O poeta Antonio Cícero foi responsável pelos melhores momentos da mesa de abertura da Flip, a primeira das três previstas para homenagear Carlos Drummond de Andrade, encerrada agora há pouco. Ao fazer um inspirado exercício de close reading, isto é, de leitura detida, verso a verso, do poema “A flor e a náusea”, terminou por se aproximar mais – e ao público – do poeta mineiro do que o crítico Silviano Santiago conseguiu, com sua explanação de ambição totalizante, que ele mesmo se apressou a reconhecer como tarefa “inglória”, de uma obra extensa e multifacetada demais para tanto. A noite começou com uma breve crônica de Luis Fernando Verissimo, escalado para saudar a décima edição da Flip – festival ao qual, certa vez, escreveu que aceitaria vir “até para trocar uma lâmpada”, como lembrou o curador Miguel Conde ao apresentá-lo. O cronista tratou de divertir o público com sua verve, lembrando que em 2008, ao entrevistar, nervoso, o dramaturgo inglês Tom Stoppard no palco da Tenda dos Autores, confundiu-se a chamou o evento de “Clip”. “O público não entendeu, mas o C era de celebração”, brincou. Afirmando ter sido convidado para apresentar na Flip um “panorama da obra” de Drummond,…
O homenageado – demorou – é Carlos Drummond de Andrade, mas a décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que começa hoje à noite, promete ser dominada por outro tímido famoso: o escritor catalão Enrique Vila-Matas, que está no Brasil lançando seu novo romance, “Ar de Dylan”, topou na última hora dobrar seu tempo de exposição no evento para suprir a lacuna deixada pela desistência do francês J.M.G. Le Clézio. Além de dividir a mesa das 15h de quinta-feira com o chileno Alejandro Zambra, como estava previsto, Vila-Matas fará uma conferência no horário mais nobre de todos – 19h30 de sábado –, que havia sido reservado para o prêmio Nobel de 2008. Sob o título “Música para malogrados”, consta que falará sobre alguns dos temas que revisita obsessivamente em seus romances, entre eles o potencial redentor do fracasso e a recusa do ato de escrever como gesto artístico maior. “O momento em que a literatura se reduz a um produto de mercado é também o momento de sua irrevogável extinção. Este, afirma Enrique Vila-Matas, é o momento que vivemos hoje”, diz o programa da Flip. É ironicamente apropriado, bem ao gosto de Vila-Matas, que seu imprevisto protagonismo tenha sido…