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Uma orelha para Diana Wurz
Sobrescritos / 10/07/2008

Ela leu: Diana Wurz escreve sustos, mastigando reticências como sucrilhos. Afaga tormentos, faz cócegas nos cânones, soluça anacolutos com uma graça súbita de bailarina imaginária. Humana, eis a palavra. Humanérrima. Em seus contos-relicários de sondar desvãos, de acender o sol, de entesourar momentos, atinge uma materialidade porosa e cheia de reentrâncias, ainda que cuidadosamente depilada, que denuncia sua filiação àquela irmandade de autores esguios que não escrevem com a cabeça, mas com o corpo. No caso de Diana, estreante de rara maturidade, nem mesmo com o corpo inteiro: com partes do corpo, uma unha aqui, ali o mamilo direito, apêndice espremido numa entrelinha, pâncreas fechando a frase com seu inconfundível – molhado, fofo – muxoxo pancreático. À medida que, lenta e viscosamente, escorre o texto, vai se despedaçando a jovem escritora com tal bravura, e com seus nacos pavimentando a auto-estrada do autoconhecimento, que não resta dúvida: Diana Wurz dói. Lateja. Feito uma estrela, se estrelas doessem. Leu, releu, depois devolveu a folha em silêncio ao homem. Ele disse: E aí, cumpri minha parte a contento? Está bem legal. Você acha isso mesmo do livro? Ué, não escrevi? Ela sorriu: Está ótimo. Posso mandar para o editor? Pode, ela respondeu,…

A pesquisadora
Sobrescritos / 16/06/2008

Ela deu um meio sorriso de olhos baixos, como se tentasse ler desígnios superiores nos volteios dos pedaços de limão esmagados no fundo do copo, e disse que a maior ofensa que se costuma fazer às de sua espécie é supor como móvel de sua busca sem fim uma ilusão vizinha da loucura ou da imbecilidade – a de que os homens que dedicam a vida a simular outras vidas por escrito são mais gostosos ou tesudos, mais misteriosos ou desafiadores do que os mortais comuns. O meio sorriso virou uma gargalhada seca, tão áspera e alta que metade do bar se voltou na nossa direção, inclusive todos os garçons. Ela aproveitou para erguer o copo vazio com a mão esquerda e bater nele com a unha comprida do indicador direito, esmalte carmim, três pancadinhas que tilintaram longamente dentro do segundo de silêncio instaurado por seu riso. O garçom mais próximo assentiu com a cabeça e fez meia-volta. Se houver alguma relação, ela prosseguiu, é bem o contrário, escritores tendem a ser piores de cama do que a média dos homens: mais broxas, mais ejaculadores precoces, além de mais inseguros, mais ciumentos, mentirosos, desleais, descuidados, caspentos, fedidos, barrigudos, egoístas, frios,…

Faustini
Sobrescritos / 03/06/2008

Qualquer um que acompanhe com um mínimo de atenção a literatura brasileira sabe que o escritor mato-grossense Manfredo Faustini se especializou em escrever sobre o Tinhoso nas mais variadas formas: mulheres, crianças, capitalistas, políticos, animais, espíritos, todas as suas engenhosas histórias giram em torno de personagens que se revelam diabólicos em algum momento. O sucesso de público e crítica veio depressa. Um dia um amigo lhe perguntou como era possível que, com todos os demônios, ele nunca tivesse escrito nada sobre o tema do escritor que vende a alma ao Rabudo em troca de glória. Faustini desconversou, contrariado. O amigo estranhou: achava a idéia soberba, tinha antecipado uma reação bem diferente. E Faustini deve ter ficado irritado mesmo, porque depois disso a amizade deles esfriou e não demorou a morrer.

