlotte Haze, americana de meia-idade que despreza, para usufruir da companhia de sua filhinha, a…

Sem meritocracia
Sobrescritos / 20/07/2012

– Imagine o futebol sem meritocracia. Imaginou? – Não sei se estou entendendo. – Um futebol sem meritocracia, ora. Sem hierarquia, sem mecanismos de aferição de valor. Imagine um ambiente em que não só o craque desapareceu como a própria ideia de que certos jogadores possam ser considerados craques é revoltante para a sensibilidade democrática de todos. Craque para quem, na opinião de quem? Com que autoridade divina alguém decreta que um jogador é craque e outro não? – Mas isso não é evidente? Qualquer torcedor na arquibancada percebe a diferença na primeira matada de bola, no primeiro passe. – Será evidente mesmo? Ou será que estamos falando de um olhar condicionado, adestrado pelos poderosos, construído por gerações de cronistas esportivos preconceituosos para cobrir de privilégios seus eleitos, seus amiguinhos? – Você está brincando, né? – De jeito nenhum. No futebol sem meritocracia, a violência e a arbitrariedade de todo treinador ficam grotescamente expostas. De onde ele pensa que tirou autoridade para decidir quem entra em campo, quem fica no banco, quem estará na próxima lista de dispensa? – Do presidente do clube? – Do presidente, claro, como personagem contingente, mas através do presidente fala uma força historicamente constituída chamada…

II Concurso de Microcontos: mais 21 motivos para que venha o terceiro
Interatividade / 18/07/2012

Para encerrar o capítulo do II Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, publico algumas histórias que mereceram menção honrosa e que ajudam a ilustrar a diversidade de estilos e efeitos abarcada pelos atuais praticantes do formato ultracurto. Carlos Seabra, por exemplo, consegue alçar um bom voo no terreno da fantasia em apenas 116 caracteres: Os semícaros eram um povo unialado, cada qual com uma única asa. Para voar, tinham que escolher alguém e se abraçar. Edson Victor Lima toma o caminho oposto, o do realismo cru que, frequentemente carregado de violência e desespero, tem a preferência da maioria dos cultores da narrativa mais-que-sucinta. Isso é compreensível – com o tempo tão escasso, nocauteemos logo o leitor – mas também traiçoeiro, por produzir um efeito que, já esperado, tende à mesmice. O microconto de Edson se destaca mesmo assim, talvez ao preço de reduzir um pouco além do desejável o espaço do não-dito: Saco o iPhone para a última tuitada: “Me sigam, hahahaha.” Quem pode imaginar que essa é uma gargalhada de desespero? Pulo. Já a micronarrativa de Bárbara M.W. deixa um mundo inteiro de subentendidos num flagrante doméstico de banalidade pungente: Clara abriu a gaveta de calcinhas. Era a decisão…

II Concurso Todoprosa de Microcontos: os vencedores
Interatividade / 16/07/2012

Foi mais difícil escolher os vencedores desta vez. O número de narrativas ultracompactas inscritas foi o mesmo, pouco acima de 600. No entanto, desde a primeira versão do Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, em 2010, é possível que o formato radicalmente sucinto tenha se alojado mais fundo na sensibilidade da nossa época, sei lá. O fato é que o trabalho de seleção foi mais difícil, o medo de cometer alguma injustiça grave pairando o tempo todo sobre a cabeça do microjúri – formado, como já anunciei, por mim mesmo. Numa primeira peneirada, cheguei a 53 microcontos que, sem favor algum, poderiam constar da lista abaixo. Desse universo, um pente mais fino separou 24 finalistas. Escolher um oitavo deles para montar o pódio foi, como seria de esperar, o salto mais arriscado. Após incontáveis releituras, o primeiro lugar vai para Mara Augusta Soares pelo prodígio de, pronunciando apenas oito palavras cuidadosamente pesadas, desenhar um não-dito de dimensões vertiginosas entre a violência realista – tom eleito pela maioria dos concorrentes – e o lirismo, o mundo lá fora e o mundo aqui dentro, borrando irremediavelmente suas fronteiras: Ao pular na garganta do penhasco, ele sonhou. O segundo lugar premia uma tendência…

Quiz literário: quem escreveu esses personagens?
Interatividade , Pop de sexta / 13/07/2012

