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Nobel: façam suas apostas. Eu fiz a minha

10/10/2012

O mundo britânico das apostas, que tem na Ladbrokes seu principal palácio, não entende nada de literatura. Mesmo assim, todo ano movimenta fortunas às vésperas do prêmio Nobel de literatura, que será anunciado amanhã.

Os jogadores da Ladbrokes, vindos virtualmente dos quatro cantos do mundo, não precisam ter lido um único livro do japonês Haruki Murakami (foto) para levá-lo ao topo da lista de favoritos – que é, confortavelmente, sua posição atual, depois que arrefeceu o ímpeto do azarão Bob Dylan. Os apostadores apostam em tudo o que for possível apostar, de corridas de cachorros a quem será o próximo arcebispo de Canterbury. Bastam rumores, palpites que por alguma razão soem mais convincentes do que outros, suposições de informação privilegiada.

Não costuma dar certo: a Academia Sueca é competente em garantir que o resultado do prêmio nunca vaze e quase sempre surpreenda – para o bem e para o mal. Isso não se deve ao fato de os clientes da Ladbrokes não entenderem de literatura. Gente profundamente enfronhada no meio não se sai melhor nessa hora. Prêmios culturais têm mais em comum com jogos de azar do que seus promotores gostariam de admitir.

De qualquer modo, o ranking de escritores da Ladbrokes não deixa de ser um curioso termômetro de alcance planetário. Um termômetro que, se não é propriamente de prestígio literário, é de peso cultural. Ou no mínimo de celebridade – o que cada vez mais vem dando no mesmo.

O estado atual do ranking pode ser conferido aqui. Abaixo do favoritíssimo Murakami vêm, pela ordem, o húngaro Péter Nádas, o irlandês William Trevor, o chinês Mo Yan, a canadense Alice Munro e – na sexta posição, com a onda de boatos que cavalgava dando sinais de esgotamento – Bob Dylan.

A lista é extensa, cabe muita gente. O catalão Enrique Vila-Matas pagará, na improvável hipótese de vencer, vinte vezes cada libra apostada. Mais do que Philip Roth, Cormac McCarthy e Amós Oz, mas menos que Javier Marías, Salman Rushdie e Claudio Magris, considerados jogadas de alto risco, dignas de multiplicar o investimento por 66.

Único brasileiro a figurar na relação, o poeta Ferreira Gullar (nem sinal de Ariano Suassuna, nosso candidato “oficial”) paga 100 por 1. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para situá-lo ao lado de Michael Ondaatje e Jonathan Franzen.

Nunca tive alma de apostador. No entanto, a hora é de brincar – o que mais se pode fazer, além de aguardar e quem sabe ler este Sobrescrito sobre o tema? Arrisco dizer que Murakami soa a aposta furada. Li algum tempo atrás um chute do “Los Angeles Times” que, por algum motivo, tem me voltado à cabeça: o nigeriano Chinua Achebe (foto).

O autor de “O mundo se despedaça” é um escritor de grande prestígio, tem o tipo de visão de mundo politizada que a Academia valoriza e seria o primeiro negro a levar o prêmio desde Toni Morrison, em 1993. Na Ladbrokes, está em 25º lugar. Contra ele trabalha o fato de a Nigéria já ter sido premiada com Wole Soyinka em 1986. Seja como for, chute por chute…

9 Comentários

  • Marcelo ac 10/10/2012em19:12

    Amós Oz

  • dbottmann 10/10/2012em20:08

    “Arrisco dizer que Murakami soa a aposta furada”: concordo.
    meu palpite vai para amós oz.

  • Fabio Negro 10/10/2012em20:30

    Javier Marías

    favor entregar meu prêmio em casa

  • Rafael Cesar 10/10/2012em20:42

    MIA COUTO, muito a contragosto.

  • Raul Cézar 10/10/2012em23:46

    Amós Oz

  • G.MED 10/10/2012em23:55

    Paulo Coelho…investimento=1:1000000000³

  • mdv 11/10/2012em01:13

    Desta vez dá Roth. Javier Marías tb, mas a seu tempo.

  • Pedro. 11/10/2012em09:07

    MO Yan ganhou

  • Getúlio 12/10/2012em22:57

    Quando será a vez de Umberto?