A espera
Sobrescritos / 07/05/2008

Quando decidiu que seria escritora, Maria Cândida descobriu que, sem saber, já vinha se preparando nos últimos anos para aquele momento: estavam a postos o ouvido bisbilhoteiro, o olho clínico, aqueles surtos mórbidos de introspecção a cada café-da-manhã, o cabelo mais curto de um lado que do outro, os óculos de antiquário, as camisetas pretas puídas, o desapego a modismos e coisas materiais. Aí, como já tinha computador, foi só descolar um bom corretor ortográfico em versão pirata e espetar em sua parede de cortiça uma coleção de frases sobre a arte de escrever, com aquela genial da Dorothy Parker encabeçando a lista, e esperar. Quando a espera começou a se prolongar além do razoável, Maria Cândida acrescentou à sua escrivaninha um porta-lápis com o logo da Granta e um exemplar de The art of fiction, de John Gardner, que, mesmo sem saber inglês, passou a abrir em páginas aleatórias e folhear preguiçosamente sempre que ameaçava se impacientar. Depois comprou uma cadeira de escritório com ajuste de altura, um pôster comemorativo dos 50 anos de O encontro marcado, duas dúzias de lápis coloridos, uma coleção de cadernos de capa dura, uma luminária verde-água totally anos 50, uma caneca de chá…

Cada geração com seu estilo
Sobrescritos / 23/04/2008

Crítica construtiva, tudo bem, mas eu gosto mesmo é de elogio, disse o jovem escritor do momento. A platéia riu. A boutade é boa, retrucou da poltrona ao lado o escritor de meia-idade, seu momento perdido em algum ponto remoto dos anos 80, mas eu sempre achei que elogio é que nem doce. Uma delícia, e te enche de energia. Mas não faz crescer. Críticas têm proteína, elogios têm açúcar. O escritor jovem que se esbalda nos primeiros elogios, se lambuza neles, principalmente acredita neles, está se recusando a crescer. O jovem escritor do momento ficou lívido. As juntas de seus dedos descoloriram em torno do microfone. Quem se recusou a crescer foi você, cara. Como disse? Quem se recusou a crescer foi você, você é que se recusou a ir além daquela lengalenga sub-mautneriana de marginais heróis e nonsense que eu li quando tinha quinze anos, como era mesmo o nome, Minhocas do asfalto? Não, agora lembrei: A cidade e os cupins. Li com quinze, achei razoável, com dezesseis já achava um lixo. Foi você que não cresceu, você que fracassou. Tudo bem, pode ser que eu não dê em nada também, é altamente provável, aliás. Mas tenha pelo…

O sáurio
Sobrescritos / 04/04/2008

As livrarias pequenas ou decadentes eram as melhores. Sentimentalismo? Picas: ausência de câmeras. Esgueirava-se entre as estantes feito réptil, puro sangue frio em movimento. Sim, um lagarto. Com olho de ave de rapina para que nada lhe escapasse: localização da obra em foco, vendedores mais próximos, possibilidade de flagra por meio de traiçoeiros espelhos ou jiraus. Suích, suích, lá ia ele dobrando esquinas acolchoadas de best-sellers, iguana com olho de gavião e mente hiperativa de escritor. A obra em foco era sempre, de algum modo, a mesma: o último sucesso de um de seus companheiros de geração. Pareciam inesgotáveis seus companheiros de geração. E os sucessos que produziam. Acompanhava os lançamentos, pupilas estreitas esquadrinhando os cada vez mais anêmicos cadernos literários dos jornais. Para isso pelo menos serviam os pasquins: montava ali, à mesa do café, o roteiro das próximas investidas. Às vezes acontecia de esbarrar com seu próprio livro escondido em algum pé de estante empoeirado, entre ácaros e oblívio. Raro, raríssimo. Mas sempre doía. Seu bebê incompreendido, seu prematuro grotesco. Era vexaminoso encontrá-lo nessas incursões, geralmente escondido atrás de tomos impossíveis, um guia de montanhismo lapão, a autobiografia da stripper que foi sucesso década e meia atrás. Preferia…