Aqui vai um joguinho divertido para bons leitores (e cinéfilos também): numa galeria de 36 personagens famosos da literatura, com limitação de tempo, em quantos casos você consegue identificar os autores? Como a escolha dos nomes que participam da brincadeira é decididamente mainstream, a maioria dos personagens já foi parar no cinema, o que pode facilitar a tarefa ou não. Quem, não sendo um bom leitor, presta atenção no nome do escritor em cuja obra o filme se baseou? A propósito, caso alguém esteja interessado: acertei 28 antes que se acabasse o tempo. Nota 7,7 – podia ser pior. * Achei surpreendente essa lista (em inglês) de escritores que atuaram como atores em filmes, preparada pelo “The Millions”. A carreira de Norman Mailer na tela grande é notória, certo. Eu também já tinha ouvido falar vagamente da atuação de um adolescente Martin Amis em certo filme inglês dos anos 1960, embora não fizesse ideia de que ele precisou ser dublado por uma menina (!). Mas a maioria foi novidade para mim. Tem coisas que só o Pop de Sexta faz por você. * Foi excelente a conversa do americano John Freeman, editor da “Granta”, com Paulo Roberto Pires, editor da…

Já entrou no Concurso de Microcontos? Ainda dá tempo!

Faltam 48 horas para o encerramento das inscrições no II Concurso Todoprosa de Microcontos para Twitter, às 13h desta sexta. As micronarrativas inscritas – limitadas ao número máximo de três por autor – já são 345. O resultado será divulgado aqui na próxima segunda-feira, dia 16. Se você está tomando conhecimento do concurso agora, acesse o regulamento aqui. E boa sorte. * Por falar em concurso: parabéns aos vinte escritores brasileiros – ou novelists, “romancistas”, segundo a versão inglesa, embora nem todos o sejam – que integram a seleção da revista “Granta”, anunciada em Paraty. Não conheço todos os nomes, mas é evidente que há muito talento reunido ali, e escolhas são escolhas. No dia em que Deus lançar uma antologia em tabletes de pedra, talvez Suas opções sejam menos contestadas – não por serem indiscutíveis (“aposto que o Todo-Safado eliminou os ateus sem nem ler!”), mas devido à possibilidade de que raios fulminem os dissidentes antes que eles cliquem no botão de enviar. Enquanto isso não ocorre, temos que nos resignar com antologias falíveis e exibições dolorosas de ressentimento. Fazer o quê? Desde o lançamento trágico da “Grandpa” é assim. * A Flip consegue transformar a literatura em notícia,…

Flip 2012: o caso do gaúcho gauche
Vida literária / 09/07/2012

Será que a cena do poeta gaúcho Fabricio Carpinejar recitando entre berros, sussurros e gargalhadas de vilão de filme B o poema “Confidência do itabirano”, de Carlos Drummond de Andrade, enquanto caminhava entre as cadeiras no auditório da Tenda dos Autores, ficará na história como o momento mais explosivo e transgressor da Flip 2012, um evento de resto bem comportado e até morno (leia o balanço do blog vizinho Veja Meus Livros)? Ou será lembrada, a tal cena, apenas como um momento constrangedor, equivocado, desrespeitoso com o homenageado? Não é fácil escolher uma resposta. A favor da primeira existe o argumento de que só pode fazer bem à arte, inimiga do saber institucionalizado, o tratamento dessacralizante dispensado a um poeta tão consagrado que já virou estátua – e uma réplica da que mora na orla do Rio de Janeiro podia ser encontrada durante a Flip em frente à casa alugada pela Companhia das Letras em Paraty, sem dúvida a atração mais fotografada de todo o evento. O princípio modernista da iconoclastia justificaria assim a performance histriônica do gaúcho gauche, tão mais necessária quanto mais respeitosas e até solenes tiverem sido – como foram – as demais leituras de poemas drummondianos…

Stefan Zweig, Borges e Fernando Pessoa encerram a Flip
Vida literária / 08/07/2012

