A correspondência entre J.M. Coetzee e Paul Auster, que começou em 2008 e que os teria transformado em “grandes amigos”, será lançada em maio sob o título Here and now (Aqui e agora) pela editora Faber. * Não sou um grande fã de cartas de escritores, embora reconheça o valor de algumas correspondências, mas adorei essa que Honoré de Balzac escreveu em 1840 para sua noiva, a condessa polonesa Hanska, no meio de uma de suas famosas crises financeiras: Cheguei ao fim da minha resignação. Penso deixar a França e levar meus ossos ao Brasil numa empresa louca, e que escolho por causa da sua loucura. Não quero mais suportar a existência que levo; basta de trabalhos inúteis. Vou queimar todas as minhas cartas, todos os meus papéis (…). Darei procuração a alguém, deixá-lo-ei explorar minhas obras e irei buscar a fortuna que me falta: ou voltarei rico ou ninguém poderá saber o fim que eu tiver levado. É este um projeto excessivamente fixo, que será posto em execução este inverno, com tenacidade, sem remissão. O projeto não foi posto em execução, nem naquele inverno nem nunca. Foi só por meio de seus personagens, como lembra Paulo Rónai no delicioso…
Será ou não um preconceito pensar que não há exceções à regra segundo a qual nada de bom se pode esperar de quem responde ‘Fernão Capelo Gaivota’ à pergunta ‘Qual é o seu livro preferido?’. A disposição retrospectiva do fim do ano me leva longe: desencavei aqui o comentário que fiz em 2009 sobre um saboroso artigo (trechinho acima) publicado no jornal espanhol “El País” acerca dos riscos de dar livros de presente. Assinado por Leila Guerriero, o texto satiriza com humor afiado a tendência a um certo esnobismo que costuma atacar em maior ou menor grau todo mundo que se considera bom leitor. Trata-se de terreno pantanoso: para alguns, o nome desse esnobismo é simplesmente bom gosto, enquanto para outros é preconceito mesmo. De uma forma ou de outra, multiplicam-se as armadilhas no caminho de quem, inocente e bem intencionado, escolhe um título para dar de presente. Quando acerta na mosca, um livro provavelmente conta mais pontos do que qualquer outro regalo em sua faixa de preço. No entanto, o mesmo exemplar de “Cinquenta tons de cinza” que seria de bom tom dado a cinquenta pessoas pode reduzir seu filme a cinzas nas mãos da quinquagésima primeira. A verdade…
Curioso pela migração de gênero e público, comecei a ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. Pouco mais de meia hora depois tinha parado de ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. A leitura teve morte súbita – e vale registrar que eu tinha optado pelo original, The casual vacancy, o que inocenta do crime a tradução brasileira recém-lançada pela Nova Fronteira – por doses cavalares de academicismo e clichê na trama e na linguagem. Não, claro que isto não é uma resenha. Só quem lê uma obra inteira, e com ponderação, pode se atrever a resenhá-la. Mas é um toque: a vida é curta para tanto livro, e “Barba ensopada de sangue” está aí mesmo. * Todos sabemos que juízos estéticos baseados em ideias como “belo” e “sublime” pertencem ao passado. Mas o que significa a predominância contemporânea de categorias como “fofo” e “interessante”? O recém-lançado livro Our aesthetic categories (Nossas categorias estéticas), da poeta e crítica literária Sianne Ngai, acha que significa muito. Resenha da Slate, em inglês, aqui. * A entrevista dada à “Folha de S. Paulo” pelo crítico Rodrigo Gurgel,…
O blog vizinho “Veja Meus Livros” está recebendo até o próximo dia 9 inscrições para um concurso de microcontos no formato Twitter, em parceria com a editora Globo. Os vencedores receberão como prêmio uma pequena montanha de livros. O desafio é resumir, em até 140 caracteres, a saga de Sherazade, a contadora de histórias das “Mil e uma noites”. Tarefa dura: na verbosidade obrigatória da moça que noite após noite entretinha o sultão com suas narrativas para não morrer, 140 caracteres dariam conta de uns poucos segundos. Estarei entre os jurados. O microconto ultrassintético continua sendo, a meu ver, o maior desafio de quem pretende usar o Twitter para fazer ficção. É estranho que tenha sido um gênero definitivamente menor – com trocadilho, claro – no primeiro festival de ficção do Twitter, que durou cinco dias e terminou ontem. Há mais Sherazades do que Daltons no mundo. O Twitter Fiction Festival teve um grande e indiscutível mérito: reunir gente de todo o planeta em torno da hashtag #twitterfiction. O clima – exagerado, como é comum nesses casos – era de urgência e fervor. “A literatura nunca mais será a mesma depois disso”, chegou a dizer alguém. O que é cômico,…