O caso dos escritores Jerominho
Sobrescritos / 05/03/2008

O que mais nos deve inquietar no chamado “escândalo dos escritores Jerominho” não é saber que eles – todos os sete – se sujeitaram a este triste papel, assinar seus nomes numa literatura que, se tem um autor, esse autor só pode ser o falecido Jerônimo Mayrink. Como se sabe, os escritores Jerominho, cujos nomes a recente notoriedade do caso me dispensa de declinar, compraram – por dez mil dólares a unidade – um produto anunciado aos sussurros no submundo literário como espetacular, uma espécie de pedra filosofal dos escritores. A coisa cheirava a picaretagem de longe, só que, surpreendentemente, funcionou: até o escândalo estourar, todos os clientes de Jerônimo Mayrink eram vistos como autores sérios, entrevistados por jornais e TVs, fartamente lidos – isto é, lidos no clubinho dos leitores de ficção nacional, uma turma que poderia fazer assembléia numa Kombi, mas essa é outra história. Batizado de MUSA (Mayrink’s Ultimate Simulator of Authorship), o programa podia não ser barato, mas mostrou-se genial. Essa máquina de escrever ficção usa algoritmos para “alterar” a prosa de autores consagrados, embaralhar frases, trocar palavras-chave, fundir dois ou mais textos, enfim, promover uma remixagem geral. “É mais ou menos como preparar um carro…

Quinze anos
Sobrescritos / 25/02/2008

Começou a escrever porque tinha quinze anos, porque ninguém parecia querê-lo por perto e porque o que ele mais desejava na vida era reencenar para o mundo o velho número do patinho que se revela cisne no final. Cinqüenta e cinco anos depois, pegando com a faca uma pasta rosada extraordinariamente suspeita, espalhando-a numa torrada quadrada de pacote e jogando tudo na boca de poucos dentes verdadeiros remanescentes, o escritor se lembrou de sua juventude, do princípio daquela ciranda maluca de ler, escrever, ser lido, ler, escrever de novo… Vinham chamá-lo para cantar parabéns, uma das três coisas que mais abominava no mundo; as outras eram dentista e – o quê mesmo? Tentou não parecer um perfeito débil-mental enquanto entoavam aquelas palavras hediondas, às quais sua idade acrescentava agora o pecado do cinismo: muitos anos de vida, essa era muito boa. Aos quinze anos, não era ainda sequer um escritor: ridículo ter saudade daquilo. E, no entanto, havia alguma coisa ali, no fundo do papel em branco, na relação da palavra com a coisa ou dele mesmo com a coisa, sabia lá ele, mas alguma coisa havia ali, sim, de belo e bom que se perdera por inteiro e que,…

Oficina de ficção
Sobrescritos / 13/02/2008

Conheceram-se na oficina de ficção coordenada por um escritor de barba espessa e fama rala. O que primeiro chamou a atenção dela foi a qualidade do diálogo que ele conseguia escrever, vozes se cruzando com uma espontaneidade e um fio inacessíveis a ela, aos outros alunos e talvez até, quem sabe, ao professor. Já a atenção dele foi despertada primeiro por aquele olhar, o olhar morno e lento que ela ficava revezando entre ele e seus próprios pés, como se seu pudor viesse em ondas, enquanto o ouvia ler em voz alta o diálogo habilmente plagiado do Sabino. Foi depois desse dia, a princípio num espírito de retribuição mas logo com curiosidade genuína, que ele expandiu sua atenção dos olhos para o texto, e não demorou a se impressionar com a força dos adjetivos luxuriantes que ela espalhava aqui e ali numa narrativa de resto seca, feito plantas carnívoras de estufa em vasos perdidos no deserto. Não é incomum, especialmente em ambientes artificiais como o de uma oficina de ficção, que metáforas ganhem vida: ele logo descobriu que estava projetando no corpo dela, sardento e quebradiço nos trechos que o decote e a saia deixavam entrever, a expectativa de uma…

