Algo estranho está acontecendo com Lúcio Nareba na cadeia. Os últimos e-mails que me chegaram de seu moderno notebook (alugado do carcereiro) com conexão wi-fi (cortesia das autoridades penitenciárias) vinham assinados por “Luuk Naarebah”.
Acostumado às ousadias formais do atormentado escritor, a princípio não dei muita importância à grafia esdrúxula. Nareba sempre se orgulhou de ser “tradicionalmente vanguardista”. Gaba-se de ter sido alimentado com sopa de letrinhas concretas na primeira infância. “Claro que eu jogava bola com os outros meninos, mas só porque isso me dava a oportunidade de estudar o violento esporte Breton”, ele me segredou certa vez.
Já estava no fim da sua cota diária de dois engradados e meio de cerveja quando disse isso. Até hoje não sei se falava sério. “Minha babá se chamava Marinetti”, prosseguiu. “Minha primeira professorinha foi a Pagu. Perdi a virgindade com a Laurie Anderson. A Isadora Duncan deu pro meu bisavô.” E mais não disse, porque nesse momento a baba fechou um fio-terra entre seu queixo e a mesa do botequim e tudo ficou dadá.
Recordando essas coisas, não achei que o “Luuk Naarebah” fosse motivo de alarme. O que me assustou foi descobrir, no pé da sua última mensagem, em itálico, este pequeno perfil:
Luuk Naarebah, 14 anos, é um jovem escritor paquistanês criado em Beirute pela avó desalmada. Considerado pelo “New York Times” a maior promessa da literatura africana, foi eleito pela revista “Granta” um dos vinte nomes mais promissores do Extremo Oriente por sua capacidade de retratar a tragédia dos meninos recrutados por mercenários da Terra do Fogo para lutar como soldados sanguinários e prostitutos-mirins numa Bagdá devastada por atentados e hotentotes. Seu primeiro romance, “Inocentes empalados ao amanhecer”, está sendo disputado a tapa pelas maiores editoras da Europa e dos EUA. E você aí, está esperando o quê?
Desconfio que Nareba tenha conhecido um agente literário na prisão.
22 Comentários
Parabéns, Sergio, pela ótima entrevista que você concedeu ao Digestivo Cultural. Nós, do Digestivo, ficamos muito honrados com a sua presença lá no site.
Aos que quiserem ler, é só acessar o link a seguir:
http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=12
Abraços!
Lúcio Nareba, ou Luuk Naarebah, como ele prefere ser chamado agora, é uma das mais intrigantes presenças no presídio. Todos sabem que cometeu um crime e deve ser punido por ele. Mas existe uma pequena pulga que, inquieta, me aflige ao ouvido. Não teria ele assassinado Bia Escarpin já de caso pensado, numa excepcional jogada de marketing? Eu diria que mais do que um agente literário, Luuk Naarebah contratou (ou conheceu) uma equipe de profissionais que cuidarão de sua imagem e de sua produção literária (conheço um dos agentes penitenciários que trabalha lá dentro, e ele jura de pés juntos que homens engravatados visitam Luuk semanalmente, carregando pra dentro e pra fora calhamaços de papeis – com a conivência da diretoria do presídio… Coisa espantosa, não é mesmo?). Luuk Naarebah ainda nos dará muitas outras surpresas… É esperar para ver.
Muito bom, Sergio, muito bom!
Estou ansiosa pra ver quando Naarebah vai ganhar de uma grande editora a tal viagem pro Turcomenistão, com todas as despesas pagas, e depois um ano de aluguel de uma casa com bay window de frente pra praia, pra passar pro papel todas as suas impressões de viagem em forma de roménz.
Pronto, está na Flip.
Vai formar a mesa com o jovem de Serra Leoa que a Ediouro empurrou Elek-Machado abaixo.
O “velho” Nareba está de volta. Com esta biografia é forte concorrente ao IgNobel.
Esta sua descrição de sua vida no cárcere lembra um pouco OZ. Só espero que não seja trucidado por nenhum membro das gangues que infestam aquele presídio.