Não, Roth não abandonou sua arte, não enterrou sua varinha como Próspero. Foi a arte que lavou suas mãos diante desse escritor irremediavelmente trivial e constrangedor. Tomando de empréstimo o título do primeiro livro Roth, a coletânea de contos ‘Adeus, Columbus’: Adeus, Philip! E, olhe, a porta da rua é a serventia da casa. O artigo publicado pelo crítico americano Lee Siegel no “Estadão” de domingo, chamando de “absurdo sem tamanho” a comoção em torno da aposentadoria de Philip Roth, afoga um ou dois argumentos interessantes num caldeirão tão cheio de ódio e amargura que a coisa acaba por entornar inteira em seu colo. Siegel, vale lembrar, é um notório defensor da tese de que o romance está morto. Descobrir que o público ainda se importa tanto com o que um romancista faz ou deixa de fazer deve ser mesmo muito frustrante. * Ano passado, poucos dias depois de se tornar o maior fenômeno de popularidade instantânea da história da Flip, o escritor português Valter Hugo Mãe me disse, numa longa conversa que se transformou nesta reportagem: “Muitas coisas na vida são momentos. Eu não me admirava nada de vir aqui no próximo ano e saber que ninguém mais se…
Quando Jonathan Franzen fez elogios efusivos a Chico Buarque e Bernardo Carvalho em sua passagem pela Flip deste ano, muita gente acreditou numa estratégia diplomática para ganhar a simpatia dos nativos. Tudo indica que não era isso ou não apenas isso. Franzen acaba de bradar ao mundo, em tom enfático, sua admiração pelos dois ficcionistas brasileiros. Um dos quarenta escritores ouvidos pelo jornal inglês “The Guardian” para preparar sua prestigiosa lista de “melhores livros do ano” (sim, se você não tinha reparado na decoração de Natal dos shopping centers, agora já sabe que 2012 está chegando ao fim), o autor de “Liberdade” indicou Chico e Bernardo, seus colegas no catálogo da Companhia das Letras. E mais ninguém. Budapest e Nine nights não foram lançados em inglês em 2012, o próprio Franzen se apressa em explicar, embora não diga que o primeiro saiu por lá em 2005 e o segundo, em 2007. Foi este ano que os leu, e para ele isso basta. Vinda do escritor de língua inglesa mais festejado por público e crítica em sua geração (tem 53 anos), é difícil imaginar chancela mais importante para a literatura brasileira no momento em que ela começa a fazer um esforço…
Além de Jennifer Egan ter publicado uma obra-prima usando o formato dos 140 caracteres como tijolinho numa construção ambiciosa, concursos e festivais de micronarrativas no Twitter já houve vários – inclusive duas edições aqui no Todoprosa – mas desta vez a coisa é oficial. O próprio Twitter vai promover na semana que vem, de 28 de novembro a 2 de dezembro, um festival de ficção que tem o objetivo pouco modesto de “ampliar as fronteiras do que é possível dizer no Twitter”. Serão destacados nos cinco dias do Twitter Fiction Festival projetos de serialização escolhidos por um júri em que figuram escritores como Teju Cole – ele próprio autor de uma interessante série de tweets baseada em notícias tiradas de jornais de antigamente – e Ben Marcus, além de editores. Ficou tarde para tentar uma vaga entre os eleitos oficiais do Twitter, infelizmente: as inscrições se encerraram no último dia 15. Mesmo assim, ainda é possível participar da brincadeira, bastando tuitar entre 28/11 e 2/12 um ou mais microcontos com a tag #twitterfiction. Em tempo: tudo será basicamente anglófono, supõe-se, embora isso não seja dito explicitamente e nada impeça um autor javanês de pular no bonde. Mas algo me diz…
