Antes que acabe maio, mês de aniversário do Todoprosa, faça-se o registro: este espaço de discussão de literatura acaba de completar cinco anos. Desde sua estreia no extinto site “NoMínimo”, no início de maio de 2006, foram 1.253 posts, todos ainda acessíveis, e um número de comentários arquivados – 24.312 – que deveria ser maior, não fosse a perda de memória de seis ou sete meses ocorrida numa das migrações de servidor, em 2008.
Muita coisa mudou em cinco anos na paisagem da blogosfera literária. As caixas de comentários, por exemplo, que chegaram a ser transformadas pela turma da literatura em salas de chat animadas – e muitas vezes até perigosas, com garrafas e ferros de passar riscando o ar – perderam importância com a ascensão das redes sociais. Hoje a repercussão de um post é medida muito mais por meio do Twitter e do Facebook.
Mas a mudança mais significativa se deu no próprio formato: blogs que, como este, baseiam seu cardápio em informação e num tipo de opinião mais analítica que idiossincrática eram raridade em 2006. De lá para cá, o processo que talvez se possa chamar de profissionalização – embora ainda inclua franco-atiradores de comovente amadorismo – tornou hegemônico o modelo todoprosista, dando um ar de coisa datada ao pitaquismo radical (“Machado sucks!”) e aos próprios espaços autorais que funcionavam como plataforma de lançamento de escritores na primeira metade da última década.
Essas e outras questões estiveram em debate na semana passada em São Paulo, num encontro promovido pela Companhia das Letras para comemorar o primeiro aniversário de seu próprio blog – que, aliás, é uma das provas mais eloquentes de amadurecimento do meio. A conversa foi mediada por André Conti, editor da casa, e além de mim envolveu Raquel Cozer, titular do blog A biblioteca de Raquel e repórter do “Estadão”, e Flávio Moura, editor do blog do Instituto Moreira Salles.
Falar para uma plateia em que havia representantes de vários blogs de literatura – Casmurros, Meia Palavra e Arlequinal foram alguns dos que se identificaram, além da prata da casa, de Luiz Schwarcz a Michel Laub – teve, confesso, um certo sabor de momento histórico. Com o empurrão decisivo dos blogs, profissionais ou não, acredito que já se possa afirmar que a internet cumpriu aquilo que em 2006 não passava de uma vaga promessa: tornar-se o principal espaço público de discussão de literatura, difusão de livros e formação de novos leitores, superando a imprensa tradicional e as revistas acadêmicas – que, naturalmente, não são bestas e também abriram suas biroscas no mercadão virtual.
O vídeo do debate pode ser acompanhado aqui.
E agora chega de balanço. O próximo fica agendado para 2016.
3 Comentários
Parabéns pela meia década. Que o assunto não se esgote, e os posts continuem interessantes como sempre!
Comecei aqui há uns dois anos, eu acho, e apesar de raramente comentar, leio todos os posts — os do Sobre Palavras, também.
Como estudo economia e não consigo manter um ritmo de leitura desejado, meu alento é anotar as referências, comprar um ou outro livro pras férias, e o teu blog me ajuda muito. Dentre a minha lista de favoritos, é o top.
Valeu!
Stefano e Regina, obrigado. O assunto é inesgotável, ainda bem. Vamos à década cheia! Abraços.