Nos estudos literários, e não só neles, as “humanidades digitais” têm sido um dos campos mais cheios de energia inovadora dos últimos anos. No instigante “A literatura vista de longe”, lançado no Brasil pela Arquipélago Editorial em 2008, o crítico italiano Franco Moretti, um dos pioneiros da área, aplica à história da literatura técnicas de análise quantitativa que até então sentiam-se mais confortáveis nas ciências exatas. Em vez do close reading, da leitura atenta, por que não compreender o fenômeno das letras por meio de uma leitura feita deliberadamente por alto, à distância, em busca de padrões? Hoje a ocorrência de uma palavra ou conceito pode ser mensurada em segundos dentro da obra de um ou vários autores, de um ou mais países, de uma época, ao longo da história. Estamos falando, claro, de mais um subproduto cultural da revolução digital, promovida no caso pelo tsunami de digitalização e indexação de livros iniciado por um pequeno tremor de terra ocorrido nos laboratórios do Google em 2002. Em um ensaio publicado no “Los Angeles Review of Books”, o escritor e crítico canadense Stephen Marche conta essa história e, sem apelar para o saudosismo, especula sobre os limites de seu alcance. Traduzo…