E assim como o casamento entre Kafka e os pós-graduados parece ter certo grau de necessidade, o casamento entre Kafka e a internet tem o ar disfuncional e pesadelar de uma união arranjada entre duas partes que se ignoram. O próprio Kafka sentia uma repulsa visceral à vida doméstica a dois, desviando o olhar dos trajes de dormir de seus pais dobrados sobre a cama; mas quão pior do que isso será o que temos aqui, o aburguesamento do nada? Acabamos por ser os conselheiros matrimoniais, sentados do outro lado do vidro que nos permite ver sem sermos vistos, observando a replicação incessante e assexuada de blog após ensaio após atualização, uma ordem simbólica dando lugar à seguinte enquanto a longa sombra de Kafka filtra-se sinistramente pelo vidro da tela que você está encarando no momento. Em sua “Carta ao meu pai”, Kafka escreveu: “Casar, começar uma família, aceitar todas as crianças que vierem e ajudá-las nesse mundo inseguro é o melhor que um homem pode fazer”. E assim descobre-se que esses temas espúrios são seus únicos temas. E se os precursores de Kafka são Zenão, Lewis Carroll, Lord Dunsany, então seus sucessores são estes: os cookies não comestíveis que…
Não há dúvida de que o leitor internacional é sempre um leitor inseguro e preocupado, como um histérico deitado num sofá. Quer dizer, não sei nada da língua em que esse conto chamado “Animais” foi escrito. E também não sei exatamente onde fica Porto Alegre – que é onde o conto de Michel Laub começa. O que eu digo é que isso faz um leitor ficar ansioso. Tenho que supor que fique no Brasil. E, no entanto, acho que é possível de alguma forma grosseira, em vez de ligar para esses problemas éticos, simplesmente prestar atenção no que está ali. (…) Porque a beleza dessa história – e essa beleza sobrevive a quaisquer ansiedades com as quais sua tradutora, Margaret Jull Costa, tenha se preocupado para produzir essa peça tão cuidadosa e bem organizada de prosa em inglês, da mesma forma que sobrevive agora às ansiedades de seu leitor internacional – é seu movimento ágil. Há algo de cômico e perturbador na breve resenha do conto “Animais”, de Michel Laub (foto), publicada pelo escritor inglês Adam Thirlwell no site da “Granta”, a propósito do lançamento internacional da edição da revista dedicada ao Brasil. Com as credenciais de quem foi selecionado…
Essa mania de matar o pai, inclusive como simples simbologia freudiana, me parece uma estupidez, a menos que o pai seja um delinquente. Em relação aos grandes do ‘boom’ não podemos sentir nada além de gratidão: foram eles que nos abriram as portas do mundo e dos leitores. Nos livraram do complexo de idiotas ou de subdesenvolvidos. Nos mostraram caminhos literários completamente novos, e não para seguirmos no mesmo rumo, mas para buscarmos saídas novas em qualquer encruzilhada. A declaração do escritor colombiano Héctor Abad Faciolince resume o tom reverente – ou, digamos, de irreverência contra a irreverência – que marca a longa série de artigos comemorativos dos 50 anos do chamado boom da literatura latino-americana (na verdade, hispano-americana) publicados pelo jornal espanhol “El País”. O ano de 1962 virou marco por ter concentrado o lançamento de uma série de livros identificados com o movimento, entre eles “A morte de Artemio Cruz” (foto), de Carlos Fuentes. * Semana passada, participei da gravação da conversa com o editor franco-americano André Schiffrin para o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, como um dos entrevistadores convidados. Aos 77 anos, Schiffrin tem história. Filho do homem que criou a Bibliotèque de la Pléiade, foi…