… ou que venha a se converter a algum dos credos religiosos.
Sérgio, acabei de ler a entrevista. Gostei muito. Como não há espaço – e nem necessidade – de citação aqui, me limito a uma: “Acredito muito no poder transformador da arte e sobretudo do humor.” Curti demais o fim, onde vc diz que se, apesar de todos os obstáculos, frustrações, escassez e torcida contra, o sujeito insiste com sua escrita, é pq é escritor mesmo. Vesti direitinho a carapuça. Abraço.
PS: vc foi elegante, disfarçou, mudou de assunto e não respondeu, se recebe ou não enxurradas de originais e emails para dar um parecer. gostaria de saber a resposta.
Caro Lematta, obrigado. Acredite que a honra é minha de estar no Digestivo, e mais ainda no espaço nobre do Entrevistão. Gostei muito do resultado e recomendo aos leitores do Todoprosa dar uma conferida. Forte abraço.
Valeu, Noga. Fico contente que tenha gostado. E não recebo enxurradas de originais e links, não. Só um número razoável. Um abraço.
Claro que ele recebe, Noga, seria estranho se não recebesse…hi, desculpe responder por você, Sérgio. Ah, adorei o livro do Philip Roth, Animal Agonizante. Vou mandar pro Saint tão logo possível.
Desconfio que Naaná está pra lá de Bagdaad!
Sérgio: parabéns pela bela entrevista, acima de tudo pela sensibilidade demonstrada. Fique tranqüilo: o interesse pela Literatura existirá sempre, pois ela é uma Fênix e como dedicados soldados, estaremos sempre lutando por ela.
Palmas tb para o Julio Borges: mostrou-se muito bem preparado, profundo conhecedor do tema e da carreira do entrevistado. Fez muito bem o seu trabalho de casa 🙂 Ótima entrevista!
Muito boa a entrevista.
Esse foi o melhor post de ficção aqui até agora.
Esse tal Nareba tem um arzinho pretensamente “cult”, parece um daqueles trechos dos livrinhos (bestas) do Jô Soares, muito “enciclopedismo” e pouco enredo. Em todo o caso, ele que se cuide no presídio, porque o Eros “Ramazotti” Roberto Grau gosta de banhos coletivos onde quem deixa cair o sabonete, quando percebe, recebe uma “entrada” na “saboneteira”…
Explicando melhor: é para o caso de ter um personagem do Eros Grau no presídio onde o tal Nareba está “internado”.
cacildis, que patético. não sei o que é pior, se o coleguinha todoprosa ou seus comentaristas de estimação. só tem retardado. enquanto isso, o nível do nomínimo cai ladeira abaixo. mas pq esperaria algo diferente dessa patetice?
Constrangido,
não sabes brincar? E essa expressão tão lugar-comum que demonstra ser de um ser domesticado pela “máquina de fazer doido”
Constrangido (quer dizer, Pária Hilton, Rufus, ou seria Jamiro Josse?): até agora nessa, mulher? Que triste. A polêmica dos Amores Expressos passou faz tempo.
Sérgio: cara, na boa, vc tem muita paciência. Eu jamais perderia tempo respondendo comentário apócrifo. Vovó já dizia: não dê “pano para manga”.
Errou feio de alvo! Continuo constrangido.
Ó pai, ó!(baiano inventou isso, agora, depois de “meu rei” e “um cheiro”): por um lado, não podemos bater no homem por ele não escrever do jeito que a gente gosta mas, por outro lado, também não dá só para elogiar, né? Eu fui bonzinho, mas não gostei do texto sobre o tal Nareba. Só elogiar também não dá, né? Daí vira o Faustão, para quem qualquer merda que visita ele é “um dos mais ´diguinos´representantes da classe artística brasileira, um dos maiores blá-blá-blá”. Orra, meu!
Ontem (11-04) Telejornais divulgaram que presidiarios montaram uma comunidade no Orkut. Acho que isso tem o dedo do Nareba.