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Franzen, o esquisitão sincero
Vida literária / 06/07/2012

O escritor americano Jonathan Franzen, uma das principais estrelas da Flip 2012, divertiu e intrigou o público em igual medida na mesa encerrada agora há pouco. Com uma mistura peculiar de respostas espirituosas, piadinhas sem graça, longos silêncios aparentemente dedicados à reflexão antes de emitir um simples sim ou não, tudo isso somado a um profundo desajeitamento corporal de nerd de anedota, Franzen conversou com o mediador Angel Gurría-Quintana e respondeu também às perguntas do público. Soou sincero, apesar de parecer caprichar na pose de esquisitão, ao admitir, por exemplo, que vivia com seu amigo David Foster Wallace uma relação extremamente competitiva. Mas deixou claro que nada o empolgou tanto em sua visita ao Brasil quanto o fato de ter observado pássaros. O elogio que fez à região de Paraty por sua riqueza ornitológica foi o momento mais empolgado da noite. Abaixo, uma seleção de suas falas propriamente literárias (as perguntas vão resumidas). Todas as famílias felizes se parecem, como disse Tolstoi? “Tolstoi estava dizendo algo bastante óbvio, que se está tudo certo com uma pessoa, por que você leria sobre elas? Nós exageramos tudo. Para uma pessoa que escreve romances, a vida comum não é interessante o suficiente. Você…

Adonis: Obama é uma máscara negra num rosto branco
Vida literária / 06/07/2012

Por Maria Carolina Maia A política voltou ao palco principal da Flip na noite desta sexta-feira, na mesa Literatura e liberdade, que reuniu os poetas árabes Amin Maalouf (do livro O Mundo em Desajuste, publicado pela Difel) e Adonis (que acaba de ter um primeiro livro, a seleta Poemas, lançado no Brasil pela Companhia das Letras). De gerações diferentes, Adonis, 82, e Maalouf, 63, falaram da situação dos países que passam pela chamada Primavera Árabe e da relação entre árabes e americanos. Para os dois poetas, embora em menor grau para o otimista Maalouf, o governo de Barack Obama foi uma decepção. “Obama é uma máscara negra sobre um rosto branco”, disse Adonis, pseudônimo de Ali Ahmad Said Esber. Sobre a chamada Primavera Árabe, o poeta sírio hoje radicado em Paris foi taxativo. “É apenas a troca de um fascismo militar por um fascismo religioso”, disse, sem esperanças de renovação. Segundo Adonis, para haver uma revolução de fato nos países árabes é preciso laicizar a sociedade e  libertar as mulheres do jugo do Islã. “Não podemos defender nenhum regime árabe”, afirmou Adonis. “Precisamos nos perguntar o que vamos fazer depois que esse movimento acabar. Se a mulher não tiver liberdade,…

Do ódio a Bush ao amor a Nova York
Vida literária / 06/07/2012

“Os anos Bush foram puro horror.” As declarações políticas do nigeriano-americano Teju Cole, autor do romance “Cidade aberta”, elevaram um pouco a temperatura da mesa “Exílio e flânerie”, que ele dividiu hoje à tarde com a argentina-brasileira Paloma Vidal, autora de “Algum lugar”. Numa conversa de resto morna, baseada no fato de ambos serem desterrados e condenados a uma certa estrangeirice crônica onde quer que estejam, o talentoso Cole – que nasceu nos EUA de pais nigerianos, mudou-se para a Nigéria ainda bebê e só retornou a seu país natal aos 17 anos – foi enfático: “Se você se opunha a Bush, se era contra os planos de guerra, podia ser perseguido nos EUA. Acabava tendo que carregar esse peso secretamente. Eu tive úlcera por causa da invasão do Iraque. A década depois do 11 de setembro foi um grande fracasso para os EUA. Mostrou que, diante de um desafio realmente sério, nós nos comportamos como tolos e descontamos nos outros, em gente que nada tem a ver com isso. Foi uma fase horrível e ainda não terminou por completo”, afirmou. Sobre o desterro, disse Cole: “Há algo que parece natural, decidido talvez no céu, no fato de carne de…

Nas lacunas, a genialidade de Shakespeare
Vida literária / 06/07/2012

Por Maria Carolina Maia Numa mesa rara na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), um finado autor brasileiro deu lugar a um finado estrangeiro. Shakespeare, que como bem lembrou o mediador Cassiano Elek Machado é um dos maiores, se não o maior escritor de todos os tempos, foi teve sua genialidade reconstruída pelos especialistas Stephen Greenblatt (de Como Shakespeare se tornou Shakespeare e do novo A Virada, ambos publicados no país pela Companhia das Letras) e James Shapiro (1599: Um Ano na Vida de William Shakespeare, lançado pela Planeta, e Quem Escreveu Shakespeare?, da Nossa Cultura). Para ambos, a força de Shakespeare se deve às lacunas que ele criou em suas obras. Homem da virada do século XVI para o XVII, Shakespeare (1564-1616) atuou num período em que o teatro era quase tão artesanal quanto o oficio de seu pai, um homem que fazia luvas no interior da Inglaterra. Trabalhou sobre o palco, como ator, e por trás dele, escrevendo peças quase sempre baseadas em enredos já existentes. O seu segredo, o que o tornava tão especial e popular, era, como chamou Greenblatt, o tipo de “reciclagem”que fazia dos textos dos outros. Ou, mais exatamente, o que ele sacava desses…

Espírito de Drummond baixa na Tenda dos Autores
Vida literária / 06/07/2012

Ambos poetas, críticos e professores de literatura com décadas de reflexão sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade, Alcides Villaça e Antonio Carlos Secchin protagonizaram há pouco um dos melhores momentos da Flip 2012, na mesa “Drummond, o poeta moderno”. Cada um partiu da leitura detida e apaixonada de um poema – “O elefante”, no caso de Villaça, e “Áporo”, no de Secchin – para iluminar aspectos da obra do autor homenageado. Curiosamente, os dois poemas pertencem ao livro “A rosa do povo” (1945), da fase politicamente engajada do poeta, o mesmo em que Antonio Cícero foi buscar “A flor e a náusea”, que leu e comentou na conferência de abertura, quarta à noite. Encarregado da mediação da conversa de hoje, o ex-curador da festa Flavio Moura apontou essa coincidência aos dois debatedores, que no entanto não confirmaram a tese de uma suposta centralidade do título na obra drummondiana. Secchin, porém, observou que a costumeira leitura de “A rosa do povo”como um livro simplesmente “político” deixa de levar em conta que Drummond, mesmo tendo se aproximado do Partido Comunista, permaneceu um poeta complexo que cultivava, “ao lado da rosa pública, outras flores íntimas em seu jardim secreto”. Em suas…