O que acontece quando uma boa escritora feminista como a inglesa Julie Burchill, ex-menina-prodígio do “New Musical Express”, ataca o estranho fenômeno editorial desencadeado pelo sucesso de “Cinquenta tons de cinza”? Aqui (em inglês), escrevendo no “Observer” sobre Bared to you – lançado no Brasil pela editora Paralela como “Toda sua” – de Sylvia Day, uma imitação descarada que também tem vendido feito pão quente por lá, ela nos dá a resposta. Acontecem risadas, risadas restauradoras da nossa fé na inteligência do homem – e da mulher, claro. Principalmente da mulher. Sempre achei a ideia de obscenidades “ao gosto feminino” especialmente patética, como papel higiênico com crinolina. Mesmo antes de ler qualquer coisa do gênero, minha opinião era que esse tipo de “pornografia da mamãe”, como é conhecido de forma bastante revoltante, demonstrava um lado sádico e não masoquista da mulher moderna. Parecia ser só mais uma forma de atormentar os homens, surgida quando estávamos prontas para algo um pouco mais forte do que anúncios televisivos que os retratam como débeis-mentais incapazes de encontrar o próprio traseiro usando as duas mãos, um GPS e um são-bernardo. Escuta aqui, homenzinho – você não é um bilionário jovem e lindo que pode…
Esbarro duas vezes no mesmo dia com Anton Tchekhov (1860-1904), o grande dramaturgo e contista russo. No “Globo”, Ana Paula Sousa conta que o criador de “Tio Vânia” e “As três irmãs” é o autor mais montado da cena teatral londrina este ano. E na revista “The New Criterion”, um alentado artigo (em inglês) de Gary Saul Morson enfatiza as peculiaridades que o tornavam um escritor único no panorama da literatura russa – e não só dela. Nem aristocrata, nem radical, Tchekhov escrevia em tom menor. Era um médico de província que privilegiava as cenas banais sobre os quadros extravagantes e a atenção ao detalhe comezinho em detrimento de projetos grandiosos e teorias abrangentes. Abstrações o desagradavam. É autor de um dos melhores conselhos a escritores que eu conheço: “Não diga que a lua está brilhando. Mostre-me seu reflexo num caco de vidro”. Não tinha nenhuma proposta política a apresentar aos seus leitores porque considerava ser o dever de um grande artista reconhecer que ninguém entende nada do mundo. Covardia? Essa impressão se desfaz quando se sabe o quanto ele teve que brigar para defender tal postura. Ocorre que a personalidade de Tchekhov não o tornava um escritor esquisitão apenas…
É imperdível este artigo que Enrique Vila-Matas publicou no “Babelia” em fevereiro deste ano – e que eu quase perdi. Resgatei-o por acaso, e como não se trata de matéria que envelheça tão facilmente, compartilho aqui o relato mordaz sobre a polêmica entre dois gigantes das artes do século 20, o escritor alemão Thomas Mann e o compositor austríaco Arnold Schoenberg, com o auxílio luxuoso de Theodor Adorno no papel de intermediário. Segue um breve resumo da confusão, que espero que funcione como isca e não como substituto da leitura do texto em espanhol. Ao escrever, já em seu exílio americano, o romance “Doutor Fausto”, que lançaria em 1947, Mann sentiu que esbarrava nos limites de seus conhecimentos musicais. Estes não eram pequenos, mas ele precisava dar ao personagem do compositor Adrian Leverkühn a capacidade de voos mais altos, fazer dele um revolucionário pensador da música. Em seu socorro veio um solícito Adorno, compatriota mais jovem – apresentado como “adulador, quase servil, admirador ardente” de Mann – que tratou de lhe fornecer competentes resumos das teorias de Schoenberg, o criador do dodecafonismo. Pois bem: o escritor teria enxertado então em seu romance esses resumos, sem mudar quase nada – algo…
Nos estudos literários, e não só neles, as “humanidades digitais” têm sido um dos campos mais cheios de energia inovadora dos últimos anos. No instigante “A literatura vista de longe”, lançado no Brasil pela Arquipélago Editorial em 2008, o crítico italiano Franco Moretti, um dos pioneiros da área, aplica à história da literatura técnicas de análise quantitativa que até então sentiam-se mais confortáveis nas ciências exatas. Em vez do close reading, da leitura atenta, por que não compreender o fenômeno das letras por meio de uma leitura feita deliberadamente por alto, à distância, em busca de padrões? Hoje a ocorrência de uma palavra ou conceito pode ser mensurada em segundos dentro da obra de um ou vários autores, de um ou mais países, de uma época, ao longo da história. Estamos falando, claro, de mais um subproduto cultural da revolução digital, promovida no caso pelo tsunami de digitalização e indexação de livros iniciado por um pequeno tremor de terra ocorrido nos laboratórios do Google em 2002. Em um ensaio publicado no “Los Angeles Review of Books”, o escritor e crítico canadense Stephen Marche conta essa história e, sem apelar para o saudosismo, especula sobre os limites de seu alcance. Traduzo…
