Clique para visitar a página do escritor.

O gato corteja o mico

07/04/2007

Um dos mitos preferidos da grande indústria editorial é o do “próximo”. Nos últimos anos, andou na moda procurar o próximo “Harry Potter”, depois o próximo “Código da Vinci”. Agora parece ser a vez do próximo “Marley e eu”, best-seller canino que foi a grande surpresa do ano passado. É curioso observar que as temporadas de caça ao próximo não costumam render nada além de cópias pálidas – pálidas inclusive nas vendas – mas isso não revoga a corrida. Salvo os que seguem fórmulas estabelecidas como as dos livros de espionagem ou de tribunal, os verdadeiros fenômenos comerciais geralmente se afirmam a partir de um núcleo original e imprevisível, não como “próximos” de alguma linhagem. Mas quem se importa? O mito é mais forte.

Só ele explica que um leilão pelos direitos de publicação da história de Dewey, um gato vadio adotado como mascote de uma biblioteca no interior do estado americano de Iowa, tenha terminado quando a Grand Central Publishing descarregou na mesa um caminhão com 1,25 milhão de dólares – notícia completa, em inglês, aqui. A justificativa do comprador: acredita ter encontrado “o próximo Marley”. Feita com base num projeto de poucas dezenas de páginas e dez fotos do bichano (o livro em si ainda nem existe), a oferta deixou queixos caídos até num mercado acostumado com grana alta e clima especulativo de Bolsa de Valores.

Ressalvada a possibilidade de quebrar a cara em mil pedacinhos, de resto nunca descartável, o blogueiro acha que a indústria editorial encontrou, sim, seu próximo bicho – um mico dos grandes.

10 Comentários

  • Breno Kümmel 07/04/2007em14:56

    Muitos dos nossos críticos parecem sofrer desse mesmo mal. Vivem procurando o próximo Machado de Assis, ou o próximo Guimarães rosa ou Clarice Lispector…

  • Noga Lubicz Sklar 07/04/2007em16:03

    lavoratori! aqui, ó. (uma banana de Macelo Mastroianni, apud Fellini em La Dolce Vita) ou, para os íntimos… comida pra mico. o mercado que se dane e já está bom.

  • Renato Parada 07/04/2007em17:25

    Li o proposal do livro e fiquei de cara ao saber que ele foi vendido lá fora por mais de um milhão de dólares. As editoras do bananão já estão de olho também. Tudo isso para um proposal de 45 páginas bem desinteressante, ou seja, um livro que ainda nem foi escrito. Acho que vai ser um mico dos grandes também. E antes da última capa da Veja, tinha lá minhas dúvidas do sucesso do “The Secret” no país. Agora não mais.

  • Cezar Santos 07/04/2007em20:03

    Sérgio,
    É a loucura do “mercado”, esse ser estranho e indefinivel.
    Mas a própria história dessa venda de um livro que ainda não existe já é um dente da engrenagem do marketing começando a rodar…
    Quando a mídia em geral, incluindo os blogueiros (vc é um entre centenas em vários países…), repercute a coisa já está dando condições para que esse produto ai se torne conhecido e, quem sabe, não mique ou até estoure e seja umtremendo sucesso.
    Esse tal mercado se move de “n” formas…

  • ALFREDO GARCIA 07/04/2007em20:46

    Enquanto isso eu estou penando atrás de editoras que publiquem meu livro de crônicas BARNEY, EU E OUTROS BICHOS, onde narro histórias (algumas) caninas entre outras coisas. ALGUÉM ME INDICA PARA UMA BRASILEIRA?

  • Mr. Ghost(WRITER) 08/04/2007em02:15

    Deixei meu retiro de leituras da páscoa para dar minha contribuição na forma de comentário: Risível…

  • João Paulo 08/04/2007em06:58

    Um jogo pesado mesmo. Principalmente levando-se em consideração que a menos de tres anos, Marley e eu levou apenas 200.000 dólares de adiantamento. É confiar muito nos apreciadores de animais.

  • Sérgio Rodrigues 08/04/2007em10:47

    Cezar, muito obrigado por me abrir os olhos para meu papel de inocente útil no diabólico esquema do mercado. Um único reparo: uma notícia como essa, com a superexposição precoce que gera, não costuma ser ingrediente de histórias de sucesso, pelo contrário. Veremos.

  • Cláudio Soares 08/04/2007em19:46

    Cezar e Sérgio: não tenho a mínima dúvida de que em breve estará nas gôndolas (melhor, nos “bolos de noiva”) das livrarias brasileiras. Querem apostar? Saiu no NYT? (Não importa o assunto) Vai ser publicado no Brasil…

  • joao gomes 09/04/2007em11:37

    Autor está em busca de agente literário para vender “Harley & Eu” história de um papagaio e seu amo, barqueiro de Mamirauá, Amazonas, Brasil.
    Contatos aqui! Tocar tabor depois da chuva da tarde.