Por Raissa Pascoal Como já é tradição, a mesa de encerramento da 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) reuniu alguns dos autores convidados do evento para a leitura de seus livros favoritos. “Essa mesa celebra a razão de ser da festa: a literatura”, disse Miguel Conde, que apresentou a sessão Livro de Cabeceira, mediada pela criadora do evento, Liz Calder. Entre os escritores lidos, estavam o austríaco Stefan Zweig, o argentino Jorge Luís Borges, a brasileira Lygia Fagundes Telles e o português Fernando Pessoa. Ao todo, nove convidados emprestaram a voz ao encerramento. Os primeiros a ler foram os francófonos Amin Maalouf, libanês, e Dany Laferrière, haitiano. Maalouf selecionou um texto de Zweig, autor de Brasil, País do Futuro, e Laferrière optou pelo pedaço de um conto do argentino Jorge Luís Borges, Funes, O Memorioso, sobre um rapaz com uma grande memória. “Há 30 anos, quando era um operário, entrei numa livraria e escolhi o livro mais elegante e livre da prateleira”, disse o escritor, lembrando seu encontro com o conto de Borges. Depois de Laferrière, a portuguesa Dulce Maria Cardoso leu um excerto do livro Os Passos em Volta, de seu conterrâneo Herberto Hélder. Nos contos…

Shteyngart e Kureishi: diversão e arte
Vida literária / 08/07/2012

Gary Shteyngart, americano nascido na Rússia, e Hanif Kureishi, inglês de ascendência paquistanesa, protagonizaram uma das mesas mais divertidas da história da Flip – mas nem por isso destituída de seriedade. Numa divisão um talvez grosseira – mas não muito – pode-se dizer que coube ao histriônico Shteyngart fazer o auditório gargalhar, com seu humor judaico autodepreciativo à la Woody Allen (com quem tem razoáveis semelhanças físicas), enquanto o irônico Kureishi levou a conversa para campos graves como a relevância da literatura – que ele defende com ênfase – no mundo contemporâneo. Autor de romances satíricos como “Absurdistão” e “Uma história de amor real e supertriste”, Shteyngart apresentou o último como uma história passada num “futuro em que uma América completamente iletrada está prestes a desmoronar. Ou seja, terça-feira que vem”. Como o livro satiriza a cultura digital e as redes sociais, acrescentou, teve que contratar um jovem para lhe ensinar a usar essas coisas. “Foi quando passei a ter um iPhone. É uma troca. Aprendi a usar o iPhone, mas nunca mais li um livro. Não leio há cinco anos.” Afirmando que terceiriza para escritores indianos a tarefa de escrever seus livros e recebe direitos autorais em queijo parmesão,…

Drummond em alta voltagem emocional
Vida literária / 08/07/2012

O depoimento em vídeo de um poeta que conviveu com Carlos Drummond de Andrade e um poema inédito de outro poeta, mais jovem, que o chamou de “uma espécie de Buda” foram dois dos pontos de maior voltagem emocional de toda a Flip 2012. Ambos se deram em rápida sequência hoje à tarde, na mesa “Drummond – o poeta presente”. O depoimento em vídeo foi de Armando Freitas Filho, autor de “Raro mar”. O poema inédito, de Carlito Azevedo, autor de “Monodrama”. O também poeta Eucanaã Ferraz completou a tarde em tom mais sóbrio – o que o contido Drummond certamente aprovaria. “Era um homem muito carinhoso, eu às vezes achava até que ele tinha pena de mim”, contou Armando. “ Aquela cara litográfica, limpa, limpa, parecia que tinha saído do banho. Aqueles olhos azuis, duas bolas de gude azuis. Era um homem muito simples, mas escrevia aquelas coisas extraordinárias… Ele escre via como quem faz a barba a seco, sem água, sem espuma e sem sabão… Escrevia com o próprio fígado, tirava dele, mas aquilo se transformava num discurso geral. Drummond não escrevia para ninguém mas escrevia para todos, isso era o que mais me impressionava, como ele conseguia…

Engajamento versus panfletagem
Vida literária / 08/07/2012

Por Maria Carolina Maia A literatura social do carioca Rubens Figueiredo (do premiado Passageiro do Fim do Dia) e do sergipano Francisco J. C. Dantas (de Os Desvalidos) pautou a mesa A Imaginação Engajada, neste domingo, na Flip. Mas não só ela. Os escritores falaram da sua forma de retratar a realidade e fizeram o público rir contando causos e piadas. O falso tímido Dantas, 71, que debutou na literatura aos 50 com Coivara da Memória (Estação Liberdade), subiu ao palco com um calhamaço de anotações. Sua primeira fala foi tão prolixa e distante do tema proposto – ele agradeceu o convite da Flip e a boa hospedagem que vem recebendo em Paraty, para então relembrar episódios de viagens que fez – que o mediador pediu autorização para passar a palavra a Figueiredo. “Vamos ouvir agora Figueiredo, se o senhor deixar, é claro”, disse , o professor de literatura João Cezar de Castro Rocha, dando uma indireta a Dantas. “Uma vez, participei da Jornada Literária de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e achei lindo como todo dia, debaixo do travesseiro, a camareira da pousada onde me hospedei deixava um chocolatinho”, contava Dantas antes de ser interrompido por Castro…

