– Imagine o futebol sem meritocracia. Imaginou? – Não sei se estou entendendo. – Um futebol sem meritocracia, ora. Sem hierarquia, sem mecanismos de aferição de valor. Imagine um ambiente em que não só o craque desapareceu como a própria ideia de que certos jogadores possam ser considerados craques é revoltante para a sensibilidade democrática de todos. Craque para quem, na opinião de quem? Com que autoridade divina alguém decreta que um jogador é craque e outro não? – Mas isso não é evidente? Qualquer torcedor na arquibancada percebe a diferença na primeira matada de bola, no primeiro passe. – Será evidente mesmo? Ou será que estamos falando de um olhar condicionado, adestrado pelos poderosos, construído por gerações de cronistas esportivos preconceituosos para cobrir de privilégios seus eleitos, seus amiguinhos? – Você está brincando, né? – De jeito nenhum. No futebol sem meritocracia, a violência e a arbitrariedade de todo treinador ficam grotescamente expostas. De onde ele pensa que tirou autoridade para decidir quem entra em campo, quem fica no banco, quem estará na próxima lista de dispensa? – Do presidente do clube? – Do presidente, claro, como personagem contingente, mas através do presidente fala uma força historicamente constituída chamada…