O bastão de país homenageado da Feira do Livro de Frankfurt foi passado ontem, no encerramento da festa, pela representante da Nova Zelândia a Galeno Amorim, presidente da Biblioteca Nacional (foto), em cerimônia despojada. O vídeo completo, de uma hora e meia, pode ser visto aqui por quem estiver muito interessado (aviso que os primeiros minutos estão sem som). O escritor amazonense Milton Hatoum falou brevemente em nome da literatura brasileira, exaltando a antropofagia oswaldiana, depois de ler um trecho de seu romance “Dois irmãos”. Disse que o evento do ano que vem é a chance de “reparar uma grande injustiça, pois o boom da literatura latino-americana foi um boom da literatura hispano-americana”. Um pouco mais tarde, Arthur Nestrovski e Celso Sim apresentaram uma seleta de canções brasileiras em clima extremamente cool, só voz e violão. Um verso mais sincopado de Chico Buarque acabou engolido (antropofagicamente?) por Sim, mas poucos da babélica plateia devem ter notado. O resto do show de bolso correu com bom gosto e sem sobressalto. Sem sobressalto, mas também sem colorido e até com uma certa solenidade – no mesmo tom do vídeo oficial que a delegação brasileira preparou (veja abaixo) e em contraste marcante com…
O chinês Mo Yan, que ganhou hoje o Nobel de Literatura, aparecia em todas as listas de favoritos – na preferência dos apostadores da casa londrina Ladbrokes, estava em quarto lugar –, mas isso não quer dizer que sua obra seja fartamente conhecida no Ocidente. Como quase todo mundo, saí correndo atrás de informações sobre o homem, que não tem nenhum livro lançado no Brasil e que, na loja do Kindle, conta com apenas um título (em pré-venda!). As notícias da premiação (aqui e aqui) e o comentário de Maria Carolina Maia no vizinho “Veja Meus Livros” satisfazem a maior parte da curiosidade que se possa ter sobre o homem, uma escolha que tem inegável dimensão política, daquelas que o Nobel gosta de fazer. A partir do pseudônimo que adotou para escrever, e que significa “Não fale”, Mo Yan mantém relações tensas com o mundo oficial de seu país, onde a liberdade de expressão é restrita. A Academia Sueca o saudou por seu “realismo alucinatório” e o comparou a William Faulkner e Gabriel García Márquez. A melhor forma de conhecer um escritor, porém, é lê-lo. Por isso decidi traduzir o trecho inicial do romance Life and death are wearing me…
O mundo britânico das apostas, que tem na Ladbrokes seu principal palácio, não entende nada de literatura. Mesmo assim, todo ano movimenta fortunas às vésperas do prêmio Nobel de literatura, que será anunciado amanhã. Os jogadores da Ladbrokes, vindos virtualmente dos quatro cantos do mundo, não precisam ter lido um único livro do japonês Haruki Murakami (foto) para levá-lo ao topo da lista de favoritos – que é, confortavelmente, sua posição atual, depois que arrefeceu o ímpeto do azarão Bob Dylan. Os apostadores apostam em tudo o que for possível apostar, de corridas de cachorros a quem será o próximo arcebispo de Canterbury. Bastam rumores, palpites que por alguma razão soem mais convincentes do que outros, suposições de informação privilegiada. Não costuma dar certo: a Academia Sueca é competente em garantir que o resultado do prêmio nunca vaze e quase sempre surpreenda – para o bem e para o mal. Isso não se deve ao fato de os clientes da Ladbrokes não entenderem de literatura. Gente profundamente enfronhada no meio não se sai melhor nessa hora. Prêmios culturais têm mais em comum com jogos de azar do que seus promotores gostariam de admitir. De qualquer modo, o ranking de escritores…