Uma ilha, um livro
Sobrescritos / 23/01/2008

– Você vai passar o resto dos seus dias numa ilha deserta e pode levar um livro – ela diz. – Um só? – Um só. Qual você escolhe? Ele pensa um pouco. – Nenhum. – Como, nenhum? – Nenhum. Não vou ler, morto não lê. – Não – ela ri – quê isso, na ilha tem comida à vontade, você não morre. Só fica lá de bobeira, vivendo superbem e… lendo um livro. – Pode ser que você fique lá, lendo esse livro. Eu não fico porque me mato antes. – Se mata… – Mato, mato. Um livro só? Mil vezes a morte. Ela fica meio desconcertada porque é a primeira vez que um homem bagunça assim o seu teste, mas acaba decidindo que gostou, gostou muito, mais até do que se ele dissesse Estrela da vida inteira, Em busca do tempo perdido ou outra das respostas que ela costumava classificar como “certas”. Olhando para o homem do outro lado da mesa do restaurante, vê alguém que nunca viu antes. Pela primeira vez tem vontade de beijá-lo e pensa, sentindo uma moleza nos joelhos, que a noite promete. Enquanto isso, ele fica matutando que a idéia de um único…

As razões
Sobrescritos / 07/01/2008

Ele perguntou a ela por que ela escrevia e ela respondeu que escrevia porque tinha vontade, e ele falou, muita gente tem vontade, vontade não basta, e ela disse mas então você está me perguntando como eu consigo escrever, é isso?, e ele ficou em dúvida e ela, eu achei que você tinha perguntado por que eu escrevo e não como eu faço para escrever o que eu escrevo, aí ele ficou um tempo em silêncio e depois riu e disse tá certo, touché, então ela olhou para baixo e notou que ele estava se assanhando outra vez, ah, a juventude, tocou nele e disse, como se fosse um eco na caverna, touché, e pronto, começaram tudo de novo, e só bem mais tarde, de madrugada, o apartamento já quase sem provisões, quando estavam bebendo o vinho velho que ela tinha separado para cozinhar e sorvendo por um buraco na lata o leite condensado encontrado por milagre no fundo da despensa, aquela mistura sensacional de caldo ultradoce e vinho avinagrado, mas um bom vinho avinagrado, chileno, só então ela disse, com os olhos bem encaixados nos dele, eu escrevo porque isso faz homens bonitos e gostosos que nem você gostarem…

Debate literário
Sobrescritos / 05/12/2007

Quem não gosta de João Stepanides é um jumento. Quem leva Manoel Tibúrcio a sério é uma anta. Quem nunca leu Carmen Clara é uma ameba lobotomizada. Quem não gosta de Manoel Tibúrcio sabe menos que a idiota da Carmen Clara. Quem leva João Stepanides a sério não vale o que come. Tibúrcio leva Stepanides a sério, logo merece morte lenta e excruciante. Stepanides não tem o menor respeito por Tibúrcio, mas comeu Carmen Clara. (E quem não?) Nenhum dos animais acima mencionados chega aos pés de Bill Chakapov.

Contra e a favor de ‘Pugnus’, de Cecilio Giovenazzi
Sobrescritos / 23/11/2007

O lançamento do livro de memórias “Pugnus” faz do professor Cecilio Giovenazzi, 78 anos, renomado latinista da Unicamp, nada menos que “o maior memorialista do onanismo no Ocidente”, nas palavras do crítico Teodoro Spitz: Dono de uma memória digna de desafiar a do caipira de Borges, e com a vantagem de borrifar perfeitas citações em latim pelo caminho, esse escritor profundamente original nos brinda com relatos épicos de uma vida dedicada ao squirt-n-spurt. Tão ricos são os episódios em detalhe, circunstância, iluminação, grau de intumescimento, têm as cenas um tal rendilhado de sentimentos e sensações que fazem empalidecer, por infantil ou tosco, o mais impudente cronista de bacanal. Na multiplicidade de sessões febris ambientadas em banheiros, cozinhas, salas de estar, cabines telefônicas, elevadores, escadas de serviço, confessionários – ou mesmo, temerariamente, ao ar livre, em praças, parques, piscinas, terrenos baldios, ruas desertas de madrugada, no meio da multidão –, o que em todos esses cenários se conta é uma bela história de amor-próprio. Os jorros reflexivos de Giovenazzi atingem insuspeitada altitude filosófica. “Então me digam que metáfora do solitário, pungente, imaginoso ofício de escrever pode, nesta vida cachorra, superar o velho manutigium?”, perora o autor. Um livro seminal. De Spitz…

