Entrevistando Luis Fernando Verissimo ao lado de Valéria Lamego num dos encontros do Circuito Cultural Banco do Brasil, quarta-feira à noite, no belo centro de artes Dragão do Mar, em Fortaleza, arranquei do homem um pequeno furo de reportagem que, tendo escapado ao faro da imprensa cearense, destaco aqui para que não se perca: aos 71 anos, com três milhões de exemplares vendidos de meia centena de títulos, Verissimo está escrevendo seu primeiro romance espontâneo.
Convém explicar: até hoje, o maior cronista brasileiro vivo lançou cinco narrativas longas, entre a novela e o romance. O primeiro desses livros – e para mim o melhor – é “O jardim do diabo”, de 1988, comentado aqui no blog. O último, “A décima segunda noite”, do ano passado – idem. A faixa de qualidade desses exercícios, todos com um pé na literatura policial e o outro num certo jogo intertextual brincalhão, vai do brilhante ao no mínimo divertido. Mas todos nasceram de encomendas – o primeiro da agência de publicidade MPM, os demais de editoras. É a primeira vez que Verissimo se dedica ao gênero sem ser, digamos, coagido. Para quem costuma dizer que não é bem um escritor, que prefere desenhar e tocar saxofone, trata-se de um grande passo.
Verissimo adianta as linhas gerais do projeto: “O livro tem o título provisório de ‘Espiões’ e conta a história de um sujeito que trabalha numa editora e recebe um original excelente de uma mulher misteriosa que vive no interior. Para descobrir quem é a autora, ele despacha espiões para a cidadezinha. É uma homenagem ao John le Carré, um autor de quem eu gosto muito”.
14 Comentários
John le Carré é um autor que eu também gosto muito…
Eu tenho a vaga lembrança de ter comprado um livro do Le Carré na adolescência, mas não me lembro do enredo e nem sequer de tê-lo lido…
Ou será que foi Louis L’amour?
Pra ver como são as coisas, como é essa questão de gosto: os tais romances do Veríssimo pra mim são pura perda de tempo, chegam à beira do ridículo de tão ruins. Falo pela experiência de ter lido aquele do orogotango e um outro de um gourmet ou gourmand, acho que o título é “O banquete com os deuses”, nem me lembro direito. As coisa são bem escritas, é verdade, afinal Veríssimo tem cultura, já leu praticametne “tudo”, sabe escrever, etc. Mas seus livros foram da crônica não me convencem nem um tiquinho.
Agora, como cronista o cara é fera, não resta dúvida. Mesmo quando se arrisca em croniquetas políticas (o que agora faz muito pouco, que ele não é bobo), em que não consegue disfarçar o constrangimento de ver o partido que ele tanto defendia metido na maior roubalheira e patifaria política que se viu (se vê) na história deste País.
Mas Veríssimo é um escritor full time, profissional até a raiz do cabelo, e merece a riqueza que seus livros lhe proporcionam. Abençoado seja!
rsss…”orangotango”, por supuesto…
Sérgio,
o que mais me incomoda nos romances do Veríssimo é que o tom de pastiche é por demais explícito. Pastiche pode funcionar eventualmente, mas como método permanente e sistemático é barra.
Espero que esse novo trabalho fuja disso. E com certeza vou lê-lo, em crédito à sua recomendação.
rêrê, como a mudança de foco pode ser debochada crítica, a mais de um alvo direis.
e tendo a achar que cezar santos acertou o alvo, sem ter lido mais que um romance desse veríssimo.
e o outro, de quem acho que li quase tudo no colégio, gosto e acho um bom romancista. o clã não é exatamente de jabutis.
do outro
Eu não leio mais esse cara…petista demais.
LFV escreve bem, domina as formas leves da crônica e do texto de humor, com conteúdo. Aliás, monta os melhores diálogos que já li, com um senso de ritmo formidável, muito mais fluentes que o aclamado Luiz Vilela.
Mas os romances, de fato, insistem em apoiar-se na paródia, na clonagem literária, na “recriação” em forma de homenagem. Procedimento moderno, e já desgastado pelo excesso de uso. Gostei dos orangotangos à la Borges, primeiro que li, e fui notando a repetição do método até o quase insuportável papagaio shakespeareano.
Sei que é difícil inventar formas novas, mas o anúncio de “uma homenagem a Le Carré” faz supor outra diabólica mimetização. Nosso Zelig literário criou um estilo de humor, é certo, que vaza através de crônicas, roteiros e até, vá lá, poesia. Mas os romances são, até aqui, menores.
O Verissimo tem uma coisa que outros escritores brasileiros – lembrando ainda o polemico post anterior do Santanna – talvez nao tenham, que eh a leveza para contruir dialogos coloquiais ( que alias o Le Carre, e o proprio Greene, eram mestres ). Nessa brincadeira, abusa um pouco do pastiche, eh verdade, mas ele pelo menos nao tem a pretencao de ser outra coisa. Ponto pra ele, aplausos.
Agradeço muito a notícia, Sergio.
Eu amo o Veríssimo e o pai dele também. São amores diferentes, por criaturas que têm gênios diferentes. Mas, para mim, ambos são geniais. Já estou salivando de expectativa pelo novo romance.
muito bom!
Que eu saiba LFV, não é tão petista assim, pq ao menos nosso escritor ainda é de esquerda, se é que isso existe.
Sergio,
Você poderia efetuar algumas mudanças no blog. Como um cadastro para comentar, assim seria possível que quem comentasse pudesse apagar seus próprios comentários. Por exemplo, o meu último comentário, acabou sendo escrito errado.. Assim, diminuiria a neurose de ficar vendo isso aí.
rsrsrsrsrrsrsr
Abraço!