Jackie Kay e Carpinejar: poesia, piadas e… orgasmo
Vida literária / 08/07/2012

Por Raissa Pascoal A poesia abriu o domingo frio e chuvoso em Paraty, onde termina hoje a 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Mediada pelo jornalista João Paulo Cuenca, um dos 20 jovens autores do país selecionados entre os melhores da revista Granta, a mesa Vidas em Versos reuniu a escocesa Jackie Kay e o brasileiro Fabrício Carpinejar. Apesar de divertir o – agora já reduzido – público da tenda dos autores, a conversa não teve frescor literário. Entre leituras de textos seus, os autores falaram dos ecos entre sua vida e obra, contando histórias e piadas. Para explicar sua relação com o uso da voz, por exemplo, Carpinejar fingiu orgasmo para defender o recurso, que seria utilizado pelas mulheres para sinalizar prazer. “É uma pedagogia da sensibilidade.” O poeta gaúcho caiu no tema orgástico depois de Jackie Kay contar como presta atenção à voz e ao jeito de falar das pessoas. “Gosto de saber como as pessoas falam, sua sintaxe, a ordem das palavras. Uma vez que eu ouço a voz de um personagem, consigo criá-lo”, afirmou a escocesa. Carpinejar então disse que é filho do ouvido, porque cresceu com muito ruído em uma casa só de…

Angeli e Laerte, os novos, os velhos e os mesmos personagens
Vida literária / 07/07/2012

Por Maria Carolina Maia Coube aos brasileiros Angeli e Laerte a inserção de quadrinhos na programação da Flip, que nos anos anteriores recebeu os icônicos Robert Crumb e Gilbert Shelton (2010), de América e Freak Brothers, e Joe Sacco, do jornalístico Palestina (2011). Mas, ou por serem figuras bem conhecidas do público ou porque a mediação do jornalista Claudiney Ferreira deixou a desejar, o encontro de Laerte e Angeli não foi nenhuma surpresa para a plateia que encheu a tenda dos autores, junto ao centro histórico de Paraty. Exceto pela crítica de Angeli à comédia de tipo stand-up, que ele taxou de apelativa, para quem está habituado a ver entrevistas com os dois cartunistas a mesa-bônus na programação da festa, realizada a partir das 21h30 deste sábado, teve sabor de reprise. Os cartunistas falaram de seus velhos personagens, da necessidade que sentem de renovação do trabalho e de si mesmos – os mesmos personagens de sempre. Com um belo vestido colorido, Laerte contou mais uma vez como se percebeu transgênero. Foi a partir da publicação de uma tirinha com o personagem Hugo, que aparece travestido e dizendo, “Às vezes, um cara tem de se montar, ué”. “Eu me descobri transgênero. Eu tenho…

Lido, Enrique Vila-Matas é mais leve do que lendo
Vida literária / 07/07/2012

Uma emocionante homenagem ao recém-falecido escritor italiano Antonio Tabucchi em que é impossível demarcar com precisão a fronteira entre recordações verdadeiras e recordações inventadas; um breve ensaio poético de reverência aos radicais “escritores malogrados” que souberam diagnosticar e reagir a uma supostamente evidente ”morte da literatura”; e, por fim, um exame um tanto autocondescendente da própria obra em que seu último livro, “Ar de Dylan”, aparece como ápice. Na soma dos três passos, dos três textos lidos a partir de uma mesa no centro do palco, foi uma estranha atração – como não poderia deixar de ser, sendo Enrique Vila-Matas quem é – a que substituiu o desistente francês Le Clézio no horário nobre da Flip 2012, hoje à noite. Será verdade que o pequeno Vila-Matas, com apenas cinco anos de idade, foi vizinho de veraneio de um Tabucchi cinco anos mais velho, a quem dizia insistentemente que “os adultos são estúpidos”? Qualquer que seja a resposta, ela não tirará o brilho de uma frase como esta: “Um dia descobri que Tabucchi era a sombra de Fernando Pessoa e decidi me tornar a sombra de Tabucchi, para ser a sombra de uma sombra de uma sombra”. Da mesma forma, há…