Fragmento de um colunista lítero-social (reprise)
Sobrescritos / 30/10/2007

Atendendo a pedidos. …não sobe escada, mas lê. Ou nem lê, mas freqüenta noite de autógrafo. Ai!!! Ui!!! # O Coletivo Soco na Boca do Inferno abre esta noite seu flat a tout le pessoal da literaDura (natural & desviagrada, por supuesto) para lançar o primeiro zine brasileiro feito especialmente para iPod. Meninos (e meninas e tudo mais e coisa), eu ouvi! Tudo de bom diz pouco: poemas-que-rompem-com-tudo-o-que-está-aí na voz do cultuado Coral das Prostitutas Mirins, quer mais???? # A escritora performática Giga T., 1,97m, que se apresenta como “a primeira escritora inteiramente analfabeta do Brasil, mas que peitos”, lança amanhã na Livraria Fashion Week sua série de microcontos impressos em Garamond em camisinhas GG sabor tutti-frutti. Se eu vou? Read my lips!!! # Ah, o que eu não faço pelos meus darlinguíssimos leitores (e queridas leitoras e tudo mais e coisa)!!! A coluna teve que subornar três garotas de programa e um michê fortinho para ter acesso à primeira versão do novo romance do cultuado Rique Focker, cabeça do cultuado Movimento Trans-Agressivo com Bolinhas Roxas. Aconteceu então que, víxe, a coluna está totally overwhelmed até agora. Só posso adiantar que o livro, com o cultuado título de “Cataratas de…

A blogueira e o estruturalista
Sobrescritos / 20/08/2007

O DJ retrô contratado pelo shopping center enchia os corredores com a voz grossa de Renato Russo cantando “Eduardo e Mônica” quando a blogueira perguntou as horas ao estruturalista na fila do caixa da megalivraria. Mais tarde, ao se lembrar desse momento e observar que a trilha era simplesmente perfeita, ela o ouviria responder corado com a falta de prática que não, não, perfeita é você. Quando a blogueira o abordou, fingindo não saber quem ele era, o estruturalista tinha meia dúzia de livros fora de catálogo e uma reputação longamente esquecida de analista rigoroso de João Cabral, Guimarães Rosa e Osman Lins. A aposentadoria federal como professor titular de literatura lhe propiciava uma vida tediosa mas tranqüila de viúvo sem ambição, sem desejo e sem arrependimento, como achava que devia ser. Se alguma coisa incomodava o estruturalista àquela altura, além de certos padecimentos próprios da idade como dor nas costas e insônia, era o fato de já não conseguir ler. Poesia, prosa, clássico, contemporâneo, coisa nenhuma. E não por ter ficado cego como Borges: nada havia em sua visão que lentes bifocais não emendassem, era interna a escuridão do estruturalista. Que jamais tocava no assunto, tentando ser estóico diante…

Literatura brasileira com merchandising (II)
Sobrescritos / 09/08/2007

“Das mais surpreendentes é a vida de tal faca: faca, ou qualquer metáfora, pode ser cultivada. E mais surpreendente ainda é sua cultura: medra não do que come porém do que jejua. Podes abandoná-la, essa faca intestina: jamais a encontrarás melhor que Tramontina.” *** “Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos contra dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Mas um dia hei de ir – nas asas da Air France, ça va sans dire!” *** “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. Ao pé deles, degustaram com delícia sua cota de Maxi Goiabinha.” *** “Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no…

O problema é ‘o problema’
Sobrescritos / 25/07/2007

Qual é o maior problema da literatura brasileira? ( ) Os escritores não sabem escrever. ( ) Os leitores não sabem ler. ( ) Os críticos não sabem criticar. ( ) Os blogueiros se acham escritores. ( ) Os comentaristas de blog se acham críticos. ( ) Os críticos dos comentaristas de blog se acham. ( ) Os críticos dos comentaristas dos críticos dos comentaristas de blog… hã, onde estávamos mesmo? ( ) Ser brasileira demais. ( ) Não ser suficientemente brasileira. ( ) Não ser literatura. ( ) Literatura brasileira? Onde? ( ) Vai ler um livro e não me enche o saco.